quarta-feira, 29 de julho de 2009

Epílogo III - Elisha Sayonomi

Fúteis e idiotas.
Ignorantes e superficiais.
Hipócritas e egoístas.
Mas nem assim alguns humanos deixam de ser interessantes.
Como Yuna eu morri duas vezes. Ou não.
Gatos têm nove vidas ahn? Então eu tenho mais seis se o rolo com a Chisame contar. Dane-se.
Pra ser sincera, acho que sete. Esse número sempre me cheira a Black Rose.
A perfeição.
Quando ouvi o disparo pensei que tinha morrido de vez agora, mas quando olhei o Kasuya tava com a arma apontada pro lado da minha cabeça, quase fiquei surda com o barulho. O que deu nesse cara pra mudar de idéia?
Ele mencionou uma promessa, eu tava muito dopada pra entender. Sei que o infeliz me agarrou pelo braço machucado (filho da p...) e me puxou até chegar numa janela, até me excitei quando ele me pegou pela cintura e colocou no ombro, bati nele pra enfatizar o ato sado masoquista, claro. Como se fosse adiantar, ele é um tanque de guerra.
Fomos pela saída de incêndio e o filho da mãe deve ter me acertado de novo, porque eu apaguei do nada.
Quando acordei o cara tava olhando pra mim, acho que ele gostou. Nem consegui dormir direito, já tinha amanhecido mesmo. Me levou pra floresta de novo, tive que andar até a casa já que ele não foi cavalheiro o suficiente pra me carregar no colo. Acho que já estava satisfeito ter me levado do prédio pra floresta, talvez homens adorem me pegar no colo. Não fui idiota pra tentar fugir, se ele fosse me matar, já tinha matado.
Quando chegamos, ele disse que tinha comida na geladeira, não arrisquei. O “Kasu-chan” não tem cara de estuprador, então eu esperei lá mesmo, Irene ficou dizendo pra esperar e eu esperei. Fiquei fuçando nas coisas de samuraizinho dele, quase surrupiei alguma coisa pra levar de lembrança. Eu nunca tinha visto espadas japonesas de verdade e afiadas. No fim meu tédio me fez ir falar com ele, perguntei como Erin era, a de verdade. O picolé ficou surpreso e não soube responder direito, pelo visto ele tinha menos experiência que eu no quesito “Falar com gente”, só disse que era igualzinha a Yuna, só que mais fria e quieta.
O meu celular tocou no meio do papo, até tinha esquecido que tava comigo. Pra falar verdade, foi estranho demais ver ele no meu bolso.
Era Victoria... Eu quis bater nela.

-Já saiu do prédio né?

-Não... Estou queimando lá dentro. Você previu isso?

-Talvez, onde você ta?

-Na floresta, casa dele. Continuo virgem e ele se comportando bem, mas não acho que as duas coisas durem se você vier me buscar.

-Vem pra estrada, entrada da floresta. Não liga pra ele.

Não deu pra recusar, ela desligou e foi difícil dizer não. Como esperei, ele me seguiu, até tentei despistar, mas ele conhece aquilo melhor que eu. Victoria estava mesmo esperando lá na entrada, mesmo lugar onde deixou o carro quando a gente acampou lá. Nem se surpreendeu quando viu meu amiguinho vir junto. Achei que eles iam sacar armas e começar a novelinha tudo de novo.
Vic propôs uma troca, me trocar por uma informação. Obviamente, Kasuya quis ouvir primeiro. Ela fez questão de ir falar no ouvido dele, eu garanto que ou ele tem medo dela ou não curte muito mulher...
O cara nem esperou, olhou pra minha cara e saiu de lá com pressa.
Victoria fez uma carinha ingênua e me olhou de lado, com as mãos atrás das costas. Engraçado, mesmo sabendo que a ingenuidade era uma farsa, eu ainda me perco quando ela faz essas coisas. Acabei deixando o impulso me fazer segurar a fracote pela jaqueta, eu queria bater nela de verdade por me fazer passar por tudo isso, mas não deu.

-Não me pega assim Elisha, já disse que fico excitada.

Claro, ela sempre fica excitada comigo... Me sinto uma Sex Symbol.
O que fizemos depois? Não é da sua conta... Odeio momentos melosos.
Mas o mais bonitinho foi ela me levando pelo braço (não machucado) pro carro, pegamos estrada e rodamos até escurecer. Pra bem longe de Sleepy Hill.
Perguntei sobre Jin, Emily e Morrigan... Ela respondeu que era melhor eu esquecer a professora e o gato, e Jin tinha entendido e a deixado ir. Tive um mau pressentimento, quis falar com ele. Dizer que estou bem.
Victoria não iria voltar se eu pedisse.
Vou sentir falta daquela felina sem graça... Mais do que de Jin e Emily.
Atravessamos o país naquele carro... Nesses dias tudo foi tão esquisito, como se aquela porcaria de mundo pertencesse a ela. Como se eu pertencesse àquela louca, mais uma vez. Sabe, uma das coisas que eu sempre quis foi viajar com alguém que eu gostava assim. Comer só porcarias e dormir em motéis de beira de estrada, sem rumo algum. Surpreendente vindo de mim? Pois é.
Victoria não me contou nada sobre Yuna ou pra onde estávamos indo, disse pra mim esquecer tudo e pensar só nela por enquanto. Não foi difícil, até porque dormir sob o mesmo teto que ela sempre fosse perigoso.
Me lembro da segunda noite, num desses hotéis de estrada, o frio tava adorável e ela dormiu rápido demais. Fiquei acordada um tempo, Victoria tinha deixado escapar que íamos pegar um avião pra algum lugar, imaginei pra onde...
Deitei imaginando isso, nunca tinha viajado de avião. Já ela... Eu devia ter desconfiado porque ela pediu uma maldita cama de casal.
Me arrepiei quando senti a respiração dela na minha nuca, o meu coração então... Parecia que ia parar na medida em que ela foi levando as mãos pela minha barriga e beijava meu ombro, aquele perfume ainda ajudou a me atordoar. Tenho que parar de dormir de roupa curta imediatamente.

-Achou mesmo que eu ia te deixar escapar agora?

Victoria riu daquilo, mas eu achei que ela tinha demorado pra tentar algo. Se eu deixei ela continuar? Não interessa. Isso não é conto erótico.
No terceiro dia foi exatamente a mesma porcaria. Esse era o estilo de vida dela?

-Não, no momento tenho um brinquedo pra me divertir.

Brinquedo ahn? Deixei ela falar o que quisesse. Senti algo diferente em mim a partir daí, mas não sei dizer o que. Me sentia ridícula, como se andasse nua por ai e nem ligasse. Me acostumei com Vic a tal ponto que até trocávamos de roupa uma na frente da outra e sem constrangimento (Ela nunca teve vergonha mesmo), só complicava quando ela tentava me agarrar.
E eu que considerava esse comportamento coisa de vadia.
Ooh... Eu virei uma vadia também!?
Não, acho que deve ser o que chamam de amar.
Bah... Risível.

Nunca me imaginei “amando”.
Nunca me imaginei “estando” com alguém como era com Victoria.
Nunca imaginei que iria sentir falta da Yuna ou Erin a ponto de me deprimir.
E Victoria percebeu, sempre lia minha mente... Achei que ela fosse reagir mal, mas só piscava pra mim ou ria. Engraçado, eu e Yuna acabamos mesmo como brinquedos dessa nossa “dona”. Mas poderia existir alguém que conseguisse ser a dona da Victoria?
Entendi um pouco da alma dela, no fundo aquela louca era ainda mais solitária que eu e ainda não tinha encontrado algo que fosse só dela nesse mundo... E eu? Acho que eu havia encontrado o que era meu.
O que Vic diria se soubesse o que eu percebi... Se soubesse que no fundo eu estava bem movida pela Yuna?
Ela me levou até um avião particular, isso me cheirou a Luise, sabia que ela tava metida nesse plano da Victoria.
Acho que o destino dessa viagem foi a América do Sul, vou descobrir depois. A doida dormiu que nem um anjinho no meu ombro, acabei cochilando também. Quem nos acordou foi a própria Luise.
Acertei de novo. Irene tava menos falante ultimamente, eu sentia ela agindo mais diretamente na minha personalidade. Não sei dizer como notei isso.
Victoria me vendou, xinguei ela, mas entrei no jogo. Andamos de mão dadas por ai por um bom tempo, nunca tropecei tanto nas coisas. Daí ela tirou a venda dos meus olhos e falou algo no meu ouvido:

-Surpresa...

O que eu vi? Yuna distraída, sentada na beira de um lago, como era antes de morrer... Com os pés na água, cabelo balançando com o vento, não sabia se eu tinha morrido ou se tava sonhando... Não soube o que dizer quando ela virou e me viu. Engoli seco, eu queria muito dizer algo, mas minha voz me deixou na mão.
Me senti muito emotiva quando ela correu pra me abraçar, tanto que pareceu ridículo, acho que ficamos nisso uns trinta minutos. Eu não queria mais soltar ela, por mais que seja esquisito admitir isso.

-Ei... Dessa vez é você mesma?

Só consegui dizer isso e ela respondeu acenando com a cabeça um monte de vezes, entre chorar ou rir, eu escolhi ficar sem graça e ela chorou rindo... Odeio demais cenas melosas. Bem, Victoria cuidou disso.
Beliscou nossas bundas e cortou o clima, nem sei de quem ela sentiu mais ciúmes.
Da Yuna eu acho.
Victoria cumpriu com o que falou, conseguiu fazer tudo dar certo no ultimo minuto. Olhar pra ela me faz acreditar que ela sabia de tudo que ia acontecer, desde o dia em que eu “convidei” ela pra me visitar por um chat de internet.
Eu sempre conseguia prever muita coisa, minha intuição sempre acertava na mosca, mas em relação a ela... Eu nunca consegui adivinhar o que ela pensava. O que se passava pela mente sem noção daquela guria.
Os três próximos dias foram os melhores da minha vida, os que eu nunca ia esquecer. Passamos eles juntas naquela casa da Luise, eu detestava casas de campo.
Victoria me fez nadar numa piscina depois de anos sem nadar em lugar nenhum, odiava nadar antigamente só porque precisava me despir pra isso. Acho que sentia vergonha do meu corpo. Yuna parecia não ficar tímida seminua se fosse pra nadar, nem comento sobre a outra... Vic e Yuna se divertiram bastante, pareciam ser um “casalzinho” perfeito, até ri quando Victoria arrancou a parte de cima do biquíni da Yuna e chantageou pra devolver, fez ela dançar aquele treco esquisito, “Para-para” na nossa frente. Só que eu me senti bem deslocada observando as duas, pelo menos eu me agradava só olhando. Talvez eu devesse me comportar de um jeito mais infantil e ir brincar com elas, mesmo não fazendo meu estilo.
Mais tarde inventaram de jogar videogames. Eu já tinha enjoado disso faz tempo, mas com elas eu até que abri uma exceção. A surpresa é que nós três somos boas nisso, os tempos estão mudando viu... Antes garotas eram uma negação em jogos eletrônicos ou nem se interessavam.
Começamos pelos jogos de esporte, Yuna praticamente acabava com a gente. Nos rpgs o show foi meu, gênero preferido. Já nos de luta ou tiro a competição foi entre Vic e eu, nos de terror Vic parecia a criadora de todos eles, sabia exatamente o que fazer só na intuição. Era a cara dela mesmo, nesse gênero eu costumo ficar perambulando pelo mapa procurando os caminhos certos.
Perdemos a noção do tempo, eu durei mais ali, fiquei jogando aquela ultima versão daquele jogo de zumbis, o gráfico é ótimo. Por outro lado, eu nunca joguei naquele console, acabou de ser lançado.
Vantagens de andar com bruxas patricinhas...
E lá estavam as duas, dormindo no colchão que a Luise mandou colocar pra gente na sala onde a televisão era maior. Comecei a me sentir uma otária com aquele videogame, deslocada de novo, queria deitar no colchão com elas... Mas achei melhor não.
Não tava afim de bancar a intrometida no clima delas.
Continuei com o meu joguinho.

No meio da madrugada Yuna me deu um puta susto quando veio deitar nas minhas pernas, ficou com a cara no meio dos meus braços e do joystick sem fio. Foi a primeira vez que os olhos azuis dela me deixaram tão boba, ficou olhando pra mim com um sorriso no rosto, fazendo perguntas bestas sobre o jogo. Eu morria de cinco em cinco minutos por causa disso, não conseguia prestar atenção na tela de jeito nenhum, até tive vontade de... Deixa pra lá.
Essa menina era pura demais pra ser tocada.
Ela dormiu no meu colo, cena fofinha... Dormi também pra não atrapalhar ela.
Acordei cedo no dia seguinte, nunca consigo dormir bem na casa dos outros. Sai pra andar e vi Victoria sozinha no jardim, ela me notou lá.

-Feliz?

-Acho que sim. – Sem o “acho” não seria eu ali.

-Tá me devendo então.

-Como quer que eu pague? – Tá, eu fui oferecida. A gente fica assim quando ta caída por uma pervertida sem escrúpulos...

-Quer mesmo saber? – Ela deu um sorrisinho e veio segurar meu queixo, sem condições de não ficar sem jeito – Já beijou a Yuna?

-Claro que não! Eu não ia conseguir, não sou tão cara de pau que nem você.

-Oras... Você já tentou me beijar. – Fiquei quieta, tinha feito aquilo mesmo. Dava vontade de bater a cabeça na parede até agora, mas com ela era diferente. Ficou tão comum rolar beijos entre a gente que... Ah, esquece. – Se for falta de pratica a gente resolve... – Foi só pensar, Victoria deve ser telepata. O beijo que ela lascou em mim foi tão... Não sei dizer. Foi o “melhor”, o mais intenso que ela já tinha me dado. Fiquei até tonta depois, minhas pernas ficaram bambas. Ah, mas ela não fez isso a toa.

Victoria notou que Yuna tava acordada esfregando os olhos ali na porta, olhando a gente. Eu só fui perceber quando a cara de sono dela ficou branca. Até achei que ela ia cair morta no chão, de novo.
Aquela maníaca desgraçada caiu na risada, nunca vi ela rir tanto. E eu fiquei confusa, na hora não sabia pra quem olhar. Tentei explicar pra Yuna, mas nem tinha como... Me enrolei toda. Obviamente ela tirou a idéia errada.

-E-eu não sabia que vocês eram...

-Relaxa lindinha. Nós só temos um caso, nada sério.

Foi o que Vic explicou depois que parou de rir, eu me senti estranha nessa hora. Quando ela disse “nada sério”.
Por um lado eu fiquei aliviada, porque ainda tinha chances com a Yuna, mas por outro... Aquele velho aperto no peito. Acho que eu queria que fosse “algo sério”.
Mas não dava pra escolher uma das duas.
O almoço foi ótimo, Victoria ficou passando o pé nas pernas da Yuna por baixo da mesa, na cara da Luise. A guria engasgava de quatro em quatro segundos, não deu pra segurar a risada.
Nesse dia a gente ficou conversando e vendo uns filmes chatos, depois fomos pra uma cidade próxima, é sempre divertido passear com a Victoria. Você se sente acima de tudo e todos, até quando o idioma é desconhecido.
Cara, ela sabe falar espanhol. Pode isso?
Compramos umas coisas, tomamos sorvete (Vic fez questão) e fomos numa pizzaria, como garotas normais fazem. Nessa conversa de dia inteiro descobri a maioria dos segredos delas, acho que todos alias. Já o meu único, que é Irene, eu nem mencionei.
Yuna gosta de musicais da Disney e Vic nunca tinha feito “aquilo” antes... Me enganou direitinho mais uma vez.
Nunca imaginei que alguém como ela fosse virgem, nem engoli essa historia, era muito mais bizarra que Yuna ouvindo musical da Disney.
É que ela faz as coisas como se fosse expert, então fica muito difícil de acreditar. Mas isso não é assunto seu também.
Deve ser sorte de principiante.
Victoria é do tipo que tem muita sorte.

No outro dia achei que ela tava estranha, tentando me fazer ficar “intima” da Yuna de qualquer jeito. Pra mim ficou obvio, mas Yuna nem se tocou.
Ouvi Victoria falar em particular com Luise. Dizia que a única forma de Anita não usar nem eu e nem Yuna contra ela era estarmos mortas.
Nós tivemos que “morrer” pra ficar fora da guerrinha delas.
Jin foi uma mera testemunha...
E Luise era a cúmplice.
Tudo fez sentido então... Nós estávamos com Luise por proteção, ela ia nos manter escondidas bem debaixo do nariz da Black Rose. Mas se quer saber, pra estarmos protegidas totalmente achei que Luise não ia poder ficar por perto.
E muito menos Victoria... Eu não quis estar certa.

“Se eu quiser acabar com ela, não posso errar.
Porque ela nunca erra.”

O plano de Vic ficou claro pra mim, só não quis aceitar alguns detalhes.
Bingo. Mais tarde ouvi Luise conversar com um cara esquisitão, latino de certo, que ela deixaria eu e Yuna sob as “asas” dele, já que ela não podia contrariar a tal da Anita Sullivan. Provavelmente nós íamos sair de lá, pra Luise não saber de fato onde estávamos caso fosse interrogada.
No fim da noite Victoria me achou dando uma de enxerida nas conversas da casa e disse que Yuna dormiu e que ia aproveitar pra me dar outra surpresa, acabei vendada de novo. Ela me levou pra um lugar escuro, foi inevitável não pensar em besteira, principalmente depois que ela cochichou um “Deixa rolar...” no meu ouvido. Sinceramente, eu não resistia mais a ela, só ia cortar o clima caso ela se empolgasse demais.
No começo não notei nada esquisito no beijo, mas tava diferente no “gosto”. Eu conhecia o beijo da Victoria e aquele estava muito menos ousado... Era mais doce.
Como eu fui idiota de cair nessa...
Aquela pirada me enganou de novo.
Sempre achei a historia de vendar os outros ridícula e não sei o que pensar quando notei que era Yuna ali. Obviamente eu tirei a venda e fiquei sem graça. O que me assustou é que ela tava sem venda alguma, tava me enxergando desde o começo. Daí olhou pra baixo toda vermelha.

-Me desculpa... Eu...

-Você se desculpa demais... – Eu me senti muito esquisita na hora, e Yuna me beijou de novo... Nunca imaginei que ela faria isso. Essa guria é muito mais corajosa que eu.

Bem, não to reclamando. Acho que eu quis que ela me beijasse mais uma vez.
E esse foi ainda mais doce... Eu sei o porque, ele foi cheio de sentimentos. Yuna era cheia de sentimentos... Até mais do que devia.
Mas era sincera com o que sentia.
Algo que eu mesma não sabia ser. Foi diferente demais de Vic, causou algo meio inédito em mim. E quando a gente deu um pause, eu ri baixo.
Não dela ou da situação, foi de mim. Yuna ficou tão feliz quando viu, acho que ela quis até chorar. Ela chora tanto que daqui a pouco ta pintando o cabelo e usando franjinha...
Tá certo que eu nunca ri assim na frente dela, mas também não é pra tanto.

-Não tão transando ainda? – Foi Victoria que tava ouvindo atrás da porta, Yuna paralisou e eu xinguei.

Estranhamente Vic e Yuna pareceram satisfeitas com o que houve, eu tive certeza que elas armaram essa. Já eu... Insegura e pensando na Victoria. Não que eu a preferisse, não sei escolher uma delas ainda. Mas eu sentia que ela ia fazer algo errado.
Yuna dormiu cedo e eu procurei Vic, estava na varanda observando a lua nova. Bruxas ficam realmente mil vezes mais bonitas à luz da lua...

-Precisa pedir ela em namoro logo. A bobinha ta esperando isso há anos. – Não olhou pra minha cara pra falar isso.

-Namoro entre meninas ainda soa estranho pra mim.

-E você diz isso agora? Dá um tempo vai! – Ela riu.

-Por que você ta fazendo isso? Tentando unir nós duas?

-Não é isso que você quer?

-É... Mas... Eu não sei dizer. – Vic sacou que eu tava pensando nela, daí sim se virou pra mim, apoiando naquele balaustre de madeira e sorrindo. – Obrigada Elisha... Eu nem acreditava que alguém era capaz de se apaixonar por mim de uma forma tão meiguinha assim. Você foi a primeira. Mas sabe... Eu não quero mais machucar você ou a Yuna. – Vic voltou a olhar pra lua, falando de um jeito esquisito até pra ela – Ela ama você de verdade. Nem eu consegui fazer ela te esquecer. E agora que o fim desse jogo chegou, o final feliz tem que ser de vocês duas.

-E você, que final vai escolher? Eu sei que é fissurada pela Yuna.

-Eu? – Ela riu mais uma vez, se fosse só pra olhar, parecia que nem ligava mesmo – Como diz o Kasu-chan, eu sou um demônio. Demônios não amam.

Era mentira. Impossível que não sentisse nada... Eu sei que por trás do sarcasmo ela não estava tão bem. Por quê? Eu também sou assim.
Não disse nada. Ainda não sei o motivo pelo qual minha boca não se abriu lá.

-Nah... Vem, vamos dormir.

Deixei ela me levar pelas mãos até o quarto que a Luise separou pra mim. Mas eu não queria me separar de Victoria ainda.

-Você... Vai dormir aqui também? Comigo?

-Hmmm... Não. – Ela nunca ia recusar antes. Porque eu me sentia tão mal com isso?

– A loira ta ficando com raiva. É melhor eu manter minhas mãozinhas no travesseiro, por enquanto. – Piscou pra mim, daquele jeitinho pervertido. E me beijou no rosto, saindo correndo pelo corredor.

Entrei no quarto, mas não consegui dormir. Quando o sono quase veio, eu tive a impressão de ouvir o motor do carro dela, joguei a coberta no chão desesperada e corri... Corri tão rápido... Como nunca tinha feito antes. Perseguindo algo que estava fugindo de mim, algo que eu não queria perder.
Tinha sido só impressão, ou não.
O carro dela nem tinha vindo com a gente e eu fiquei sem fôlego lá fora, só de pijama. Tinha um carro de Luise ali, aberto e com chaves no contato. Preparado pra sair.

-Você adora complicar as coisas pra mim hein... – Ouvir a voz de Victoria naquele lugar me destruiu por dentro. Eu tinha acertado...

-Vai ir embora assim? Escondida?

-Odeio me despedir, igual toda heroína “cool”. –
Ela não esperava topar comigo ali.

Fiquei quieta como uma idiota, pensando que ela podia ficar. Eu sabia que ela não podia, senão tudo o que ela fez ia ser em vão. Mas eu não podia aceitar... Porque isso justo agora que tudo estava tão bem?

-Qual é... Eu te dei minha boneca mais preciosa.

-Pois eu não vou aceitar o presente. Eu vou com você...

-Não vai não... – Eu odiei aqueles olhos verdes... Aquele maldito olhar. Não consegui contrariá-los, por mais que eu quisesse – Você precisa ficar e cuidar dela pra mim.

-Você volta? – Não posso negar que ela estava certa, seria injusto deixar Yuna sozinha. E ainda quando nós finalmente estávamos juntas.

-Vai depender da Anita, mas eu dou meu jeito.

-Quem diria... – É, meus olhos tavam lacrimejando – Você dando de boazinha.

-Boazinha é? – Vic tava com a cara amassada, mas isso não a impediu de me puxar pela blusa e me beijar uma ultima vez. De um jeito brusco... Quente... Sem perceber eu me viciei nesse beijo venenoso, ele ia deixar vestígios profundos em mim. Eu sempre soube disso desde a primeira vez... – Lembra da gargantilha que te dei? Ela significa que você também me pertence, assim como a Yuna.

-E quanto a que você usa? A quem você pertence? –
Nem sabia o que eu estava falando... Só queria olhar pro rosto dela sem piscar uma única vez. Pra guardar todos os traços perfeitos dele, pra me certificar de que nunca ia esquecer.

-A uma pessoa que eu odeio... Eu também sou uma gatinha preta e arisca, Elisha. Mas ainda sou domesticada. O jogo pode ter acabado pra você, mas pra mim ele continua. Vai continuar até eu acabar com a pessoa que me colocou nessa prisão.

-Por que ela não pode te deixar em paz?


-Porque ela me ama... E é assim que nós duas amamos. Aprisionando as nossas flores mais bonitas num jardinzinho sem graça só nosso, longe de todo mundo... Sufocando e matando elas com os nossos próprios espinhos. –
Mostrou a língua pra mim como costumava fazer, também uma ultima vez – Aproveita o que eu te dei tá? Ao máximo.

Eu nunca tinha parado pra pensar no estrago que ela fez na minha vida até então, Victoria tinha me dado muito mais do que dizia no fim das contas. Bizarramente eu me lembrei das palavras da professora na formatura. Eu tinha duvidado tanto da Victoria...
É como dizem, você só entende o verdadeiro valor das pessoas quando está prestes a perdê-las. Foi assim com Yuna, foi assim com Victoria... Se eu soubesse de tudo que ia acontecer, eu teria agarrado ela na mesma hora em que ela perguntou se eu era a Elisha Sayonomi enquanto abaixava os óculos escuros, pra nunca mais soltar.
Vic foi pro carro sem olhar pra trás.
E eu? Esfreguei os olhos pra poder falar algo, mesmo com a voz arranhada pelas porcarias que eu chamo de sentimentos. Eu já tinha ficado calada por toda minha vida mesmo... Já era hora de falar.

-Victoria...

-Oi? – Dessa vez ela olhou pra trás.

-Se você não voltar eu vou te caçar até o inferno se for preciso... E te matar quantas vezes necessário pra me acalmar, entendeu?

-Promete? – Ela soltou outra risada – A propósito, você ficou de me dizer algo quando estava no celular prestes a explodir.

-Só vou falar quando te ver de novo.


-Chata... Sou eu quem chantageia aqui. –
Torceu o nariz como uma criança – O sol vai nascer daqui a umas horas, melhor eu ir.

-Devia se despedir dela...

-Esquece... Ela não ia entender. E eu já roubei um beijo dela agora pouco enquanto dormia mesmo.

-Que? –
Senti uma veia saltar, estava com ciúmes da Yuna?! Heh... Victoria disfarçou descaradamente e entrou no carro cantarolando uma música:

♪ “When you're naked in the shower
When you're sleeping for an hour
When you're big, when you're small
Oh, I wish I was a fly on the wall”

E por mais que minha alma gritasse e chorasse pra mim não deixar Victoria ir, por mais que me implorasse dizendo que eu precisava dela... Que eu amo ela...
Eu fiquei observando ela escapar do alcance dos meus braços.
Ir pra longe da minha boca. Pra onde meus olhos não podem mais enxergá-la. Onde eu não podia mais tocá-la ou ficar sem graça quando ela fazia algo louco.
Essa foi nossa despedida.
O nosso “adeus”.
Ou o nosso “até logo”.

Nos dias seguintes eu fingi estar bem pra ser forte pela Yuna. Mas em segredo eu ficava pendurada na janela olhando pra lua, imaginando onde aquela louca estaria. Se também estava olhando pra lua em algum lugar por aí.
Me peguei caminhando sozinha até sorveterias ou praças, onde nós fomos durante os dias em que passamos juntas, passei noites em claro na frente do computador olhando pra tela, só pra ver se ela aparecia naquele chat.
E quanto mais eu a perseguia, mais eu me convencia que tudo não passou de um sonho bom... Que nunca mais ia se repetir.
Enfim, o dia que Luise ia voltar pra América do Norte chegou, eu e Yuna pegamos outro vôo pra algum lugar. Não me dei ao trabalho de deduzir pra onde, não importava. Quem sabe fosse pra mais perto dela, ou pra mais longe...
Quando eu deixei de esconder o que estava sentindo, Yuna me disse pra chorar. Só assim eu ia conseguir superar. Mas eu não chorei... Não sabia mais como chorar.

O tal latino arranjou um apartamento e empregos legais pra nós duas, podíamos até tentar vestibular esse ano. Mas meu animo pra isso não vinha, eu só queria ficar deitada olhando pro céu. Isso preocupava Yuna, eu podia sentir que ela estava ficando meio triste em me ver assim... Então era melhor parar.
Eu tinha me tornado um peso pra ela.
Era pra ser eu ali cuidando dela e não o contrario.
Eu melhorei pela Yuna... Eu queria continuar sendo alguém que ela admirasse. Mesmo achando que era por burrice que ela admirava...
Esses dias recebi um e-mail curioso de um endereço desconhecido, dizia o seguinte:

“Sorria linda!
Eu estou te vigiando.”

Tsc tsc... Victoria estava errada.
Meu jogo também não tinha terminado, ele só tava começando. E desistir agora...
Se quer saber, dane-se. Me empolguei demais a toa...
Nada disso é da sua conta.

E pra você, sua idiota... Onde quer que você esteja.
Você vai me pagar, e bem caro.
Eu sei que um dia a gente vai se reencontrar nem que seja em outra vida.
Obrigada pelo estrago que você me fez.
Eu nunca vou esquecer.

Elisha Sayonomi - End

2 comentários:

  1. Fim definitivo do volume um. Atualmente o segundo está caminhando, não pretendo parar por aqui...
    Enfim grato a quem leu e comentou. ;D

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  2. Escrevi um comentário ENOOOORMEEEE para postar aqui, mas essa porra deu pau e eu fiquei com MUITA raiva, pois eu esqueci de copiar. FUUUUUUUUUUUU!!!!!!!!!!!! Ò_____Ó

    Depois escrevo denovo e posto aqui, agora nem dá, fiquei com muita raiva mesmo. NOSSA... QUE ÓDIO...

    D.

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