sexta-feira, 31 de julho de 2009

Files: Luise Kayoshi




[Cuidado, spoilers!]


Nome:
Luise Kayoshi

Frase preferida:
"Aceita um pouco de chá ?"

Idade:
27 anos

Aniversário:
07/02

Tipo sanguíneo:
O

Signo:
Aquário

Ascendente:
Cancer

Olhos:
Azuis

Cabelo:
Loira

Altura:
1,73m

Cores:
Branco

Animais:
Aves exóticas

Comida:
Frutas e chá

Roupas:
Vestidos leves e claros

Família:
Yuna Kayoshi (filha adotiva) e Takao Kayoshi (falecido marido)

Adora:
Passear, flores e ajudar as pessoas

Odeia:
Ser surpreendida

Sobre:
Luise é a líder da família Kayoshi da Black Rose, que também recebeu o nome de "White Rose" por ser a facção mais leve e "bondosa" da seita. A familia de Luise é composta em wiccanos em maioria, o lado pacifico mestre em ervas das bruxas. A mulher por si mesma é um ótimo exemplo disso, adora casas de campo e afins, não conseguindo morar em cidades.
Luise foi casada com o líder da família Kayoshi, que era japonês. Porém ele acabou morrendo por um mero capricho de Anita (que não gosta de orientais envolvidos na sua religião), então a mulher acabou por exercer o papel que já cumpria no clã (seu marido não era dos mais competentes e respeitados na Black Rose por ser considerado um covarde, então Luise sempre foi a verdadeira líder dos Kayoshi). Após perder a sua filha também, Yuna, Luise saiu de Sleepy Hill, mudando-se pra um lugar até agora desconhecido.
Seu passado, assim como o dos demais líderes ainda não foi revelado.

Files: Chisame Kayoki





[Cuidado, spoilers!]

Nome:
Chisame Kayoki

Frase preferida:
"Não Emi-sensei ! ç_ç "

Idade:
17 anos

Aniversário:
07/03

Tipo sanguíneo:
O

Signo:
Peixes

Ascendente:
Libra

Olhos:
Azuis acinzentados

Cabelo:
Loiro esbranquiçado

Altura:
1,53m

Cores:
Amarelo

Animais:
Cachorros pequenos

Comida:
Adora coisas feitas de maracujá

Roupas:
Roupas leves, geralmente no estilo dos colegiais japoneses ou parecido. Está quase sempre usando um acessório na cabeça, como boinas, tiaras ou grampos.

Pais:
Pai (canadense) e mãe (descendente de japoneses)
Chisame seria uma prima de Jin por parte da sua mãe, que é irmã da mãe do rapaz por outro casamento. (o avô materno de ambos é diferente)

Adora:
Mousse de maracujá

Odeia:
Bebâdos

Sobre:
Chisame foi estudante do mesmo colégio de Jin e Elisha, pelo ângulo da protagonista ela era a menina mais bela da sala. A garota é fofa a extremos, porém demasiadamente estabanada e inocente. O que acaba fazendo ela depender de outras pessoas pra se virar. Depois do colégio Chisame se separou das suas amigas que saíram de Sleepy Hill, estando sozinha ela decidiu se focar nos estudos. E com a ajuda da sua ex professora e nova "irmã mais velha", Emily Locke, Chisame conseguiu passar em jornalismo na faculdade da cidade.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Files: Kaori Ayako


[Cuidado, spoilers!]

Nome:
Kaori Ayako

Frase preferida:
"Sua revolta acaba aqui homenzinho."

Idade:
27 anos

Aniversário:
13/04

Tipo sanguíneo:
A

Signo:
Aries

Ascendente:
Touro

Olhos:
Cinza

Cabelo:
Preto (Porém ela tinge de vermelho)

Altura:
1,72m

Cores:
Vermelho

Animais:
Cobras

Comida:
Portanto que seja saudável...

Roupas:
Geralmente, orientais. Prefere chinesas.

Família:
Kaori Sadako (filha adotiva)

Adora:
Seu "trabalho"

Odeia:
Desagradar a Anita

Sobre:
É a líder do clã Kaori, praticamente nada se sabe do seu passado, somente que a mulher descende de orientais e foi criada em Hong Kong. É o braço direito e guardiã de Anita Sullivan, sendo muito raro vê-las separadas. Também é a assassina mais temida e respeitada na Black Rose, obviamente ter ela no caminho só significa um destino para tal: Morte.

Files: Jin Kusanagi




[Cuidado, spoilers!]

Nome:
Jin Kusanagi

Frase preferida:
"Você não precisa fazer tudo sozinha mais..."

Idade:

17 anos

Aniversário:
14/12

Tipo sanguíneo:

A

Signo:
Sagitário

Ascendente:
Peixes

Olhos:

Castanhos

Cabelo:
Loiro

Altura:
1,78m

Cores:

Branco

Animais:

Cães

Comida:

Lanches (x-egg)

Roupas:

Não gosta de roupas chamativas, é fã de jaquetas de couro e camisas justas com jeans... Sabe-se lá o porquê.

Pais:

Mãe (japonesa) e pai (americano)

Adora:

Esportes

Odeia:

Injustiça

Sobre:
Jin era um rapaz normal e popular que chegou a se apaixonar por Elisha Sayonomi nas épocas de colégio, se envolveu no incidente do prédio Blue Sky e acabou por perder a garota nesse incêndio.
Afetado pela perda da garota e pela desumanidade de Victoria, ele decidiu iniciar carreira na polícia para descobrir o que houve por trás daquele incêndio.

Files: Anita Sullivan

[Cuidado, spoilers!]

Nome:
Anita Sullivan

Frase preferida:
"Ora ora, se não é meu pedacinho de doce amargo."

Idade:
28 anos

Aniversário:
01/08

Tipo sanguíneo:
AB

Signo:
Leão

Ascendente:
Escorpião

Olhos:
Verdes (esmeralda)

Cabelo:
Pretos

Altura:
1,70m

Cores:
Preto e vermelho escarlate

Animais:
Pantera

Comida:
Não se sabe, mas Anita é apaixonada por vinhos

Roupas:
Vestidos negros elegantes, com acessorios caros

Família:
Victoria Sullivan (filha adotiva)

Adora:
Criar, observar e manipular

Odeia:
Sujeira

Sobre:
Pouco se sabe sobre a rainha da Black Rose, o passado dela ainda não foi revelado, assim como a maioria das coisas sobre ela são ocultas. O que se sabe é que Anita talvez seja a mulher mais perigosa e poderosa existente no submundo.
Como dizem os boatos sensacionalistas da seita, ela é capaz de jogar as pessoas diretamente no inferno com um mero olhar.

Files: Emily Locke

[Cuidado, spoilers!]

Nome:
Emily Locke

Frase preferida:
"Prova surpresa pessoal !"

Idade:
29 anos

Aniversário:
02/09

Tipo sanguíneo:
O

Signo:
Virgem

Ascendente:
Leão

Olhos:
Azuis claros

Cabelo:
Castanho

Altura:
1,69m

Cores:
Azul claro

Animais:
Felinos

Comida:
Frutas cítricas

Roupas:
A professora está sempre bem vestida quando é pra sair ou em trabalho, mas não tem preferencias pra isso. Ainda adepta da moda jovem feminina, ela também gosta de roupas sensuais, mas deixa pra usar menos roupa apenas em casa. O que torna vê-la perambulando de roupas intimas ou roupão quando sozinha em casa algo nada anormal.

Família:
Yuna Kayoshi (filha perdida)

Adora:
Ajudar as pessoas

Odeia:
O passado

Sobre:
Emily teve uma infancia e juventude conturbada, violentada pelo irmão e com a familia destruida ela sofreu muito nas mãos da mãe por ter engravidado no incidente anterior ainda criança. Foi separada das suas filhas e levou uma vida errada e auto-destrutiva até a morte da sua mãe, quando ela decidiu procurar as suas filhas.
Decidida Emily saiu da sua vida anterior e renasceu, voltada pros estudos ela se formou na melhor universidade do país por bolsa e iniciou uma carreira de professora. Então por fim acabou encontrando suas filhas, porém tarde demais. Ambas estavam mortas.
Emily caiu em desgraça mais uma vez e quando prestes a desistir da vida de uma vez por todas encontrou conforto junto da sua ex aluna Chisame Kayoki e passou a viver focada no presente e no futuro, esquecendo seu passado.

Files: Irene


[Cuidado, spoilers!]

Nome:
Irene

Frase preferida:
"Você é patética guria..."

Idade:
Quase 1 ano

Aniversário:
Algum dia de Maio ou Junho

Tipo sanguíneo:
Qualquer um agrada

Signo:
?

Ascendente:
?

Olhos:
Inteiros negros com orbes amarelas

Cabelo:
Preto

Altura:
1,65m

Cores:
Vermelho

Animais:
Humanos

Comida:
Se a boca dela pudesse abrir...

Roupas:
O que Elisha usar

Pais:
Elisha [?]

Adora:
Tirar sarro ou criticar as ações dos outros

Odeia:
Entediar-se

Sobre:
Irene é uma alucinação criada pela mente de Elisha, como se fosse uma segunda personalidade que vem a tona uma vez ou outra. Pelo menos é isso que ela crê que essa abominação seja... Ao certo não se sabe, pois Anita foi capaz de ouvir os murmurios dela na cabeça da garota, assim como Kasuya possui uma outra "personalidade" idêntica a que Elisha batizou com o nome de Irene e chama isso de "demônio interno". Talvez, só talvez, a verdadeira natureza dessa aparição seja mesmo algo desconhecido que habita o corpo da morena.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Files: Kaori Sadako

[Cuidado, spoilers!]

Nome:
Kaori Sadako

Frase preferida:
"Bah..."

Idade:
17 anos

Aniversário:
06/07

Tipo sanguíneo:
AB

Signo:
Cancer

Ascendente:
Virgem

Olhos:
Cinza

Cabelo:
Naturalmente loira, mas há tempos o cabelo não está da cor natural, na maioria do tempo rosa.

Altura:
1,52m

Cores:
Rosa

Animais:
Coelho

Comida:
Doces

Roupas:
Gosta de usar roupas infantis. Odeia vestidos, preferindo shorts, mas é obrigada a usá-los as vezes. Sadako gosta da moda japonesa.


Pais:
Kaori Ayako (mãe adotiva)

Adora:
Doces

Odeia:
Se sujar (talvez)

Sobre:
Sadako é a herdeira da família Kaori, os guardiões dos Sullivan. Usuária de lâminas ocultas e venenos, a garota é uma das membras mais perigosas da Black Rose. Subestimá-la pela sua aparencia meiga e infantil ja custou a vida de muitos.
A garota nasceu na Russia e foi criada por um bando de ladrões, sem conhecer seu pai ou amigos. Ayako a adotou e a treinou na arte dos Kaori.
É uma menina quieta demais, nunca a viram falar uma palavra sequer, mas apesar disso ela admira e ama sua mãe acima de tudo.

Files: Kasuya Ishida


[Cuidado, spoilers!]

Nome:
Kasuya Ishida

Frase preferida:
"Se eu não olhar nos seus olhos... E nem ouvir sua voz... Seus feitiços não vão mais funcionar em mim, bruxa maldita!"

Idade:
17 anos

Aniversário:
13/11

Tipo sanguíneo:
AB

Signo:
Escorpião

Ascendente:
Cancer

Olhos:
Avermelhados (esverdeados no natural)

Cabelo:
Loiro albino (prateado)

Altura:
1,73m

Cores:
Preto e prata

Animais:
Lobos

Comida:
Sem preferências

Roupas:
Pretas em geral. Gosta de se vestir elegantemente e esconder seus olhos usando óculos de algumas cores escuras.

Família:
Nayami (Família Irlandesa mista com Japonesa, identidade dos pais não revelada);
Erin Nayami (irmã gêmea);
Tetsuo Ishida (pai adotivo)

Adora:
Erin

Odeia:
Anita

Sobre:
Kasuya é o líder do clã Ishida, sucedeu Tetsuo ainda muito jovem. Sua história é contada no Cap. Extra 2 do Vol. 1 de The Black Rose.
Nasceu na Irlanda e era maltratado de formas brutais pelo pai desde pequeno, a única pessoa que o amou foi sua irmã Erin. E num dia Kasuya esfaqueou seu pai, quando ele estava prestes a machucar a garota. Depois disso ele foi expulso da familia Nayami e abandonado para a morte, eis que um homem de nome Tetsuo Ishida aparece e adota o garoto. Depois de treinado para suceder aquele homem, Kasuya ingressa na Black Rose e destroi sua antiga familia, resgatando sua irmã que é sacrificada num ritual poucas semanas depois.
Kasuya se rebela contra a seita e mata Tetsuo, tendo como alvo depois disso a própria Anita Sullivan. Porém sua tentativa fracassa e ela faz uma proposta para "ressucitar" Erin.
Kasuya se torna o líder dos Ishida e acaba sacrificando Yuna Kayoshi para trazer sua irmã de volta, porém ele falha nesse objetivo por causa da própria Erin e volta a se rebelar contra a Black Rose. Atualmente o clã Ishida entrou em colapso por não ter mais um líder e Kasuya é caçado por sua antiga "familia".

Files: Erin Nayami


[Cuidado, spoilers!]

Nome:
Erin Nayami

Frase preferida:
"Você quer um pouco, Sayonomi-san ?"


Idade:
17 anos

Aniversário:
13/11

Tipo sanguíneo:
O

Signo:
Escorpião

Ascendente:
Cancer

Olhos:
Verdes-amarelados claros

Cabelo:
Loiro albino (prateado)

Altura:
1,60m

Cores:
Sem preferência

Animais:
Pequenos, de preferencia silvestres

Comida:
Não gosta muito de carne, mas não tem preferências

Roupas:
Usava vestidos de cores ou totalmente claras ou totalmente escuras

Família:
Nayami (Família Irlandesa mista com Japonesa, identidade dos pais não revelada)
Kasuya Ishida (irmão gêmeo)

Adora:
Ambientes tranquilos

Odeia:
Coisas afiadas

Sobre:
Erin é a irmã gêmea de Kasuya, nascida e criada na Irlanda junto com irmão. Desde pequenos eles tiveram uma relação extremamente ligada, a ponto de um ser a única pessoa no mundo pro outro e vice-versa. Com sua vida destruida pela familia, Erin passou a ser torturada pelo pai como punição pela traição de Kasuya, coisa que deixou como marca os ramos de roseira riscados nas suas costas.
Depois que os Ishida destruiram os Nayami, Erin passou a viver pacificamente com o irmão, até que foi sacrificada no ritual de ascensão da futura matriarca da Black Rose.
Porém segundo Elisha Sayonomi, ela não foi para o mundo dos mortos e seu espírito vaga até hoje ao lado do seu gêmeo. A verdadeira natureza de Erin continua um mistério.

Files: Victoria Sullivan



[Cuidado, Spoilers!]


Nome:

Victoria Sullivan

Frase preferida:
"Eu quero aquela menina pra mim, Anita."

Idade:
18

Aniversário:
01/08

Tipo sanguíneo:

B

Signo:
Leão

Ascendente:
Touro

Olhos:
Verdes (esmeralda)

Cabelo:
Preto

Altura:

1,68m

Cores:
Verde, preto e vermelho

Animais:

Detesta

Comida:

Milkshakes e pirulitos, adora morango

Roupas:
Pretas e afins, gosta de acessórios da moda "rock n roll" combinados com roupas sensuais de todo tipo. Preferencia por saias.

Pais:
Anita Sullivan (mãe adotiva)

Adora:

Constranger pessoas e saciar seu lado sádico

Odeia:
Ser contrariada

Sobre:
A história de Victoria é contada no Capítulo XIV do vol. 1 de The Black Rose, ela é a herdeira da familia principal da Black Rose, os Sullivan.
Dona de uma personalidade excêntrica e sádica igual a sua mãe, Vic se rebelou contra a seita depois da morte de Yuna e declarou abertamente guerra à Anita. Atualmente é caçada pela organização como alguém perigosa, não é possível dizer se a relação que ela tem com a mãe é amor ou apenas um cinismo venenoso e mortal. O que se sabe é que o "jogo" dela com Anita ainda não acabou.

Files: Yuna Kayoshi




[Cuidado, spoilers !]


Nome:

Yuna Kayoshi

Frase preferida:
"Sorria sua boba ! Sorria e cotinue sorrindo como uma idiota, aconteça o que acontecer !"

Idade:
17 anos

Aniversário:
07/09

Tipo sanguíneo:
O

Signo:

Virgem

Ascendente:
Touro

Olhos:

Azuis

Cabelo:

Castanho bem claro

Altura:

1,60m

Cores:

Azul e branco (claras em geral)

Animais:

Cachorro (porte médio)

Comida:

Coisas com queijo e frutas

Roupas:

Claras, não gosta muito de calças ou coisas masculinas. Preferência por vestidos leves.

Pais:

Luise Kayoshi (mãe adotiva), Takao Kayoshi (pai adotivo)
Emily Locke (mãe biológica)

Adora:

Flores

Odeia:

Se afogar

Sobre:
Yuna é a herdeira da família Kayoshi da Black Rose, uma menina dócil, meiga e sorridente. Foi adotada por Luise Kayoshi na Inglaterra e criada em Sleepy Hill, numa das casas da família. No vol.1 de The Black Rose a garota é sacrificada por Kasuya Ishida e assim começam os incidentes naquela cidade canadense. No fim das contas é descoberto que Yuna não havia morrido, só havia acordado no corpo da irmã de Kasuya, Erin. Por fim, ela é tida como morta devido a uma armação de Victoria para protegê-la.

Files: Elisha Sayonomi


Nome:
Elisha Sayonomi

Frase preferida:
"Ei... Perto demais."

Idade:
17 anos

Aniversário:
13/07

Tipo sanguíneo:
A

Signo:
Cancer

Ascendente:
Escorpião

Olhos:
Amarelados

Cabelo:
Preto

Altura:
1,65m

Cores:
Preto, roxo (Detesta azul)

Animais:
Gato preto

Comida:
Pizza (4 queijos), milkshake (de qualquer coisa); detesta vegetais e peixe

Roupas:
Pretas sempre, não gosta de cores claras e não é tão fã de saias e vestidos, só em dias esquisitos ela acaba usando esses. Prefere jeans com camiseta preta e sua gargantilha básica.

Família:
Mark Sayonomi (pai); Mãe desconhecida;
Brigith Velmont (irmã perdida)

Adora:
Internet

Odeia:
Todo o resto

Sobre:
Elisha é uma jovem incomum, sempre entediada, sarcástica e melancolica. Sua história é contada no vol. 1 de The Black Rose. Onde ela se envolve com a seita meio sem querer e quando percebe sua vida já não é mais normal.

Epílogo III - Elisha Sayonomi

Fúteis e idiotas.
Ignorantes e superficiais.
Hipócritas e egoístas.
Mas nem assim alguns humanos deixam de ser interessantes.
Como Yuna eu morri duas vezes. Ou não.
Gatos têm nove vidas ahn? Então eu tenho mais seis se o rolo com a Chisame contar. Dane-se.
Pra ser sincera, acho que sete. Esse número sempre me cheira a Black Rose.
A perfeição.
Quando ouvi o disparo pensei que tinha morrido de vez agora, mas quando olhei o Kasuya tava com a arma apontada pro lado da minha cabeça, quase fiquei surda com o barulho. O que deu nesse cara pra mudar de idéia?
Ele mencionou uma promessa, eu tava muito dopada pra entender. Sei que o infeliz me agarrou pelo braço machucado (filho da p...) e me puxou até chegar numa janela, até me excitei quando ele me pegou pela cintura e colocou no ombro, bati nele pra enfatizar o ato sado masoquista, claro. Como se fosse adiantar, ele é um tanque de guerra.
Fomos pela saída de incêndio e o filho da mãe deve ter me acertado de novo, porque eu apaguei do nada.
Quando acordei o cara tava olhando pra mim, acho que ele gostou. Nem consegui dormir direito, já tinha amanhecido mesmo. Me levou pra floresta de novo, tive que andar até a casa já que ele não foi cavalheiro o suficiente pra me carregar no colo. Acho que já estava satisfeito ter me levado do prédio pra floresta, talvez homens adorem me pegar no colo. Não fui idiota pra tentar fugir, se ele fosse me matar, já tinha matado.
Quando chegamos, ele disse que tinha comida na geladeira, não arrisquei. O “Kasu-chan” não tem cara de estuprador, então eu esperei lá mesmo, Irene ficou dizendo pra esperar e eu esperei. Fiquei fuçando nas coisas de samuraizinho dele, quase surrupiei alguma coisa pra levar de lembrança. Eu nunca tinha visto espadas japonesas de verdade e afiadas. No fim meu tédio me fez ir falar com ele, perguntei como Erin era, a de verdade. O picolé ficou surpreso e não soube responder direito, pelo visto ele tinha menos experiência que eu no quesito “Falar com gente”, só disse que era igualzinha a Yuna, só que mais fria e quieta.
O meu celular tocou no meio do papo, até tinha esquecido que tava comigo. Pra falar verdade, foi estranho demais ver ele no meu bolso.
Era Victoria... Eu quis bater nela.

-Já saiu do prédio né?

-Não... Estou queimando lá dentro. Você previu isso?

-Talvez, onde você ta?

-Na floresta, casa dele. Continuo virgem e ele se comportando bem, mas não acho que as duas coisas durem se você vier me buscar.

-Vem pra estrada, entrada da floresta. Não liga pra ele.

Não deu pra recusar, ela desligou e foi difícil dizer não. Como esperei, ele me seguiu, até tentei despistar, mas ele conhece aquilo melhor que eu. Victoria estava mesmo esperando lá na entrada, mesmo lugar onde deixou o carro quando a gente acampou lá. Nem se surpreendeu quando viu meu amiguinho vir junto. Achei que eles iam sacar armas e começar a novelinha tudo de novo.
Vic propôs uma troca, me trocar por uma informação. Obviamente, Kasuya quis ouvir primeiro. Ela fez questão de ir falar no ouvido dele, eu garanto que ou ele tem medo dela ou não curte muito mulher...
O cara nem esperou, olhou pra minha cara e saiu de lá com pressa.
Victoria fez uma carinha ingênua e me olhou de lado, com as mãos atrás das costas. Engraçado, mesmo sabendo que a ingenuidade era uma farsa, eu ainda me perco quando ela faz essas coisas. Acabei deixando o impulso me fazer segurar a fracote pela jaqueta, eu queria bater nela de verdade por me fazer passar por tudo isso, mas não deu.

-Não me pega assim Elisha, já disse que fico excitada.

Claro, ela sempre fica excitada comigo... Me sinto uma Sex Symbol.
O que fizemos depois? Não é da sua conta... Odeio momentos melosos.
Mas o mais bonitinho foi ela me levando pelo braço (não machucado) pro carro, pegamos estrada e rodamos até escurecer. Pra bem longe de Sleepy Hill.
Perguntei sobre Jin, Emily e Morrigan... Ela respondeu que era melhor eu esquecer a professora e o gato, e Jin tinha entendido e a deixado ir. Tive um mau pressentimento, quis falar com ele. Dizer que estou bem.
Victoria não iria voltar se eu pedisse.
Vou sentir falta daquela felina sem graça... Mais do que de Jin e Emily.
Atravessamos o país naquele carro... Nesses dias tudo foi tão esquisito, como se aquela porcaria de mundo pertencesse a ela. Como se eu pertencesse àquela louca, mais uma vez. Sabe, uma das coisas que eu sempre quis foi viajar com alguém que eu gostava assim. Comer só porcarias e dormir em motéis de beira de estrada, sem rumo algum. Surpreendente vindo de mim? Pois é.
Victoria não me contou nada sobre Yuna ou pra onde estávamos indo, disse pra mim esquecer tudo e pensar só nela por enquanto. Não foi difícil, até porque dormir sob o mesmo teto que ela sempre fosse perigoso.
Me lembro da segunda noite, num desses hotéis de estrada, o frio tava adorável e ela dormiu rápido demais. Fiquei acordada um tempo, Victoria tinha deixado escapar que íamos pegar um avião pra algum lugar, imaginei pra onde...
Deitei imaginando isso, nunca tinha viajado de avião. Já ela... Eu devia ter desconfiado porque ela pediu uma maldita cama de casal.
Me arrepiei quando senti a respiração dela na minha nuca, o meu coração então... Parecia que ia parar na medida em que ela foi levando as mãos pela minha barriga e beijava meu ombro, aquele perfume ainda ajudou a me atordoar. Tenho que parar de dormir de roupa curta imediatamente.

-Achou mesmo que eu ia te deixar escapar agora?

Victoria riu daquilo, mas eu achei que ela tinha demorado pra tentar algo. Se eu deixei ela continuar? Não interessa. Isso não é conto erótico.
No terceiro dia foi exatamente a mesma porcaria. Esse era o estilo de vida dela?

-Não, no momento tenho um brinquedo pra me divertir.

Brinquedo ahn? Deixei ela falar o que quisesse. Senti algo diferente em mim a partir daí, mas não sei dizer o que. Me sentia ridícula, como se andasse nua por ai e nem ligasse. Me acostumei com Vic a tal ponto que até trocávamos de roupa uma na frente da outra e sem constrangimento (Ela nunca teve vergonha mesmo), só complicava quando ela tentava me agarrar.
E eu que considerava esse comportamento coisa de vadia.
Ooh... Eu virei uma vadia também!?
Não, acho que deve ser o que chamam de amar.
Bah... Risível.

Nunca me imaginei “amando”.
Nunca me imaginei “estando” com alguém como era com Victoria.
Nunca imaginei que iria sentir falta da Yuna ou Erin a ponto de me deprimir.
E Victoria percebeu, sempre lia minha mente... Achei que ela fosse reagir mal, mas só piscava pra mim ou ria. Engraçado, eu e Yuna acabamos mesmo como brinquedos dessa nossa “dona”. Mas poderia existir alguém que conseguisse ser a dona da Victoria?
Entendi um pouco da alma dela, no fundo aquela louca era ainda mais solitária que eu e ainda não tinha encontrado algo que fosse só dela nesse mundo... E eu? Acho que eu havia encontrado o que era meu.
O que Vic diria se soubesse o que eu percebi... Se soubesse que no fundo eu estava bem movida pela Yuna?
Ela me levou até um avião particular, isso me cheirou a Luise, sabia que ela tava metida nesse plano da Victoria.
Acho que o destino dessa viagem foi a América do Sul, vou descobrir depois. A doida dormiu que nem um anjinho no meu ombro, acabei cochilando também. Quem nos acordou foi a própria Luise.
Acertei de novo. Irene tava menos falante ultimamente, eu sentia ela agindo mais diretamente na minha personalidade. Não sei dizer como notei isso.
Victoria me vendou, xinguei ela, mas entrei no jogo. Andamos de mão dadas por ai por um bom tempo, nunca tropecei tanto nas coisas. Daí ela tirou a venda dos meus olhos e falou algo no meu ouvido:

-Surpresa...

O que eu vi? Yuna distraída, sentada na beira de um lago, como era antes de morrer... Com os pés na água, cabelo balançando com o vento, não sabia se eu tinha morrido ou se tava sonhando... Não soube o que dizer quando ela virou e me viu. Engoli seco, eu queria muito dizer algo, mas minha voz me deixou na mão.
Me senti muito emotiva quando ela correu pra me abraçar, tanto que pareceu ridículo, acho que ficamos nisso uns trinta minutos. Eu não queria mais soltar ela, por mais que seja esquisito admitir isso.

-Ei... Dessa vez é você mesma?

Só consegui dizer isso e ela respondeu acenando com a cabeça um monte de vezes, entre chorar ou rir, eu escolhi ficar sem graça e ela chorou rindo... Odeio demais cenas melosas. Bem, Victoria cuidou disso.
Beliscou nossas bundas e cortou o clima, nem sei de quem ela sentiu mais ciúmes.
Da Yuna eu acho.
Victoria cumpriu com o que falou, conseguiu fazer tudo dar certo no ultimo minuto. Olhar pra ela me faz acreditar que ela sabia de tudo que ia acontecer, desde o dia em que eu “convidei” ela pra me visitar por um chat de internet.
Eu sempre conseguia prever muita coisa, minha intuição sempre acertava na mosca, mas em relação a ela... Eu nunca consegui adivinhar o que ela pensava. O que se passava pela mente sem noção daquela guria.
Os três próximos dias foram os melhores da minha vida, os que eu nunca ia esquecer. Passamos eles juntas naquela casa da Luise, eu detestava casas de campo.
Victoria me fez nadar numa piscina depois de anos sem nadar em lugar nenhum, odiava nadar antigamente só porque precisava me despir pra isso. Acho que sentia vergonha do meu corpo. Yuna parecia não ficar tímida seminua se fosse pra nadar, nem comento sobre a outra... Vic e Yuna se divertiram bastante, pareciam ser um “casalzinho” perfeito, até ri quando Victoria arrancou a parte de cima do biquíni da Yuna e chantageou pra devolver, fez ela dançar aquele treco esquisito, “Para-para” na nossa frente. Só que eu me senti bem deslocada observando as duas, pelo menos eu me agradava só olhando. Talvez eu devesse me comportar de um jeito mais infantil e ir brincar com elas, mesmo não fazendo meu estilo.
Mais tarde inventaram de jogar videogames. Eu já tinha enjoado disso faz tempo, mas com elas eu até que abri uma exceção. A surpresa é que nós três somos boas nisso, os tempos estão mudando viu... Antes garotas eram uma negação em jogos eletrônicos ou nem se interessavam.
Começamos pelos jogos de esporte, Yuna praticamente acabava com a gente. Nos rpgs o show foi meu, gênero preferido. Já nos de luta ou tiro a competição foi entre Vic e eu, nos de terror Vic parecia a criadora de todos eles, sabia exatamente o que fazer só na intuição. Era a cara dela mesmo, nesse gênero eu costumo ficar perambulando pelo mapa procurando os caminhos certos.
Perdemos a noção do tempo, eu durei mais ali, fiquei jogando aquela ultima versão daquele jogo de zumbis, o gráfico é ótimo. Por outro lado, eu nunca joguei naquele console, acabou de ser lançado.
Vantagens de andar com bruxas patricinhas...
E lá estavam as duas, dormindo no colchão que a Luise mandou colocar pra gente na sala onde a televisão era maior. Comecei a me sentir uma otária com aquele videogame, deslocada de novo, queria deitar no colchão com elas... Mas achei melhor não.
Não tava afim de bancar a intrometida no clima delas.
Continuei com o meu joguinho.

No meio da madrugada Yuna me deu um puta susto quando veio deitar nas minhas pernas, ficou com a cara no meio dos meus braços e do joystick sem fio. Foi a primeira vez que os olhos azuis dela me deixaram tão boba, ficou olhando pra mim com um sorriso no rosto, fazendo perguntas bestas sobre o jogo. Eu morria de cinco em cinco minutos por causa disso, não conseguia prestar atenção na tela de jeito nenhum, até tive vontade de... Deixa pra lá.
Essa menina era pura demais pra ser tocada.
Ela dormiu no meu colo, cena fofinha... Dormi também pra não atrapalhar ela.
Acordei cedo no dia seguinte, nunca consigo dormir bem na casa dos outros. Sai pra andar e vi Victoria sozinha no jardim, ela me notou lá.

-Feliz?

-Acho que sim. – Sem o “acho” não seria eu ali.

-Tá me devendo então.

-Como quer que eu pague? – Tá, eu fui oferecida. A gente fica assim quando ta caída por uma pervertida sem escrúpulos...

-Quer mesmo saber? – Ela deu um sorrisinho e veio segurar meu queixo, sem condições de não ficar sem jeito – Já beijou a Yuna?

-Claro que não! Eu não ia conseguir, não sou tão cara de pau que nem você.

-Oras... Você já tentou me beijar. – Fiquei quieta, tinha feito aquilo mesmo. Dava vontade de bater a cabeça na parede até agora, mas com ela era diferente. Ficou tão comum rolar beijos entre a gente que... Ah, esquece. – Se for falta de pratica a gente resolve... – Foi só pensar, Victoria deve ser telepata. O beijo que ela lascou em mim foi tão... Não sei dizer. Foi o “melhor”, o mais intenso que ela já tinha me dado. Fiquei até tonta depois, minhas pernas ficaram bambas. Ah, mas ela não fez isso a toa.

Victoria notou que Yuna tava acordada esfregando os olhos ali na porta, olhando a gente. Eu só fui perceber quando a cara de sono dela ficou branca. Até achei que ela ia cair morta no chão, de novo.
Aquela maníaca desgraçada caiu na risada, nunca vi ela rir tanto. E eu fiquei confusa, na hora não sabia pra quem olhar. Tentei explicar pra Yuna, mas nem tinha como... Me enrolei toda. Obviamente ela tirou a idéia errada.

-E-eu não sabia que vocês eram...

-Relaxa lindinha. Nós só temos um caso, nada sério.

Foi o que Vic explicou depois que parou de rir, eu me senti estranha nessa hora. Quando ela disse “nada sério”.
Por um lado eu fiquei aliviada, porque ainda tinha chances com a Yuna, mas por outro... Aquele velho aperto no peito. Acho que eu queria que fosse “algo sério”.
Mas não dava pra escolher uma das duas.
O almoço foi ótimo, Victoria ficou passando o pé nas pernas da Yuna por baixo da mesa, na cara da Luise. A guria engasgava de quatro em quatro segundos, não deu pra segurar a risada.
Nesse dia a gente ficou conversando e vendo uns filmes chatos, depois fomos pra uma cidade próxima, é sempre divertido passear com a Victoria. Você se sente acima de tudo e todos, até quando o idioma é desconhecido.
Cara, ela sabe falar espanhol. Pode isso?
Compramos umas coisas, tomamos sorvete (Vic fez questão) e fomos numa pizzaria, como garotas normais fazem. Nessa conversa de dia inteiro descobri a maioria dos segredos delas, acho que todos alias. Já o meu único, que é Irene, eu nem mencionei.
Yuna gosta de musicais da Disney e Vic nunca tinha feito “aquilo” antes... Me enganou direitinho mais uma vez.
Nunca imaginei que alguém como ela fosse virgem, nem engoli essa historia, era muito mais bizarra que Yuna ouvindo musical da Disney.
É que ela faz as coisas como se fosse expert, então fica muito difícil de acreditar. Mas isso não é assunto seu também.
Deve ser sorte de principiante.
Victoria é do tipo que tem muita sorte.

No outro dia achei que ela tava estranha, tentando me fazer ficar “intima” da Yuna de qualquer jeito. Pra mim ficou obvio, mas Yuna nem se tocou.
Ouvi Victoria falar em particular com Luise. Dizia que a única forma de Anita não usar nem eu e nem Yuna contra ela era estarmos mortas.
Nós tivemos que “morrer” pra ficar fora da guerrinha delas.
Jin foi uma mera testemunha...
E Luise era a cúmplice.
Tudo fez sentido então... Nós estávamos com Luise por proteção, ela ia nos manter escondidas bem debaixo do nariz da Black Rose. Mas se quer saber, pra estarmos protegidas totalmente achei que Luise não ia poder ficar por perto.
E muito menos Victoria... Eu não quis estar certa.

“Se eu quiser acabar com ela, não posso errar.
Porque ela nunca erra.”

O plano de Vic ficou claro pra mim, só não quis aceitar alguns detalhes.
Bingo. Mais tarde ouvi Luise conversar com um cara esquisitão, latino de certo, que ela deixaria eu e Yuna sob as “asas” dele, já que ela não podia contrariar a tal da Anita Sullivan. Provavelmente nós íamos sair de lá, pra Luise não saber de fato onde estávamos caso fosse interrogada.
No fim da noite Victoria me achou dando uma de enxerida nas conversas da casa e disse que Yuna dormiu e que ia aproveitar pra me dar outra surpresa, acabei vendada de novo. Ela me levou pra um lugar escuro, foi inevitável não pensar em besteira, principalmente depois que ela cochichou um “Deixa rolar...” no meu ouvido. Sinceramente, eu não resistia mais a ela, só ia cortar o clima caso ela se empolgasse demais.
No começo não notei nada esquisito no beijo, mas tava diferente no “gosto”. Eu conhecia o beijo da Victoria e aquele estava muito menos ousado... Era mais doce.
Como eu fui idiota de cair nessa...
Aquela pirada me enganou de novo.
Sempre achei a historia de vendar os outros ridícula e não sei o que pensar quando notei que era Yuna ali. Obviamente eu tirei a venda e fiquei sem graça. O que me assustou é que ela tava sem venda alguma, tava me enxergando desde o começo. Daí olhou pra baixo toda vermelha.

-Me desculpa... Eu...

-Você se desculpa demais... – Eu me senti muito esquisita na hora, e Yuna me beijou de novo... Nunca imaginei que ela faria isso. Essa guria é muito mais corajosa que eu.

Bem, não to reclamando. Acho que eu quis que ela me beijasse mais uma vez.
E esse foi ainda mais doce... Eu sei o porque, ele foi cheio de sentimentos. Yuna era cheia de sentimentos... Até mais do que devia.
Mas era sincera com o que sentia.
Algo que eu mesma não sabia ser. Foi diferente demais de Vic, causou algo meio inédito em mim. E quando a gente deu um pause, eu ri baixo.
Não dela ou da situação, foi de mim. Yuna ficou tão feliz quando viu, acho que ela quis até chorar. Ela chora tanto que daqui a pouco ta pintando o cabelo e usando franjinha...
Tá certo que eu nunca ri assim na frente dela, mas também não é pra tanto.

-Não tão transando ainda? – Foi Victoria que tava ouvindo atrás da porta, Yuna paralisou e eu xinguei.

Estranhamente Vic e Yuna pareceram satisfeitas com o que houve, eu tive certeza que elas armaram essa. Já eu... Insegura e pensando na Victoria. Não que eu a preferisse, não sei escolher uma delas ainda. Mas eu sentia que ela ia fazer algo errado.
Yuna dormiu cedo e eu procurei Vic, estava na varanda observando a lua nova. Bruxas ficam realmente mil vezes mais bonitas à luz da lua...

-Precisa pedir ela em namoro logo. A bobinha ta esperando isso há anos. – Não olhou pra minha cara pra falar isso.

-Namoro entre meninas ainda soa estranho pra mim.

-E você diz isso agora? Dá um tempo vai! – Ela riu.

-Por que você ta fazendo isso? Tentando unir nós duas?

-Não é isso que você quer?

-É... Mas... Eu não sei dizer. – Vic sacou que eu tava pensando nela, daí sim se virou pra mim, apoiando naquele balaustre de madeira e sorrindo. – Obrigada Elisha... Eu nem acreditava que alguém era capaz de se apaixonar por mim de uma forma tão meiguinha assim. Você foi a primeira. Mas sabe... Eu não quero mais machucar você ou a Yuna. – Vic voltou a olhar pra lua, falando de um jeito esquisito até pra ela – Ela ama você de verdade. Nem eu consegui fazer ela te esquecer. E agora que o fim desse jogo chegou, o final feliz tem que ser de vocês duas.

-E você, que final vai escolher? Eu sei que é fissurada pela Yuna.

-Eu? – Ela riu mais uma vez, se fosse só pra olhar, parecia que nem ligava mesmo – Como diz o Kasu-chan, eu sou um demônio. Demônios não amam.

Era mentira. Impossível que não sentisse nada... Eu sei que por trás do sarcasmo ela não estava tão bem. Por quê? Eu também sou assim.
Não disse nada. Ainda não sei o motivo pelo qual minha boca não se abriu lá.

-Nah... Vem, vamos dormir.

Deixei ela me levar pelas mãos até o quarto que a Luise separou pra mim. Mas eu não queria me separar de Victoria ainda.

-Você... Vai dormir aqui também? Comigo?

-Hmmm... Não. – Ela nunca ia recusar antes. Porque eu me sentia tão mal com isso?

– A loira ta ficando com raiva. É melhor eu manter minhas mãozinhas no travesseiro, por enquanto. – Piscou pra mim, daquele jeitinho pervertido. E me beijou no rosto, saindo correndo pelo corredor.

Entrei no quarto, mas não consegui dormir. Quando o sono quase veio, eu tive a impressão de ouvir o motor do carro dela, joguei a coberta no chão desesperada e corri... Corri tão rápido... Como nunca tinha feito antes. Perseguindo algo que estava fugindo de mim, algo que eu não queria perder.
Tinha sido só impressão, ou não.
O carro dela nem tinha vindo com a gente e eu fiquei sem fôlego lá fora, só de pijama. Tinha um carro de Luise ali, aberto e com chaves no contato. Preparado pra sair.

-Você adora complicar as coisas pra mim hein... – Ouvir a voz de Victoria naquele lugar me destruiu por dentro. Eu tinha acertado...

-Vai ir embora assim? Escondida?

-Odeio me despedir, igual toda heroína “cool”. –
Ela não esperava topar comigo ali.

Fiquei quieta como uma idiota, pensando que ela podia ficar. Eu sabia que ela não podia, senão tudo o que ela fez ia ser em vão. Mas eu não podia aceitar... Porque isso justo agora que tudo estava tão bem?

-Qual é... Eu te dei minha boneca mais preciosa.

-Pois eu não vou aceitar o presente. Eu vou com você...

-Não vai não... – Eu odiei aqueles olhos verdes... Aquele maldito olhar. Não consegui contrariá-los, por mais que eu quisesse – Você precisa ficar e cuidar dela pra mim.

-Você volta? – Não posso negar que ela estava certa, seria injusto deixar Yuna sozinha. E ainda quando nós finalmente estávamos juntas.

-Vai depender da Anita, mas eu dou meu jeito.

-Quem diria... – É, meus olhos tavam lacrimejando – Você dando de boazinha.

-Boazinha é? – Vic tava com a cara amassada, mas isso não a impediu de me puxar pela blusa e me beijar uma ultima vez. De um jeito brusco... Quente... Sem perceber eu me viciei nesse beijo venenoso, ele ia deixar vestígios profundos em mim. Eu sempre soube disso desde a primeira vez... – Lembra da gargantilha que te dei? Ela significa que você também me pertence, assim como a Yuna.

-E quanto a que você usa? A quem você pertence? –
Nem sabia o que eu estava falando... Só queria olhar pro rosto dela sem piscar uma única vez. Pra guardar todos os traços perfeitos dele, pra me certificar de que nunca ia esquecer.

-A uma pessoa que eu odeio... Eu também sou uma gatinha preta e arisca, Elisha. Mas ainda sou domesticada. O jogo pode ter acabado pra você, mas pra mim ele continua. Vai continuar até eu acabar com a pessoa que me colocou nessa prisão.

-Por que ela não pode te deixar em paz?


-Porque ela me ama... E é assim que nós duas amamos. Aprisionando as nossas flores mais bonitas num jardinzinho sem graça só nosso, longe de todo mundo... Sufocando e matando elas com os nossos próprios espinhos. –
Mostrou a língua pra mim como costumava fazer, também uma ultima vez – Aproveita o que eu te dei tá? Ao máximo.

Eu nunca tinha parado pra pensar no estrago que ela fez na minha vida até então, Victoria tinha me dado muito mais do que dizia no fim das contas. Bizarramente eu me lembrei das palavras da professora na formatura. Eu tinha duvidado tanto da Victoria...
É como dizem, você só entende o verdadeiro valor das pessoas quando está prestes a perdê-las. Foi assim com Yuna, foi assim com Victoria... Se eu soubesse de tudo que ia acontecer, eu teria agarrado ela na mesma hora em que ela perguntou se eu era a Elisha Sayonomi enquanto abaixava os óculos escuros, pra nunca mais soltar.
Vic foi pro carro sem olhar pra trás.
E eu? Esfreguei os olhos pra poder falar algo, mesmo com a voz arranhada pelas porcarias que eu chamo de sentimentos. Eu já tinha ficado calada por toda minha vida mesmo... Já era hora de falar.

-Victoria...

-Oi? – Dessa vez ela olhou pra trás.

-Se você não voltar eu vou te caçar até o inferno se for preciso... E te matar quantas vezes necessário pra me acalmar, entendeu?

-Promete? – Ela soltou outra risada – A propósito, você ficou de me dizer algo quando estava no celular prestes a explodir.

-Só vou falar quando te ver de novo.


-Chata... Sou eu quem chantageia aqui. –
Torceu o nariz como uma criança – O sol vai nascer daqui a umas horas, melhor eu ir.

-Devia se despedir dela...

-Esquece... Ela não ia entender. E eu já roubei um beijo dela agora pouco enquanto dormia mesmo.

-Que? –
Senti uma veia saltar, estava com ciúmes da Yuna?! Heh... Victoria disfarçou descaradamente e entrou no carro cantarolando uma música:

♪ “When you're naked in the shower
When you're sleeping for an hour
When you're big, when you're small
Oh, I wish I was a fly on the wall”

E por mais que minha alma gritasse e chorasse pra mim não deixar Victoria ir, por mais que me implorasse dizendo que eu precisava dela... Que eu amo ela...
Eu fiquei observando ela escapar do alcance dos meus braços.
Ir pra longe da minha boca. Pra onde meus olhos não podem mais enxergá-la. Onde eu não podia mais tocá-la ou ficar sem graça quando ela fazia algo louco.
Essa foi nossa despedida.
O nosso “adeus”.
Ou o nosso “até logo”.

Nos dias seguintes eu fingi estar bem pra ser forte pela Yuna. Mas em segredo eu ficava pendurada na janela olhando pra lua, imaginando onde aquela louca estaria. Se também estava olhando pra lua em algum lugar por aí.
Me peguei caminhando sozinha até sorveterias ou praças, onde nós fomos durante os dias em que passamos juntas, passei noites em claro na frente do computador olhando pra tela, só pra ver se ela aparecia naquele chat.
E quanto mais eu a perseguia, mais eu me convencia que tudo não passou de um sonho bom... Que nunca mais ia se repetir.
Enfim, o dia que Luise ia voltar pra América do Norte chegou, eu e Yuna pegamos outro vôo pra algum lugar. Não me dei ao trabalho de deduzir pra onde, não importava. Quem sabe fosse pra mais perto dela, ou pra mais longe...
Quando eu deixei de esconder o que estava sentindo, Yuna me disse pra chorar. Só assim eu ia conseguir superar. Mas eu não chorei... Não sabia mais como chorar.

O tal latino arranjou um apartamento e empregos legais pra nós duas, podíamos até tentar vestibular esse ano. Mas meu animo pra isso não vinha, eu só queria ficar deitada olhando pro céu. Isso preocupava Yuna, eu podia sentir que ela estava ficando meio triste em me ver assim... Então era melhor parar.
Eu tinha me tornado um peso pra ela.
Era pra ser eu ali cuidando dela e não o contrario.
Eu melhorei pela Yuna... Eu queria continuar sendo alguém que ela admirasse. Mesmo achando que era por burrice que ela admirava...
Esses dias recebi um e-mail curioso de um endereço desconhecido, dizia o seguinte:

“Sorria linda!
Eu estou te vigiando.”

Tsc tsc... Victoria estava errada.
Meu jogo também não tinha terminado, ele só tava começando. E desistir agora...
Se quer saber, dane-se. Me empolguei demais a toa...
Nada disso é da sua conta.

E pra você, sua idiota... Onde quer que você esteja.
Você vai me pagar, e bem caro.
Eu sei que um dia a gente vai se reencontrar nem que seja em outra vida.
Obrigada pelo estrago que você me fez.
Eu nunca vou esquecer.

Elisha Sayonomi - End

Epílogo II - Yuna Kayoshi

Quem sou eu?
Erin ou Yuna? Como eu iria saber ao certo se eu tinha memórias de ambas? As pessoas diriam que é uma experiência e tanto morrer duas vezes, mas não é um bicho de sete cabeças assim. É como dormir e sonhar... Sonhar com coisas que você nunca imaginou, os sonhos são tão imprevisíveis e ao mesmo tempo tão íntimos, tão nossos.
Eu sempre gostei de sonhar, mas um dia a gente acorda. E quando eu acordei foi exatamente nisso que eu pensei: Quem sou eu?
Meu colegas me chamavam de bobinha ou princesinha, diziam que eu era alegre e sorridente, mas chorava muito. Sensível demais.
Kasu me via como um anjo de bondade, a única pessoa importante pra ele. Uma garota carinhosa, acolhedora e compreensiva.
Vic falava que eu era a boneca preferida dela, que adorava meu olhar “tolinho” e que eu tinha um corpo excitante. Acho que tímida também, porque só de lembrar das coisas que ela fazia eu fico sem graça e com vontade de rir.
E você... Você me achava chata e inconveniente, preferia ficar sozinha.
Você disse que eu era igual a única pessoa que você amou.
Nunca entendi o que eu sinto por você, só lembro que aquele calor estranho no peito aparecia só quando você estava perto. Só com você...
Sempre forte, suportando tudo sozinha. Nunca se rendeu para o que achava errado. Acho que foi isso que eu vi. Sempre solitária, mas nunca desistiu. Mesmo que inconsciente disso, você tinha esperança de que um dia tudo ia mudar. Que nós tínhamos poder pra mudar esse mundo injusto.
“Pare de me fantasiar de heroína.”
Aposto que seria isso que você diria agora. rs
Pra mim é isso que você sempre foi, a minha heroína, meu exemplo. Coisa besta de se dizer né?
A vida passou como um flashback... Luise, Vic, a festa, Anita, as viagens, a chuva, o beijo. Sim, comecei a imaginar isso lá pela oitava série. E sempre ficava constrangida quando imaginava isso relacionado a você. Aileen foi a primeira a descobrir, pedi pra ela guardar segredo, mas eu mesma acabei contando pra minha mãe e sem querer pra Vic. Sabe por que eu fui para aquele apartamento no Blue Sky escondida de todo mundo? Por que eu recebi um convite com seu nome e fui idiota pra cair nessa. Você não era pervertida pra fazer um convite desses. Só que eu estava tão desesperada pra estar com você...
Foi um amor platônico, eu sei, nunca achei que eu tivesse alguma chance. Mesmo porque era difícil saber se você gostava de meninas, porém eu pude acreditar que daria certo algumas vezes.
Você era a única que não ria quando caçoavam de mim na escola, foi a única que socou alguém por minha causa, mesmo não admitindo.
Meu primeiro encontro com Kasu foi rápido, eu me lembrava dele da escola. Disse que estava morando sozinho naquele lugar e mantia uma amizade escondida com você, falou que você gostava de mim e que ele ia ajudar. Eu ainda facilitei, me sujei com o refrigerante que ele me serviu e acabei aceitando a proposta de tomar banho pra te esperar. Eu nunca consegui duvidar das boas intenções de ninguém, a partir dali eu não me lembro de mais nada.
Só fui acordar depois de um tempo, sem lembrança alguma. Esqueci tudo. O vazio no meu coração era tão grande que eu até esqueci como as coisas funcionavam. Kasu esteve comigo desde então, me ensinou tudo de novo. Parecia tão feliz por trás daquela expressão fria, eu sentia isso e ficava feliz junto com ele. Lembrei de algumas coisas, eu era a gêmea daquele menino que era tão cuidadoso e gentil comigo.
Até que como se fosse um sonho eu me lembrei de três pessoas e contei pra ele, essas pessoas eram Luise, Victoria e é claro, você.
Depois disso Kasu mudou, não era mais a mesma pessoa. Tinha algo que me dava muito medo nos olhos dele. Não quero falar das semanas seguintes. Meus sentimentos só despertaram no dia em que Kasuya disse ter matado você e que ia matar Vic. Me senti como se estivesse enterrada viva e finalmente ter cavado ate superfície.
Quando você chegou, eu pedi pra você ir embora porque sabia que ele ia te fazer mal, então Victoria apareceu e começou a atirar nele. Atirou contra mim também, mas eu não a culpo. Não sabia quem eu era e no fim o Kasu se colocou na minha frente... Eu agradeço aos deuses que ela tenha voltado a si, pois ele me protegeu com a própria vida, como um verdadeiro irmão.
Quando acordei já não lembrava de mais nada de novo, até que vi você ali. Parecia estar chorando, como quando pequena... Uma garotinha suportando sozinha toda dor que o mundo coloca nas nossas costas. Eu quis mais uma vez ser forte por você, ser seu santuário, te ver sorrir. Me lembrei de você, somente você.
O resto não importava mais, tudo que eu mais queria era estar perto de você.
Quem diria que nós acabamos nos mudando pra casa da Emily?
Isso foi tão bom. Sei que era chato eu ficar grudada em tudo que você fazia, peço desculpas, mas eu não me lembrava... E isso foi o que eu sempre desejei.
Foi ótimo passear naquele shopping, nunca me diverti tanto, juro!
Nós compramos tanta coisa e você me mostrou tanta roupa legal, foi lá que eu revi minha mãe. Nós soubemos imediatamente quem éramos não é engraçado?
Ela é uma mulher maravilhosa... Não consigo pensar em outro conceito de mãe perfeita. Eu tive sorte, queria ser metade da mulher que ela é.

E quando você me levou pra escola pela primeira vez!
Foi tão engraçado, você parecia tão frustrada quando seus colegas falavam bem de você. Ainda não entendi o motivo. Quando estávamos tomando vento no terraço eu senti que era tão familiar... Como se já tivéssemos feito isso antes.
Fica embaraçoso agora lembrar das suas roupas debaixo que o vento me mostrou. Desculpa, eu não tive a intenção de olhar mesmo.
Quando você saiu e disse pra mim voltar pra classe, eu desobedeci. Te segui, sorte que você não notou, queria saber o que você ia fazer. Até que aquela menina loira apareceu e vocês brigaram por minha culpa. Duvidei de você por uns segundos e você ficou brava... Daí eu me lembrei de mais coisas, de Victoria mais exatamente. Dos olhos que ela tinha quando agia igual aquela mãe dela. Eu tive medo... Muito medo.
Não de você, mas de perder você por causa disso.
Corri pro banheiro e chorei até ser encontrada, tentei entender por que eu me sentia assim. Consegui entender o que era. E aceitei meus sentimentos.
Fomos embora juntas e eu esperei você voltar do emprego pendurada na janela, queria contar o que eu sentia, precisava contar. Acho que a minha inocência cancelava minha timidez naquela hora, parecia tão fácil.
Porem quando você voltou, estava com aquele menino da escola. Meu coração apertou na hora, desisti de falar... Vocês pareciam se dar tão bem e ele ser uma pessoa tão legal. Achei que você iria ficar mais feliz ao lado dele... Que chance uma boneca sem vida como eu tinha? Consegui disfarçar bem... Até causei mais situações constrangedoras. Acho que eu sou boa nisso né? Estragar tudo e te fazer passar por maus bocados.
Burra... Cega... Desinteressante...
Mas ainda assim eu... Bem, ainda não é a hora de dizer.

No dia do baile eu me diverti bastante com o Ryo-kun, ele se comportou tá? Não fique brava com ele!
Eu prendi o cabelo, lembrei que eu fazia isso antes porque Vic me disse que ficava mais bonita assim. Fico feliz por você ter notado.
Não consegui tirar os olhos de você naquela dança, senti ciúmes de você com o Jin e não é que o Ryo notou? A gente conversou um pouco sobre, e acho que ele entendeu. Disse que assim que o Jin abrisse uma brecha ele ia “me jogar nos seus braços”. É engraçado demais lembrar como eu ri disso. Ryo é mesmo uma boa pessoa.
Haruna foi perfeita quando inventou aquela de “troca de par”, mas eu estava muito longe e aquela baixinha chegou na frente. Quase enfartei com a cena que aconteceu, serio. Ela era bem mais bonita que eu e você ficou tão vermelha que até uma tonta como eu percebeu que você sentia algo por ela, mesmo que fosse alguma atração.
Fiquei feliz!
Uma barreira já não existia mais né?
Você disse que ia beber algo e saiu cambaleando de perto dela, isso me acalmou.
Os discursos foram lindos... Principalmente o da Emi-sensei. Você era a tal “pessoa importante” pra mim, achei mais uma vez que eu devia me declarar de uma vez. Emily passou correndo por mim, estava toda feliz dizendo “Finalmente!”, eu sorri pra ela. Tinha ido encontrar as filhas perdidas. Ela deu seu celular pra mim e falou pra te entregar porque você esqueceu com ela.
Procurei por você um tempão, estava tudo acabando tão feliz que eu me decidi tentar também. Eu ia falar o que sentia por você. Até ignorei quando seu celular apitou, dizendo que tinha mensagem.
Jin te achou primeiro.
Eu vi o beijo de vocês. Aquilo acabou comigo.
As coisas são estranhas, não são?
Eu consegui engolir o choro e disfarçar de novo, só porque achei que você seria mais feliz com ele de novo. E se você estava feliz, por que eu deveria levar meus sentimentos em conta...

“Elisha, houve um pequeno imprevisto com a sua professora aqui. Nada urgente aproveite a noite e me retorne a ligação assim que der.”

Eu retornei a ligação e transformei a mensagem numa coisa urgente, só pra parar aquele beijo rápido. Pra fazer meu coração parar de doer um pouquinho...
Me desculpa por isso também.

No hospital as coisas foram rápidas, eu te contei o que houve depois. Descobri quem eu era naquela hora com Emily, espero que ela tenha melhorado. Eu não fiquei lá pra ver.
Kasu me achou lá, disse que nós tínhamos que acertar o que faltava. Eu fui com ele sem hesitar, já que ele me prometeu que você ia ficar bem.
Sim, eu decidi sair da sua vida. Nem me perguntei pra onde Kasu me levou ou o que ele queria fazer, mas era meu irmão. E você...
Você já não precisava mais de mim.
O Jin estava do seu lado agora, não estava mais sozinha.

Kasu me explicou o que ele fez depois. O porquê de ele ter feito isso. Acho que queria se desculpar, e nem precisava. Ele amava a irmã dele, entendo isso. Eu prometi tentar ser uma irmã tão boa quanto Erin foi e ele riu daquele jeito dele. “Heh..”
Antes de eu perguntar por que, vocês duas apareceram.
As coisas se revelaram e é por isso que eu mais peço perdão. Eu também amava vocês três, não podia deixar acabar assim.
As vezes as pessoas fortes esquecem o significado de muitas coisas.
E só nós, as pessoas fracas podemos fazer elas se lembrarem do que é mais importante, do motivo pelo qual elas lutam...
Eu estava feliz sabia?
Você veio me procurar... Mesmo que você ainda não tivesse dado um sorriso pra mim, não tinha importância. Porque eu vi que você me considerava importante, que no fundo do seu coração, você me amava também.
Me perdoa por ter sido assim tá?
Dessa vez eu fui em paz, por sua causa.
Por você... Foi só por isso que eu fui capaz de sorrir até nessa hora.
Obrigada.

Eu ouvi Vic falar comigo antes de adormecer de novo...
Nunca duvidei que ela tivesse algo bom escondido na alma, ela sempre foi meu anjo da guarda. Ver ela ali deitada do meu lado dormindo como uma criança me fez achar que eu estava no paraíso. Flores, pássaros cantando, aquele sol morninho nos esquentando. Eu me senti em casa naquele lugar.
Minha mãe apareceu me viu sentada ali e fez como todos os dias de manhã, me recebeu com um sorriso. Fez um gesto para pedir silencio, Vic estava cansada, mamãe queria que ela dormisse um pouquinho.
Me levantei e saí de lá, meu corpo doía por inteiro e se movia mal, foi como ter saído de um coma. Mas melhorou quando minha mãe me abraçou e me serviu um daqueles chás que eu adoro, nós conversamos tanto... Nem notei as horas passando.
E quando dei uma olhada pro lado, lá estava Victoria, com a cara toda amassada me encarando. Tinha dormido bastante e parecia irada comigo e com mamãe.
Bem, eu sei quando correr.
Não adiantou muito porque ela me derrubou na grama, eu ri tanto da cara dela. Parecíamos crianças de novo, só que ela... Hm... É melhor não falar, você sabe como Vic é descarada, fez essas coisas na frente da minha mãe.
Ela tem que crescer viu... Hunf.
Mas eu confesso que senti muita falta dela.
Depois ela e minha mãe conversaram algo sobre sair da cidade e que ela se encontraria comigo depois dessa viagem. Passamos o resto do dia juntas e Vic até me fez uma pergunta estranha, entre você e ela, com quem eu me casaria se tivesse que escolher. Foi constrangedor, sabe... Ahn.. Duas meninas não se casam né?
Imagino você vestida de noiva, acho que vou apanhar por isso quando a gente se encontrar por aí... Mas ia ficar bizarro!
Quando eu não soube o que dizer Vic sorriu e falou pra deixar pra lá.
No meio da noite aquela doidinha invadiu meu quarto e nós dormimos juntas, como quando éramos pequenas. Não é isso que você está pensando!
D-O-R-M-I-M-O-S! E só!

Na manhã seguinte minha mãe me chamou bem cedo, Vic não estava mais lá. Chorei como uma criancinha, é esquisito quando você acorda e pensa que tudo isso foi só um sonho bom. Mamãe sabe como me animar nessas horas.
Peguei um vôo sozinha pela primeira vez nesse dia, bem, alguns empregados da minha família estavam junto, mas eles tem uma cara tão assustadora que eu nem consigo conversar com eles. Não me respondem quando eu tento também, são profissionais.
É tão sem graça viajar assim.
Mas sabe quem eu encontrei lá? Era o Kasu. Ele me fez lembrar de você de novo.
Estranhou quando me viu como eu era antes. Cabelos castanhos, olhos azuis... Os empregados avançaram contra ele, mas eu não deixei não.
Remarquei o vôo pra três horas mais tarde e fiquei com ele na lanchonete do aeroporto. Me senti estranha agindo com autoridade.
Eu precisava fazer isso, afinal, ele sempre foi tão bondoso e gentil comigo.
Quis retribuir, sei que não sou 100% irmã dele, porem ainda tenho algumas lembranças dela. Então eu disse que ele sempre ia ser meu irmão mais velho, mesmo eu sendo Yuna e acredita que ele ficou sem graça? Juro!
Fiz ele admitir que foi lá me ver, nem notei as horas de novo. Kasu me disse que as coisas iam se complicar pra ele, porque iria lutar sozinho contra algo que movia as cordas de muitos países por ai. Me prometeu que ia ficar bem e quando pudesse me achava pra dar um oi. Quando abracei ele pra me despedir, me olhou torto e riu da minha cara. Fiquei super sem graça.
Tá, ele não riu, mas quase riu.
Quer saber uma coisa estranha? Eu vi Erin lá.
E ela me disse uma coisa.
“Obrigada.”

A viagem foi chata e demorada, dormi e só acordei quando o segurança me chamou. Fui levada pra uma casa de campo igual a minha casa no Canadá mesmo, só que o clima era mais quente. Mamãe estava me esperando, disse que aquele era outro país, mas eu não liguei. Nem quis saber.
Durante o vôo eu sonhei com você, sabia?
Eu não sei você, mas eu nunca desisti dos meus sonhos.
E nunca vou desistir.
Nunca vou desistir de você.

Ps: Sorria boba! Ainda quero ver.
Ah, quase me esqueci. Eu acho que te amo, sabia?

Kayoshi Yuna – End

Epílogo I - Emily Locke

Janeiro
Eu só fui libertada por completo daquele hospital no fim do ano, nos dias que se seguiram eu pensei no motivo de não ter utilizado aquele pedaço de vidro que Elisha me deu de presente para encerrar minha miséria de uma vez por todas. Nunca entendi por que não fiz isso.
Durante minha estadia lá me lembrei vagamente de um sonho que tive no dia do acidente. Eu sonhei com Yuna, e com a gêmea dela. Uma disse que elas estariam sempre comigo, para mim me esforçar e a outra permaneceu em silêncio olhando. Fico a imaginar como seria o nome da outra se ela estivesse viva, é algo que me torturou muito. Eu odiei esse mundo mais uma vez.
Mesmo sem lágrimas, eu chorei.
Meu ano novo foi horrível, começou como se já tivesse acabado, e o que eu fiz durante as festividades? Voltei a beber. Voltei a fumar.
Aquilo me ajudava a relaxar e ficar longe das navalhas, mas destruiu com a limpeza do meu humilde lar. Fiquei trancada nele por um mês, sem falar com ninguém além das garrafas de whisky. Eu caí de muito alto, a grande Emily Locke não passava de uma vadia bebada e nojenta agora. Minha sorte foi ter dinheiro de sobra.
O pessoal do Dark River e da Universidade de Sleepy Hill até bateram na minha porta por causa do planejamento das aulas. Eu não atendi.



Fevereiro
Os vizinhos disseram que Elisha e Erin estiveram no incêndio do Blue Sky, foram dadas como mortas. Por isso nenhuma das duas apareceu mês passado. Pobrezinhas... Fiz tão mal para elas, não soube dar valor algum.
Não derramei lágrimas por elas, só me senti culpada o suficiente pra beber até cair inconsciente de novo. A ressaca na manhã seguinte foi terrível, vomitaria até as entranhas se conseguisse. Aquela minha ex-aluna lerdinha, loira de olhos azuis, Chisame Kayoki, invadiu minha casa e me encontrou num estado parecido.
Minha memória falha, mas acho que ela limpou aquele chiqueiro e até me deu um banho. Coisa que eu não fazia a semanas.
Foi até engraçado ver alguém delicadinha como ela lavar uma mulher adulta fedendo a álcool, garanto que eu ri na hora.
Tinha ido lá pra me pedir ajuda nos estudos, estava pensando em tentar vestibular pra jornalismo. Eu recusei, claro.
Disse que ela não tinha capacidade pra passar em vestibulares concorridos, e ela foi embora chorando.

Março
Depois de retornar parcialmente às minhas atividades humanas, voltei a receber ligações do trabalho. Aquela velha do Dark River até me ofereceu o cargo de coordenadora do ensino médio, mas eu não queria saber de trabalho. Mandei-a ir se ferrar e bati o telefone, o mesmo com a universidade. Considerei-me desempregada ali.
Por fim, decidi fazer um funeral atrasado para Elisha e Erin, pra amenizar o sentimento de culpa. Gastei muito dinheiro com isso, mesmo sem os corpos pra enterrar. Ninguém foi, os colegas delas estavam muito ocupados pra isso e não consegui falar com aquela Luise Kayoshi, ela saiu da cidade. Alias, duas pessoas foram, Chisame e Jin Kusanagi. Esse menino já não era animado e alegre como costumava ser, fiquei sabendo que ele também esteve no incendio e acabou baleado. Não tive curiosidade pra perguntar, mas ele me passou o numero do celular e disse estar prestando um concurso para ingressar na polícia ou algo do tipo. Já Chisame foi mais para falar comigo, dessa vez eu concordei em ajudá-la. Não aguentava mais ela me atormentando e precisava de uma doméstica. Por outro lado foi aniversario dela esse mês, então levei o “sim” como um presente.

Abril
Meus patrões vieram me oferecer aumentos em troca de eu voltar a trabalhar, tive que aceitar, o meu dinheiro tinha acabado. Vieram atrás de mim como Estado Unidenses atrás de um barril de petróleo.
Claro que vieram, eu era a melhor, “A” Emily Locke. A porcaria da professora mais renomada naquela porcaria de cidade canadense. E agora a mais bem paga.

Maio
Chisame sugeriu uma mudança no visual, pra mostrar que eu estava melhor, e eu aceitei a idéia. Escureci o cabelo e alisei, deixando algumas mechas claras. Em combinação com as roupas mais ousadas que eu decidi usar, tanto aquela lesada quanto os diretores tomaram um grande susto quando me viram voltar.

Junho
Os alunos estão me idolatrando nos dois empregos, sempre é incrível como eu não consigo ferrar minha vida profissional assim como a social e sentimental. Tornei-me a professora mais popular deles, só porque eu não ligava se eles fizessem o diabo que fosse na sala e usava humor negro no meio das explicações, ah claro, os meninos adoram os decotes e quando eu me sento na mesa.
Quem disse que eu ligava para o que eles acham...
Passei a freqüentar os mesmos ambientes que os alunos, agia como eles agiam as vezes ou até pior. Preenchendo meu vazio com álcool, nicotina e prazer. Nada que uma boa noite de sexo não resolva...
Encontrei-me com o Jin no Midnight esses dias, passou no tal concurso e já estava iniciando a carreira. Obviamente ele iria passar, Jin sempre foi um excelente aluno. Conversamos bastante, os drinks quebravam o gelo muito bem.
Ele me contou sobre a tal Victoria, disse que a polícia abafou o caso do incêndio, ignoraram os relatos que ele fez. Como se houvesse alguém oculto os manipulando por cordinhas... Entendi o motivo que ele teve pra se tornar detetive, Elisha era dificil de se esquecer na mente dele.
E pensar que eu praticamente dei em cima do meu ex-aluno...
Sim, eu me lembro da garota de olhos verdes. Foi ela que me provocou no hospital um pouco depois do que aconteceu na casa dos Sayonomi.
Eu nunca vou me esquecer daqueles olhos.

Julho
As provas de Chisame vão ser no mês que vem, então ela decidiu passar as férias inteiras aqui em casa pra estudar. Dei mais trabalho pra ela do que ela pra mim, acabamos até viajando pra termas artificiais por insistência dela. Acho que ela se apegou demais a mim, até quis saber se eu superei a minha “perda”. Acabei a fazendo chorar de novo. Yuna e a irmã nunca ia se orgulhar da sua mãe biológica. Foi melhor ela ter sido criada por Luise, tenho certeza que ela foi uma ótima mãe.
Ah sim, aquele gato da Elisha fugiu, só notei agora. Mas pensando melhor, faz meses que não vejo. Bem, azar dele.

Agosto
A loira tapada estava insuportável esse mês, vestibular no finalzinho dele, o problema daquela garota é o nervosismo. Esquece de tudo na hora H e fica sem agir. Dei um empurrão, disse que se ela não passar além de limpar minha casa e cozinhar por três meses de graça, ela ia apanhar. Meus cascudos doem, então acho que dessa vez ela passa. Voltei a pensar sobre as duas, foi um mês depressivo de novo.

Setembro
Sempre detestei esse mês, meu aniversário é no segundo dia dele. Devia fazer uns oito anos que eu não comemorava direito. Nunca tive nada alem de desejos e bolinhos idiotas de alunos e colegas de trabalho. Antes eu me contentava com isso, mas dessa vez eu estava frágil. O que eu mais queria era passar o dia com alguém meu, uma família. E a única que eu tinha me foi arrancada de novo. Chorei o dia todo e quando cheguei em casa foi pior, aquela estúpida da Chisame me recebeu com um bolo que ela mesma fez... Errou a minha idade nas velas, mas tudo bem. Dessa vez foi ela quem me fez chorar.
Bati nela por isso depois.

Outubro
Chisame tentou me fazer parar de fumar e beber, não conseguiu. Os resultados do vestibular saíram, mas ela se esqueceu de ver. Fiz isso antes dela e não é que a lesada passou mesmo... Não tenho mais utilidade agora.
Vou tentar suicídio assim que ela sair daqui. Espero que ela se torne uma boa jornalista e que seja capaz de me perdoar.
Feliz Halloween.

Novembro
Mais uma vez foi irônico, Chisame me pegou com a lâmina nas mãos, segurando contra o pulso. Esqueceu a escova de dente e voltou pra buscar, é uma menina lerda, mas isso ela entendeu na hora.
Eu nunca esperei que ela fosse me dar um tapa tão forte na cara, não era agressiva assim. Gritou coisas como “Você só pensa em si mesma!” e “Você é como uma irmã mais velha pra mim sabia?” então não conseguiu falar mais nada, correu do banheiro caindo no choro de novo.
Suspirei e olhei pra mim mesma no espelho por um tempo, ridícula, eu tinha chegado até ali e desisti da vida por que não tinha mais nada a perder. Elisha uma vez me disse que ela não tinha nada a perder também, por que ela vivia? O que a fazia seguir em frente? Juventude não dizia nada agora... Eu estava mais jovem que nunca. Ouvi os soluços de Chisame do lado de fora do banheiro. Ela tinha razão... Agora eu tinha uma família, mesmo sem relação de sangue, mesmo chata e tapada, eu tinha algo pelo que lutar. O que eu estava fazendo?
Os outros tapas foram meus mesmo, mesmo que em sonho, eu vi as duas. E elas me fizeram um pedido. Se não fosse por mim mesma, eu seguiria em frente por ela... A vida daquela baixinha estava começando agora, se eu a abandonasse agora o que ela seria sem mim? Chisame precisa de mim ainda e eu preciso dela, muito mesmo.
Pedi desculpas, várias vezes.
Agora nós duas choramos.
O mês em si foi bom, tudo pareceu estar se ajeitando novamente. E aquela anã continuava invadindo minha casa sem permissão todo dia.
Eu sou imensamente grata por isso.

Dezembro
Esse ano foi terrível, difícil e frustrante, acabei ele bem. Comecei a considerar a idéia de escrever um livro, estou tendo tempo livre pra isso e preciso arrumar uma forma saudável de me divertir. Fumantes não conseguem fazer sexo vinte e quatro horas por dia e eu estou ficando velha. Sem falar em doenças ou gravidez... Não planejo ter filhos ainda, quero esperar meu príncipe mais um pouco.
Só agora Chisame lembrou-se de checar o resultado do vestibular, garanto que ela vai vir aqui toda animadinha pra me contar daqui a pouco.
Sem surpresas para Emily Locke ainda.
Enfim, estou atrasada pro trabalho, se eu der sorte tenho alguma surpresa quando voltar. Só espero que aquela loira anã tapada não invente nada na cozinha, da ultima vez ela explodiu um prato e a janta. Se isso voltar a acontecer eu juro que coloco ela no microondas e esquento ao máximo por umas três horas.

Emily Locke – End

Capítulo XX - Mundo Imperfeito

A queda dela ao chão foi rápida, mas pareceu durar bastante. A garota de cabelos escuros pôde ver os olhos, o sorriso e o sangue daquela delicada garota branca dispersos no ar. Um olhar sem arrependimentos, ela morreria por aqueles dois sem pensar duas vezes. E foi isso que fez.
O impacto contra o chão não foi nada. Dor física não era nada naquela hora... O silencio a seguir foi profundo.
Elisha estava sem ar por causa do soco que levou na barriga.
Erin fechou os olhos, não iria mais falar.
Até Victoria e Kasuya não sabiam o que dizer, porem a filha de Anita foi a primeira a se manifestar, o anjo de olhos verdes e asas negras, ela soltou a pistola.
Elisha viu a arma bater no chão e ficar imóvel ali, Vic não se desesperou. De qualquer forma a morena não iria ligar... Seus olhos só conseguiam enxergar Erin caída na sua frente, e a culpa tinha sido toda dela.
Devia ter mantido ela longe dos tiros ao invés de investir contra Kasuya, a menina não tinha nada a ver com aquilo. Era a ultima que merecia ser atingida.
Enfim, assim era aquele mundo. Impiedoso e sádico com quem não merecia.
A culpa dilacerava o peito de Elisha cada vez mais, milhares de “se eu tivesse” passavam pela sua cabeça. Era tão insuportável que ela sentiu vontade de se matar se tivesse forças pra fazê-lo. Ser fraca como Yuriko foi e se juntar à pessoa que amou no seu leito de morte... Isso seria reconfortante.
A única coisa que seu fôlego lhe permitiu dizer foi “Yuna”. E ela queria que fosse a ultima. A única...
Victoria caminhou até sua Yuna no chão e se colocou de joelhos diante dela, apoiando as mãos no chão. Elisha a observou, o que será que ela estava sentindo naquele momento? Sua expressão era tão seria... E indecifrável.

- Merda Yuna, por que você nunca faz o que eu quero? – Ela repreendeu a menina albina no chão com seu olhar frio e imperativo – Você não vai fugir de mim de novo.

Nesse momento Kasuya caiu em si, era frio demais pra se abalar por isso. Ela não era Erin, por mais parecida que fosse.
O jovem mirou sua arma para a garota dos olhos verdes , não erraria dali.
Nunca teria errado se Vic não tivesse lançado aquele olhar pra ele, a expressão do garoto foi horrível, era como ser atravessado por mil adagas ao mesmo tempo, num só olhar. Ele recuou e hesitou, mas atirou mesmo assim. Aquele aperto no peito, o medo... Nunca tinha sentido esse medo terrível de alguém, somente Anita Sullivan tinha conseguido distorcer a mente dele aquele ponto. Ele nunca tinha sido dobrado assim por ninguém, aquilo era impossível.
O olhar sombrio daquela garota criava medo nas pessoas, controlava os sentimentos mais ocultos pelas almas delas. Controlava, causava delírios, destruía.
Aquela garota não era humana... Não podia ser.

Elisha retomou o ar, mas tudo foi confuso depois do disparo. A atmosfera mudou, como se Vic tivesse jogado todos ali no inferno com aqueles seus olhos, só faltou o fogo.
E o fogo veio.
Kasuya devia ter errado o tiro e acertado um botijão de gás na cozinha do apartamento, era o mais provável.
Ou talvez o fogo viesse direto do inferno, trazido por aquela bruxa de olhos amaldiçoados.
Elisha nunca ia saber a verdade sobre isso. Nada mais fazia sentido, sentiu o cheiro de fumaça, viu as paredes racharem e ouviu o prédio todo tremer.
A voz de Victoria a chamou de volta pra realidade:

-Levanta! Ela ainda tá viva, mas você vai ter que me ajudar a tirar ela daqui.

Foi o que bastou pra morena juntar todas suas forças e se levantar tossindo violentamente, ela nem notou quando o fogo se alastrou tanto e nem importava agora. Segurou Erin com cuidado, por debaixo dos braços, e Vic a segurou pelas coxas, guiando o caminho. Sem antes ter pegado a pistola no chão e guardado. Elisha estava tonta e confusa demais, corria como se fosse um zumbi seguindo os comandos de Victoria.
O destino delas foi o elevador, colocaram a albina no chão e a morena de cabelos longos recuou, batendo nas paredes metálicas e quentes do elevador e deslizando por elas até se sentar no chão. Tudo rodava e o calor era insuportável. Aquilo parecia mesmo o inferno, seu braço voltou a doer por causa dos cortes.

- O que foi isso?

- Sem tempo pra explicar. – Vic já tinha pressionado o botão pra descer, agora era só esperar. A garota de cabelo curto se mantinha calma e confiante, mesmo diante de tudo aquilo. O fogo, os tremores, calor e Erin a beira da morte...

- O prédio já era, duvido que essa porcaria chegue no térreo numa boa.

- Se nós fossemos pela escada ela morreria. – Victoria rasgou o vestido de Erin nas partes em que os tiros tinham acertado com um canivete que Elisha não fazia idéia de onde ela tinha tirado. Não acreditava que elas fossem sair vivas dessa, era o que sua intuição dizia. E essa nunca errava. – E se for pra morrer, que seja as três juntas. Então cala a boca se for ser pessimista e confia em mim. – A garota dos olhos verdes posicionou a lamina na ferida da albina, Elisha não estava olhando. Apenas arfava olhando para as próprias pernas naquele canto – Isso vai doer pra caramba, mas se deixar ai só piora. Então deixa de ser uma florzinha delicada só um pouco Yuna... – Retirou ambas as balas do corpo dela, a no ombro e a no abdômen, com o canivete sem hesitar. Erin gemeu baixinho de dor, o que deu alguma esperança pra Elisha.
Ainda estava viva...

Ouviu-se um estalo quando elas estavam no terceiro andar, o elevador não durou, como Elisha disse. Os cabos se romperam e ele caiu, Vic se colocou sob Erin a segurando com força, não podia a deixar sofrer grandes impactos.
Já Elisha caiu feio no chão.
O que salvou aquelas meninas foram os freios de segurança, o elevador chegou ao primeiro andar, estava meio torto, Vic e Erin deslizaram pelo chão até um dos cantos. A queda não foi tão brusca assim, Elisha se levantou e correu pra porta metálica antes que Victoria mandasse. Tentou abrir aquilo, mas estava travado, ela forçou o máximo que pode. Tanto que os pontos no seu braço começaram a se romper, aquilo ardia tanto que ela mordeu os lábios pra não gritar. Dor não importava, isso não a faria parar.
Para a sua surpresa alguém ajudou pelo lado de fora, a porta abriu-se rápido então.
Era Jin. Como ele tinha encontrado elas ali?
Mais uma vez Vic nem precisou mandar, o garoto imediatamente pegou Erin no colo surpreso com a situação, mas sem pânico algum. E a morena de olhos verdes puxou o seu “zumbi” pelo braço que estava bom, correndo pela recepção vazia e saindo dali. Em pouco tempo eles já respiravam o ar fresco de lá de fora.

-Como você achou a gente? – Parte da tontura dela tinha passado.

- Recebi uma mensagem no celular, não sei de quem, mas parece que queria que eu viesse pra cá. – Havia uma moto por ali, provavelmente foi assim que ele chegou, Victoria nem precisou falar de novo. Ele levou Erin pro carro, ajeitando ela no banco do passageiro – Temos que ir pro hospital.

-Não. – Tanto Jin quanto Elisha olharam assustados pra Vic quando ela negou, estava falando sério – O corpo dela não vai aguentar. Ela não vai sobreviver, mas eu posso dar um jeito. Só coloca ela no carro.

-Ela vai morrer se não for cuidada por profissionais! –
Jin ficou aflito.

-Coloca ela no carro. – Vic não gostou de ser contrariada, o rapaz se irritou com a ordem, mas cedeu. Teve que ceder – Isso não foi um pedido ou palpite.

No meio daquela tensão entre eles, Elisha estava distraída com outra coisa. Ela ouviu seu nome na voz de Erin.
E lá estava ela na porta do prédio com o uniforme negro do Dark River. A morena precisou olhar de novo para a Erin de branco no banco do carro para entender.
Aquela no prédio era a verdadeira Erin, o fantasma. Foi a primeira vez que ela apareceu e conversou com Elisha de novo, desde que ela descobriu.
Essa Erin estava sinistra, encarando a morena, seus olhos estavam num tom vermelho vivo, como os de Kasuya ficavam. Não eram mais os antigos olhos inexpressivos, agora eles tinham uma aura cruel.
E se a verdadeira Erin fosse assim? Outro monstro sem sentimentos?
A garota não teve tempo para pensar nisso, ela soube o que sua companheira de mesa queria na hora em que a viu. O que aqueles olhos frios lhe pediam. Era Kasuya.
Lá fora estava frio e molhado devido a chuva, Elisha sentiu seu peito gelar também, olhou para o chão e para o braço machucado. Chamou o nome de Victoria.

Aquela maluca virou pra ela como se soubesse o que a garota ia dizer só de olhar no seu rosto. Elisha se aproximou dela fraca e indecisa.

-Me promete que vai salvar Yuna. Que vai proteger e fazer dela feliz...

Aquela tinha sido sua decisão.
Sabia o que Vic sentia por Yuna, e que ela mesma nunca iria conseguir escolher entre uma das duas. Mais uma vez se viu ali... Abrindo mão de si mesma por elas.
Victoria leu os pensamentos dela de novo e teve dificuldades pra manter a calma.

-Tem certeza? – Elisha não respondeu, não conseguiu. Vic teve sua resposta no momento que a garota de olhos amarelados ergueu os braços pra agarrar aquela sua jaqueta preta – Ok... Eu prometo.

Victoria levou as mãos para a cabeça de Elisha, que repousou em seu peito, acariciou aqueles cabelos negros. Não iria impedí-la.

-Confia em mim tá? – Naquele momento ela se parecia demais com sua mãe, principalmente no verde dos olhos – No fim nós vamos ficar juntas e livres...

Elisha caminhou com as mãos pelo zíper daquela jaqueta e pegou o pingente de prata, abrindo-o. Foi ai que ela entendeu, Vic queria que isso acontecesse.
Como ela pensou, uma das fotos era Yuna e a segunda era sua. As duas iam acabar mortas, só assim ficariam juntas e em paz.
Se esse fosse o único jeito, ela então morreria sem hesitar.

Victoria ergueu o queixo da garota e sorriu.
Olhar para aqueles olhos fazia Elisha acreditar que tudo ia se resolver. Precisava confiar em Vic, mesmo que fosse cegamente e aquilo parecesse absurdo ou impossível.

- Ei... Tudo vai dar certo.

Mais uma piscada e então a morena de cabelos longos tomou uma iniciativa, horrível, mas tomou. Por um impulso momentâneo ela tentou um beijo, mas acabou dando um selinho na garota, chocou os lábios contra os da outra de forma repentina e hilária. Vic não riu por pena.
Elisha ficou vermelha, toda sem jeito, e se afastou depressa esfregando os lábios e se chamando de ridícula. A sua primeira e talvez ultima tentativa de beijo falhou miseravelmente.

-Eu nunca ia pegar o jeito pra isso mesmo...

Ela seguiu para a recepção, dava pra sentir o calor dali. E Jin voltou pra perto de Vic, acabou se alterando com ela de novo ao notar o que tinha acontecido.

-Você deixou ela voltar!? – Passou por ela correndo, no intuito de alcançar Elisha – É uma louca mesmo!

Vic não fez nada, apenas lançou um olhar cínico pra ele. O rapaz conseguiu alcançar sua mocinha que já estava do lado de dentro.

-Elisha! Onde você pensa que tá indo?

-Kasuya. – Ela continuou de costas, não estava disposta a voltar – Tenho que fazer um favor pra irmã dele.

-Erin? – Obviamente ele já tinha percebido que eles eram parentes.

-É.

-Então deixa que eu vou, é muito perigoso... – Ele era mesmo ótimo. Nem ligava para aquele homem ter matado seu melhor amigo. Elisha teve dificuldades pra responder... Devia ter conversado com ele antes, feito amizade antes. Ia ser tudo bem diferente se ela tivesse deixado de ser antissocial só um pouco. Agora ela não iria voltar atrás.

-Não.

-Eu não quero que aconteça algo com você lá dentro!

-Eu sei, agradeço por isso, por tudo. Mas eu preciso fazer isso sozinha. Eu quis tentar, mas não sou igual a vocês. – Virou-se pra olhar o rosto dele, o pior pra Jin foi notar a determinação no olhar dela – Esse é o tipo de vida que eu decidi ter. Não tenta entender.

-Por que você precisa resolver tudo sozinha?

-Porque é minha natureza.

-Então você vai morrer só pra tentar falar algo pra um assassino e por causa de uma louca que nem falou nada quando viu você caminhando pra morte?

-Tsc. –
Nada agradável, ela deu meia volta e ficou cara a cara com o garoto, cruzou os braços – Fecha os olhos.

-Elisha... Isso não é hora. – Jin estava visivelmente preocupado, agora ele percebeu a gravidade das coisas ali. E Elisha entendeu o lado de Victoria, era melhor ele não saber de tudo. Pra não correr perigo.

-Fecha logo. – Jin respirou fundo, mas obedeceu dessa vez. Fechou os olhos mesmo não querendo e Elisha se aproximou mais ainda, fitou o loiro, hesitando um pouco e foi se aproximando aos poucos a ponto de sentir a respiração pesada dele.

Hesitou mais e então ergueu a mão na direção da boca dele, acertando outro peteleco em cheio no queixo do loiro. Dessa vez sem o empurrão de Irene.

-Para de se interessar por mulher errada. E a gravata tá feia pra caramba.

Isso servia pra Megumi e ela, foi ruim fazer isso com ele, mas era melhor desse jeito. A garota deu as costas indo pra dentro e antes que Jin pudesse impedir as portas bateram na face dele. Não importou quantos chutes ele deu, não voltaram a se abrir. Ele teve a impressão de ter visto uma outra Erin de negro e olhos avermelhados fechando essas portas.
O destino que a morena escolheu tinha sido selado ali.
Foi pelas escadas, as chamas consumiam os corredores dos prédios a partir do terceiro andar. Até esses uns ela não teria problemas, só se tudo desmoronasse.

-Apenas siga em frente Sayonomi-san, nada vai te machucar.

E seguiu, guiada pelos sussurros do fantasma. Sentia como se estivesse sendo protegida, o fogo nem tocou sua pele e os escombros não caiam sobre ela. Elisha se sentiu inabalável naquele momento. Era isso que Vic queria.
Ela sabia que Elisha faria isso.
Na melhor das hipóteses a morena pirada teria algum plano brilhante pra tirá-la dali, por outro lado, Elisha não ligava de morrer agora.
Nem precisou procurar, topou com Kasuya no corredor do terceiro andar. Mesmo com algumas queimaduras e sangue na testa o jovem rumava sem dificuldades pra saída. A menina engoliu seco, só havia um caminho pra sair de lá e ela estava nesse caminho.

-Por que voltou, Elisha Sayonomi?

-Alguém me pediu. – Encarou o rapaz e foi retribuída.

-Heh... Então a humanitária voltou pra me salvar?

-Pelo visto você não precisava de mim pra isso.

-Exato. Eu vou matar aquela garota, saia da frente. – Não enxergava Erin ao lado dela.

-Não, preciso dar uma palavra com você.

Kasuya não quis conversar e deixar Victoria fugir, disparou duas vezes contra Elisha com a pistola que ele manteve nas mãos e não acreditou quando viu as balas passarem ao lado da cabeça da morena, que tomou um susto.
Ele não errou, não podia ter errado.
Elisha sabia disso e teve um palpite:

-Sua irmã quer mesmo que eu fale algo pra você...

-Não brinque com o que não deve Sayonomi! – Isso o irritou, não teve outro tiro por pouco. Quem sabe ele quisesse ouvir agora.

-Eu sempre via ela desde que você entrou no Dark River, o “espírito” dela. Acho estranho você não ver também, porque nós somos parecidos na questão da segunda personalidade. – Falava como se não ligasse.

-O que quer dizer com isso? – E ele sem paciência.

-Eu via ela sempre andando junto com você na escola droga... Até quando você me explodiu ela tava lá. Acho que ela quer que você saiba disso e me fez vir aqui contar. Não tenho como te provar, mas sua gêmea boazinha quer que você deixe ela ir. – Foi o que mais fez sentido e Kasuya a olhou com seriedade, percebeu que ela não mentiu. Abaixou a arma, Elisha se encorajou com isso – Tenta fazer ela parar de se preocupar e seguir em frente...

-Nem ela me considera, Sayonomi. O ritual não deu certo por que ela não quis voltar.

-Pense no motivo.

-Eu sei do motivo. Ela nunca aceitaria roubar a vida de alguém. –
Elisha podia sentir parte da decepção dele – Tem razão quando disse que somos parecidos. Não sabemos ser carinhosos, nunca tivemos apoio amigo nas horas que precisamos e perdemos o que era mais valioso pra nós. A diferença é que você agora tem por quem lutar e eu não.

-Yuna deu a vida pra te proteger agora pouco... Você viu. – Era melhor usar esse nome pra não confundir com a Erin original. Yuna tinha tomado um tiro por ele, ou pior, dois. Mas Kasuya também parecia desejar a morte.

-Eu não pedi por isso. Passei a odiar aquela menina quando descobri que não era Erin, me deixei dominar pelo outro “eu” e a torturei como meu pai fez com a minha irmã, que também tinha aquelas malditas cicatrizes nas costas quando eu me reencontrei com ela pela ultima vez. Só queria que ela saísse do corpo da minha Erin, ou que ela se tornasse Erin caso eu a deixasse idêntica...

-E ela nunca te odiou por ter feito isso...

-Sim, ela não merecia. Eu enxerguei nela algo que só via em Erin naquele dia na floresta, o jeito bondoso... Ela tentou me proteger mesmo depois de tudo. Não queria ter machucado ela, mas você sabe como nossa dualidade é. E agora é tarde pra arrependimentos.

-Se matar Victoria vai machucar ela ainda mais.

-Eu sei.

-Então por quê? –
Elisha não compreendia por que ele não desistia disso.

-O que você faria se tirassem seu bem mais precioso pra sempre e você soubesse quem foi e como atingir esse alguém?

Dessa vez Elisha entendeu. Algumas pessoas eram capazes de perdoar isso, mas ela que nunca teve nada, que não aprendeu a sorrir ou ser gentil... Se tirassem a única coisa que ela tinha, o que ela faria? Chorar? Não... Elisha sabia o que fazer.

-Tem razão... Eu e você somos diferentes de Yuna e Erin. No seu lugar eu faria a mesma coisa, caçaria até o ultimo culpado e faria a minha justiça...

-Por isso eu vou destruir os Sullivan e a Black Rose.

-Eu entendo, mas mesmo sendo o que for, Victoria se tornou um desses meu únicos bens mais preciosos. Talvez até o último, então eu não vou deixar você tirar ela de mim. – Ergueu os olhos amarelados pra ele, decidida.

-Compreendo. – Ele também continuou a encará-la, reerguendo a arma e se aproximando para tocar a testa da garota com o cano – No seu lugar eu também faria a mesma coisa... Elisha Sayonomi. – Um tiro a queima roupa. Dessa vez ela iria morrer mesmo, mas até que se sentia bem. Ficar mais próxima de Kasuya e descobrir que ela não era a única a pensar da forma que pensava causou esse conforto. Seria até bom morrer pelas mãos do líder daquele clã Ishida. Alguém igual a ela.

-Espero que um dia pessoas como nós parem de fazer pessoas como elas sofrerem. – Elisha não fechou os olhos, manteve Vic e Yuna na mente até o ultimo segundo.

O disparo foi ouvido ao longe e o próprio prédio tremeu mais uma vez. O terceiro andar foi preenchido pelo fogo poucos minutos depois, numa outra explosão.

Jin ficou estático do lado de fora, ele não pode fazer nada além de ver aquele prédio ruir cada vez mais.Era impossível que ela fosse sair viva dessa vez.
O garoto não soube o que falar ou fazer, pelo menos seu desespero baixou, o que veio depois foi bem pior.

-Por que Victoria? – Ele foi até a morena no carro, ela já estava de saída, fechando o carro. Jin a impediu segurando as bordas da jaqueta dela quase agressivamente, estava quase de joelhos. Sua expressão era terrível, parecia prestes a chorar – Por que deixou ela ir? Você gostava dela! Por que deixou ela morrer? – O loiro estava gritando, segurando-se nela. E Victoria o olhava fria, sem sinais de sorriso ou esperança, como esperado, também não conseguiu encará-la. Fazer aquilo ia confirmar ainda mais que aquele tinha sido o fim daquela garota que mexeu com ele. Vic não respondeu, ele se enfureceu mais ainda – Fala alguma coisa!

-A morte é nosso único momento de paz oras, Erin e Elisha vão ter essa paz.

-Você nem vai tentar salvar Erin!? Eu ouvi você prometer! – Jin a segurou com mais força, estava revoltado com as palavras dela. A única coisa que o impedia de agredir a morena eram aqueles olhos esmeralda o encarando, Victoria por sua vez não ia se alterar com aquele verme insignificante...

- O corpo não vai suportar, já disse. –As palavras eram cruéis e insensíveis demais, mais afiadas que laminas. Destruiram boa parte dos princípios e crenças em bondade dele.

-Você é doente!

Victoria suspirou, tinha sido a gota. Discretamente ela apanhou algo atrás de si e em seguida Jin só pode sentir seu ombro sendo atingido por um tiro. No começo só o susto, a dor veio depois.
Soltou Vic automaticamente e caiu, segurando o ferimento. A morena cruzou as pernas e virou-se graciosamente pra dentro, fechando a porta e ligando o carro. Apoiou-se na janela aberta pra dizer mais umas coisas:

-Uhum, eu sou doente, mas quer saber meu pior defeito? – Ela ia falar de qualquer forma, o sorriso que ela deu para o loiro foi cruel. O jovem aprendeu o que precisava sobre ela naquela hora – Eu sou possessiva demais. Odeio gente tirando casquinha do que é meu. E eu sei o que andou rolando por aqui na minha ausência só de olhar pro seu rostinho de playboy. Então vou deixar duas marquinhas em você, só pra não esquecer de nunca mexer com o que me pertence lindinho. Acredite, sua vida vai ser mais longa se me obedecer.

Sem hesito algum ela ergueu a pistola de novo e disparou, só deixando poeira para trás depois. A polícia ia chegar logo, Vic nem olhou para o garoto no chão de novo. Aquele enxerido teve o que mereceu. E a morena a testemunha que queria.

Estava frio ainda, as árvores daquela floresta passavam pela beira do asfalto. Erin estava ali do seu lado, já com o corpo frio, sem mostrar sinal algum de vida. Vic olhava pra ela periodicamente, mantendo um meio sorriso nos lábios. Na mente doentia dela, Yuna ainda podia ouvir.

-É Yuna, acabou... Vou estar com vocês em breve tá ? – A albina parecia tão tranquila, com uma aura bela de serenidade. Ficava ainda mais bonita assim – Você foi dela até o fim, a única coisa que eu não pude ter. Até a sua guria eu consegui, mas você... – Vic arqueou as sobrancelhas e fechou brevemente os olhos – Acho que entendi um pouco do que você tentava me dizer. Certas coisas não dão pra se forçar, elas simplesmente rolam né? Oh bem, nesse ponto só faltava uma coisinha... – Quando reabriu os olhos viu o que estava faltando. “Pigtails” cor-de-rosa no banco de trás do carro.

Aquela pirralha era invisivel mesmo.
Derrapou com o carro tentando desequilibrar a invasora e pegar a pistola do seu lado, mas a garotinha de olhos cinza era bem mais rápida. Vic conseguiu colocar as mãos na pistola, porem quando o carro parou já havia uma lâmina no seu pescoço. A morena suspirou infantilmente frustrada, que mania era essa de usar espadas japonesas nesse século? Pelo silêncio ou pelo cosplay talvez.

-Tá bem, você ganhou. O que foi? – Ela soltou a arma e Kaori Sadako deixou a espada afiada com uma fitinha cor de rosa e um bichinho de pelúcia miúdo, que ficava amarrado na ponta da fita, de lado. Pegou o próprio laptop de Victoria que ficava nos bancos de trás e estendeu para a dona, exibindo um belo sorriso de olhos fechados e pernas juntas, no seu agasalho preto e rosa. Aquilo já estava ligado.

A morena entendeu o propósito disso, virou-se e pegou o aparelho colocando-o no colo. A tela mostrava um tipo de chat, uma conversa de vídeo. E quem era a única nesse chat? Foi bizarro ver ela por um computador.

-Ora ora... Se não é meu pedacinho de doce amargo. – Ela foi recebida com um sorriso lindo da parte de Anita. A mulher estava deitada já, com uma das suas caras camisolas negras, numa cama imensa. Fazia tempo que elas não se viam, Victoria chegou a sentir falta – Não pode fugir assim, deixou a mamãe preocupada sabia? – Quem visse diria que eram irmãs, não mãe e filha.

-Desculpa, eu tava tão excitada que esqueci de deixar uma cartinha.

-Você está linda nesse novo visual. – Anita foi sincera, estava deslumbrada com a filha. E Vic sorriu contente com o elogio, estava fascinada da mesma forma, sua mãe parecia uma das próprias deusas da lua ali. Pareciam uma só pessoa narcisista mirando um espelho.

-Tive a quem puxar. – O amor entre elas era estranho. Difícil de dizer se era amor ou um ódio cínico – Tava morta de saudades de você.

-A branca de neve do seu lado parece mais morta que você. –
Agora sim uma faísca de maldade surgiu nos olhos delas – Aprendeu a lição linda?

-Pode apostar, aprendi muitas. E eu não vou mais errar, Anita. Acredite.

-Estou orgulhosa de você.

-E vai ficar ainda mais. – Anita fez cara de mãe compreensiva ao ouvir essa.

-Pare de rebeldia e volte pra Londres, sabe que eu não vou punir você.

-Sei sim. – E Victoria fez a sua de filha pidona – Mas eu preciso de férias... Isso tudo me deixou cansada, preciso de um tempo pra mim.

-Entendo querida. Vou te dar sete dias. –
A mulher era fissurada por esse número – Sem vigias e repressões. Mas se não voltar depois disso, eu te acho. Ok?

-Palavra?

-Palavra. Divirta-se meu amor.

-Ok. –
O trato animou a morena. Ela sabia que Anita mantinha suas promessas, de forma cruel, mas mantinha – Te amo...

Vic fez questão de jogar o laptop pra Sadako, sorrindo.

-Ouviu né? Sem vigia. Bye bye pokemonzinha. E deixa o laptop.

-Bah... – Sadako ficou extremamente desapontada, estava se divertindo na sua vigia. Fez uma carinha triste e saiu do carro, Vic arrancou assim que ela colocou os pés pra fora, desaparecendo por aquela estrada deserta perto da floresta.

Sadako ficou parada ali no frio, como se fosse um filhote abandonado.
Victoria chegou no seu destino rápido.

Aquela casa de campo gigante da família Kayoshi estava quieta naquela madrugada, Luise Kayoshi não tinha dormido, estava na sala de estar sentada numa poltrona tomando chá, a espera de alguém. Assustou-se ao ouvir um som estranho vindo do seu quintal, os seguranças do local informaram:

-Minha senhora, alguém invadiu a casa. – E a mulher ignorou os avisos deles, saindo da casa e se dirigindo à varanda.

Enxergou um carro preto no meio do seu jardim, em cima das suas flores preferidas, que nem existiam mais aquela altura. Os postes de luz permitiram identificar o motorista. Era quem a loira esperava, Victoria Sullivan.

-Mal pelo jardim, mas eu trouxe algo pra compensar.

Erin foi tirada de lá as pressas, Luise não acreditou naqueles ferimentos. Quase teve um ataque, mas se acalmou. A albina foi levada dali sem protesto nenhum da parte de Vic, que foi guiada para a sala de visitas e ficou lá por quase uma hora. Tudo ali era branco demais pro gosto dela, desde sofás a cortinas e mobília. Foi como esperar um parto com complicações. Até que Luise reapareceu, servindo um chá quente numa xícara de porcelana. A garota aceitou, estava em jejum desde o hospital.
Deu alguns goles naquilo, até que estava bom.

-Nervosa? – A loira questionou.

-Nem tanto, pareço estar? – Vic a olhou de baixo,com olhos infantis. Bebendo o chá.

-Devia, foi um dia agitado. Durma um pouco.

-Não vou conseguir. – Luise sorriu e deu as costas, indo para a porta.

-O chá vai ajudar nisso. – Victoria quase cuspiu tudo quando ela falou, mas era tarde – Eu conheço bem ervas, vá se deitar. Pode usar o quarto dela.

A morena encarou o chá com seus olhos verdes traiçoeiros, não era um mero chá. Sua expressão infantil desapareceu e sua voz soou fria:

-Eu nunca fui com a sua cara Sra. Kayoshi. Você esconde um lado ruim por trás dessa bondade toda. – Encarou Luise de costas, a loira sentiu calafrios e parou de andar – No seu lugar eu colocaria veneno nesse chá e daria o troco na mesma moeda pra Anita, matando a filha dela. – Acreditava que a mulher tinha feito isso. A expressão de surpresa e calma que a loira fez confirmou ainda mais essa tese, Vic a olhava irritada – Eu vejo o ódio por trás desses seus sorrisinhos bestas.

Luise abaixou a cabeça, assumindo alguma culpa, caminhou até ela.

-Olhar para você é como olhar um espelho que reflete o passado Victoria. Idêntica a Anita em tudo. – Parou na frente da garota, tirando a xícara da mão dela e colocando numa mesinha – Suponho que ela tenha te contado, nós fomos próximas assim como você e Yuna foram. Depois que ela herdou a Black Rose nós nos distanciamos um pouco. Mas ela sempre me amou como ama você. – A loira segurou as mãos de Victoria, a morena não sabia que eram tão macias quanto as de Yuna – E por mais mal que ela me faça, eu não consigo odiá-la. Eu desejo do fundo do meu coração que ela consiga realizar tudo que deseja. O que nos coloca em situações diferentes é que você resiste ao amor de Anita. Enquanto eu sou uma escrava daqueles olhos, exatamente como você dizia para Yuna. – Luise sorriu mais uma vez e se colocou de joelhos diante daquela menina. Vic ergueu uma sobrancelha, olhando com indiferença – Ela é minha dona, e eu um animalzinho engaiolado. Anita tirou Yuna de você porque queria ver o que ela faria se eu não existisse na vida dela, quer que você seja diferente. Nunca fui capaz de entender o que ela pensa, mas quem sabe você possa? – Luise deu um beijo delicado nas mãos e testa da garota, se levantando tranquilamente – Esse é meu lado ruim, eu sou submissa a ela por um tipo de amor cego.

Elas ficaram se olhando um pouco, Luise com seus olhos azuis e passivos e Vic sem saber como se meteu numa cena dessas. Ela quis rir e acabou rindo, Luise também riu um pouco e se despediu, ia se mudar de Sleepy Hill em breve.

-Durma bem.

Victoria de fato começou a sentir seu corpo adormecer. Anita também tinha suas bonecas e uma delas a pegou de jeito. Um erro?
Alguns minutos depois Vic se viu perambulando pela fazenda, não quis ir pra um quarto, estava completamente tonta. O sol estava raiando ao longe, ela largou a jaqueta na sala. Procurava um lugar que Luise tinha escondido de todos.

-Ervas ahn? Detesto wiccanas. – Conversava e ria sozinha, observando as fotos roubadas de Yuna e Elisha naquele pingente prateado – Pelo menos eu consegui Elisha. – Encontrou o que queria , aquele lugar parecia retirado de contos de fadas. Uma capela ou cúpula de vidro com cheiro de incenso leve e uma aura tão aconchegante... O sono de Victoria aumentou ainda mais lá dentro. Suspirou recordando de quando viu Yuna e Elisha abraçadas. Também não conseguiria escolher entre uma das duas, então era melhor colocar um ponto final sobre isso – Mas sabe... É melhor você cuidar da Yuna, não gosto de crianças choronas e acho que não nasci pra isso e... – Talvez Elisha pudesse ouvi-la agora. A morena riu mais uma vez, tinha ignorado a si mesma pra poder ver as duas felizes e juntas? O que Anita diria se soubesse disso?Andou para o centro daquele lugar lentamente e achou o que queria. Ali naquele lugar imaculado estava a garota de cabelos castanhos muito claros com seus olhos azuis fechados, deitada sobre uma espécie de túmulo coberto com as flores que ela tanto gostava, rosas brancas.

Tudo era tão irreal.

Luise conservou o corpo de Yuna ali, usando suas ervas de certo, por quase um ano. Estava exatamente como era, sem apodrecer nenhum pouco, parecia congelada como nos filmes, pra ser acordada de um longo sono anos depois. E realmente parecia tão viva...
O sol terminou de nascer e seu brilho refletia suavemente nas paredes de vidro daquele lugar, causando um calor agradável e confortável.

-Falando no diabo. – Vic se aproximou e agachou ao lado dela, na cama de rosas brancas – Prefiro você assim, bela adormecida. – Acariciou o rosto daquela garota e ela pareceu estar quente, ruborizada... Como sempre ficava nessas situações. Chegou a sentir uma fraca respiração vinda daquele corpo inerte. Era o sono... –Parece que sua mãe me pegou. Não importa se eu dormir aqui né? – Esboçou um ultimo sorriso e repousou a face sobre os braços que estavam em cima do leito de Yuna, fechando os olhos devagar – Vamos ficar juntas agora... As três. Então tudo bem...

Victoria soltou mais um risinho e adormeceu. Como uma criança.
Uma única rosa negra em meio a um jardim de rosas brancas.

O dia chegou em Sleepy Hill junto com as notícias, os corpos de dois jovens que estavam presentes no misterioso incêndio do edifício Blue Sky não foram encontrados. Mais um dos casos bizarros daquela cidade, a polícia nunca quis saber da verdade. E a culpa caiu num pobre vazamento de gás pra variar.

Aquela garota antissocial nunca imaginou que estaria metida num desses casos, era um tanto irônico, foi mais ou menos assim que ela soube de Yuna. E agora foi assim que seus ex-colegas iriam saber dela.
No fim ela não merecia morrer então?
Já que no seu mundo perfeito só quem não merecia encontrava a morte.
Ironia.
Ela sempre soube que não tinha nada de perfeito. Por mais errado que parecesse, tudo ia seguir normalmente. Assim como Yuna foi só mais uma, ela também foi. Não deixou marcas visíveis na cidade e nem nada, no fundo ela queria deixar alguma marca naquele mundo. Mas no final nada disso importou mais.
Ela descobriu coisas mais valiosas que o mundo.
Ou talvez não.
Quem ligaria afinal?
Agora o tempo pra viver seu sonho tinha chegado.
O seu “felizes pra sempre”.

Pro mundo aquilo não fazia diferença alguma mesmo,
Mas pra ela fez toda.
Tocante, não?
Foi o fim que ela escolheu.

The End (?)

“What is your most important treasure ?”