segunda-feira, 27 de julho de 2009

Capítulo X - Insanidade Destrutiva

-Você dorme bastante, Elisha-chan.

A voz que ela ouviu era calma e doce, o vento que ela sentiu na sua face e corpo era agradável e familiar. Elisha abriu os olhos com preguiça e viu um jardim, provavelmente na primavera, sua cama estava no meio dele e ela viu Yuna de costas pra ela, os cabelos loiros movidos pelo vento e as mãos cruzadas atrás das costas na altura dos quadris. Elisha perguntou onde estava e Yuna respondeu que era um sonho, e que ela iria acordar em breve.

-E por que eu sonharia com você? – Elisha se sentia sonolenta e coçou os olhos.

-Saudades? Talvez você goste de mim. É algo que você mesma vai ter que descobrir.

-Estou cansada de descobrir tudo sozinha.

-Mas você não precisa ser assim agora. – Ela caminhou até Elisha e se ajoelhou em cima da cama, na frente dela, olhando para a garota cabisbaixa- A Vic está aí com você.

-Ela me irrita às vezes.

-Cada um tem seu jeito Elisha-chan, ela gosta de você.

-E por que você esta tentando me empurrar pra ela assim?

-Não estou. –
O sorriso dela sumiu e ela disse num tom sério – Victoria Sullivan não é uma boa pessoa. Ela é legal e tem uma personalidade marcante, mas tome cuidado. Ela é esperta e tem objetivos ocultos.

Elisha não gostou muito do aviso, apoiou o rosto em uma mão e disse encarando Yuna:

-Interessante. Primeiro fala bem e depois mal. Eu não sou uma bobinha iludida Yuna, não vou baixar a guarda só por causa de um beijo idiota.

-É a sua cara dizer isso. – Ela voltou a sorrir e estendeu a mão na direção de Elisha – Uma pena que essa seja a primeira vez que você me chama pelo nome. – Elisha sentiu a mão de Yuna, que dessa vez não estava fria, mas macia e acolhedora, tocar seu rosto e puxá-lo pra perto devagar – Ela vai te guiar. Ela não quebra a palavra.

-Vic? – Yuna encostou a testa na de Elisha que perguntou e a olhou nos olhos, respondendo:

-Não. – Ficaram um tempo assim e Yuna se aproximou mais, sussurrando – Sua amiga invisível.

Quando o sonho parecia entrar no clímax, Elisha sentiu algo meio fino e alongado cutucar sua boca e língua por dentro e acordou assustada.
Mas dessa vez não era Yuna que estava lá, quando ela abriu os olhos foi com o rosto de Victoria que ela se deparou, estava sentada do seu lado na cama observando Elisha interessada e tinha enfiado o dedo indicador na boca da garota repentinamente.

-O sonho deve estar delicia pra você babar assim. – Murmurou Victoria, mexendo o dedo dentro da boca dela, cutucando sua língua. Elisha arregalou os olhos e corou, quando percebeu isso.

Tirou a mão de Vic de lá bruscamente com um empurrão que acabou derrubando a garota da cama pro colchão, mas ela foi rápida e segurou Elisha pela blusa, num lugar “estratégico” a puxando junto pro colchão. Agora por cima da “amiga”, Elisha tirou a mão de Vic de onde não deveria estar, segurando-a pelo braço e imobilizou a outra mão de Vic colocando o joelho por cima dela.

-Por que você estava com o dedo na minha boca? – Obviamente ela era mais forte que Victoria, principalmente quando estava irritada.

-Ai Elisha... Não me pega assim que eu fico excitada. – Vic riu num tom irônico e provocativo.

-Dá pra parar de ser pervertida o tempo todo?

-Ahn... Vocês não vão tomar café? – A voz do pai dela acertou a menina como uma facada. Ela nem percebeu ele entrar e pela cara de surpresa e constrangimento que ele fez ao ver a cena dava pra perceber que pensou o que não devia, Elisha quase enfartou.

-Tio! Chegou em ótima hora. – Vic soube como piorar o constrangimento do pai e da filha – Sua filha quer abusar sexualmente de mim!

O pai dela engoliu seco e quase caiu pra trás, com aquela cara de parecer ter visto um fantasma, mas dessa vez foi Elisha que quebrou o silencio, se levantando.

-Você não sabe bater antes de entrar não?

-Elisha você não me disse que era...

-Pára de imaginar coisas! – Ela interrompeu o pai, levantando a voz. Elisha passou um bom tempo tentando tirar da cabeça do pai que elas estivessem fazendo o que ele pensou, pra piorar Victoria não parava de rir.

No fim ela conseguiu convencê-lo de que não estavam fazendo nada pervertido, mas não conseguiu fazer-lo parar de pensar que elas eram namoradas, e Vic parecia estar adorando aquela confusão toda.
Era incrível como ela estava amorosa com Elisha, principalmente na presença do pai da garota durante o café:

-Abre a boquinha, minha anjinha! – Aquilo era brega, e ela queria dar comida na boca de Elisha.

-Eu sei comer sozinha. E para de me chamar assim. – Que obviamente recusava irritada.

Victoria se vestiu pra sair cedo, com um top vermelho e saia preta de couro com meia-calça e botas longas, pra Elisha estava parecendo uma prostituta vestida assim. Mas ela sabia o quanto Vic estava se deliciando provocar ela mesma e seu pai.
E quando chegou a hora de ir pra floresta, Elisha só colocou uma camisa preta e um jeans simples com tênis, fora a gargantilha que ambas sempre usavam.

O pai de Elisha desejou juízo a elas e Vic fez questão de responder rápido:

-Pode deixar tio. Meu segundo nome é “juízo” o primeiro é “sem”. Engravidar ela não vai. – Ela riu e quase acertou uma lata de lixo com o carro.

Elas já estavam na estrada quando ela disse pra Elisha, olhando o caminho sob seus óculos escuros:

-Pensei que você não quisesse vir.

-Não estava afim de ser interrogada sobre minhas preferências sexuais, e eu sei que aconteceria caso eu ficasse lá. – Ela estranhou a forma normal com que ela conversava com Victoria.

-Uhum. Desculpa sua pra não assumir que me ama.

-Bem que você queria.

-E eu sempre consigo o que quero. – Vic sorriu confiante.

-Porque você não tem família pra frustrar seus sonhos. – Retrucou Elisha, sem dar confiança, olhando as arvores passarem pela janela.

-Hm... Eu tinha uma prima, mas ela morreu.

Depois dessa frase Vic ficou quieta prestando atenção na musica do t.a.t.u. que tocava no seu aparelho de cd do carro. Pelo visto era o som preferido dela, Elisha também gostava dele, principalmente daquela musiquinha viciante chamada ‘Fly on The Wall’.

-O que tem nessa floresta?- Perguntou Vic, voltando a conversa, olhando Elisha de canto – Os meninos disseram que quase todo mundo tem medo de lá.

-Dizem que foi lar de uma bruxa uns séculos atrás. Atualmente as pessoas desaparecem lá as vezes, uma floresta de Blair menos famosa em resumo. – Respondeu rápido, sem desviar atenção da musica. Elisha entendia bem essas coisas – As pessoas chamam de assustador, eu chamo de interessante. – Completou.

-Você é assustadora, Elisha. – Victoria riu.

-E vocês covardes.

Victoria parou o carro numa área vaga perto da entrada, ao lado de uma van. Assim que as duas desceram, viram que mais gente além de Ryo e Jin estava lá. Vic cumprimentou e Elisha quis ir embora.
Ryo pareceu animado ao receber as duas e se apressou a apresentar os colegas de sala. Alem dele e Jin, James e Amanda estavam discutindo algo, briga de irmãos talvez; novas só Sayo Mishima, a nº 22, morena, cabelos longos, olhos castanhos e cara de menina culta, era fã de tranças e roupas exóticas como tocas, cachecóis e cores extravagantes, vegetariana e intelectual. Elisha sabia o quanto Sayo se considerava diferente das outras, mas aos olhos dela era outra idiota metida.
E Ariana Wieck, a nº 03, cabelos longos ondulados de um castanho avermelhado, seus olhos eram claros, verdes talvez, tinha uma pinta avermelhada na testa; melhor amiga de Sayo, também vegetariana só que mais “zen” e calma. Adepta da Wicca e amante da natureza, ela sempre anunciava isso pros outros, se chamava de bruxa. Pra Elisha ela era igual a Sayo e só usava esse papo pra aparecer e que na verdade não sabia quase nada de bruxaria real. Mas não foi por elas ou por Amanda que Elisha sentiu vontade de voltar pra casa, tinha mais alguém lá. Era o Joe, que disse ser bom ver que ela veio.
“Isso vai ser pior do que eu pensei.” Imaginou a garota, Vic se afastou dela dizendo que já voltava e foi falar com Jin:

-O que vocês decidiram, bonitinho?

-A gente trouxe cinco barracas então...

-Hm... Passar a noite aqui? Adorei a idéia.

Elisha não gostou de ouvir do que Vic o chamou, ficou imaginando se ela era atirada assim com todo mundo e pronta pra bater na própria cabeça caso Irene mencionasse a palavra “ciúmes”. Sayo e Ariana cochicharam algo sobre Elisha, que nem quis se esforçar pra ouvir. Uns minutos se passaram e Victoria ainda estava muito entretida com Jin, ela se isolou e ficou no seu canto sozinha, ainda irritada com o jeito da “amiga”.
Até que Amanda se aproximou eu disse provocando:

-Decidiu sair da cova, Sayonomi-san? Sua roupa não combina com floresta.

Elisha pensou em uma resposta como de costume, mas dessa vez ela saiu pela boca de alguém, surpreendendo a garota:

-Ela não combina mesmo, mas você está perfeita pra floresta! Só não falo que bicho você parece pra não ofender o animalzinho – Era Victoria que passava por Amanda e piscou cínica pra garota

– Estou brincando viu, fofa?- Ela riu e pegou Elisha pelo braço como de costume, a levando pra procurar uma clareira pras barracas, perguntando pra ela se existiam vacas ou galinhas naquela floresta e deixando Amanda estática, tomada de raiva. Parecia que ela leu a mente de Elisha quando deu tal resposta, mas ela não se importou, Elisha adorou aquilo. Vic tinha derrotado Amanda, a deixado no chão usando do seu próprio veneno, e isso foi simplesmente demais.

Depois de achar o tal local adequado pras barracas perto de um penhasco, Jin tomou a liderança do grupo e falou em tom alto pra todos:

-Seguinte, como nós temos cinco barracas vamos ter que dormir em duplas, então ficaria Ariana e Sayo, James e Amanda, eu posso dormir com o Ryo ou o...

-A Sayonomi gosta de ficar sozinha, então eu posso dormir com a amiga dela se não tiver problema. – Joe interrompeu, dando a sugestão com seu ar falso de bom moço.

-Joe... – Jin sabia como ele era e ia protestar, mas foi interrompido de novo.

-Ok, não vejo problema nisso. – Dessa vez foi a própria Victoria, Elisha voltou a ficar irritada e a encarou – A menos que você tenha algo contra Elisha.

O que diabos ela estava pensando? Elisha tinha falado sobre Joe pra ela na internet. Seria mais um joguinho de Victoria pra fazer parecer que Elisha gostava dela?

-Por que eu teria?- A resposta da morena foi mais seca que de costume.

-Tudo bem então. - Vic cobriu os olhos com os óculos de sol, dessa vez sem sinal de sorriso malicioso. Elisha voltou a ficar ainda mais irritada com ela que antes, só não foi embora naquele mesmo segundo por preguiça de andar.

“Fala que você quer dormir com ela de uma vez!” Murmurou Irene, Elisha ignorou. Victoria era igual a eles, tudo aquilo de diferente devia ser ilusão, ela não passava de outra vadia.
Elisha aturou tudo aquilo bem até a noite, evitando todo mundo, até que os meninos começaram a cantar Nirvana com um violão em volta da fogueira e como Ryo era desafinado. Todos estavam rindo e se divertindo com aquilo quase todos bêbados, inclusive Victoria.
Elisha não suportava mais olhar pra ela, estava com muita raiva daquela situação toda e só conseguia pensar em ir embora. Nem sabia por que ainda não tinha ido pra sua barraca “VIP”.

-Acho que bebi demais. Quer ir me ajudar a fazer xixi? – Vic sussurrou rindo pra ela, obviamente a resposta foi negativa. - Então eu já volto.

Ela deu uma olhada rápida em Vic se afastando pra floresta e voltou sua atenção pra idiotice sentido que seus colegas chamavam de diversão. Após dez minutos ela ainda não entendia como podia ser tão diferente deles, mas antes de tentar ouviu Irene rir.

-(Que foi?)

-Seu amigo não está aqui.

Ela entendeu imediatamente o que sua “amiga invisível” quis dizer. E sentiu um aperto muito forte no peito. Joe não estava lá.
Elisha pensou instantaneamente em Victoria, ela estava bêbada e era fraca fisicamente. Levantou-se e foi na mesma direção que ela, ouvindo Ryo perguntar onde ela ia, Amanda mencionar algo sobre ela ir atrás da namorada e James xingar Ryo, ignorou todos. Eles não importavam mais. Quando notou já estava correndo no mato tentando achar Victoria o quanto antes. Pelo menos antes de Joe.
Por que ela fazendo aquilo, mesmo depois de tudo?

-Você gosta dela talvez. - Foi a resposta de Irene.

-(Não. Eu tenho que pagar pra ela o que devo) – Retrucou Elisha ainda correndo.

-Só por ela ter tirado a outra guria pra te defender? Admite sua idiota! – O som foi agudo e quase fez Elisha cair- Não é só por isso!

-(Dane-se. Ela estava bêbada.) – Elisha retomou o equilíbrio, não podia cair agora- (E aquele cara foi atrás dela com certeza.)

E ela estava certa, sempre estava talvez. Achou Vic e Joe perto das pedras, na beirada do penhasco e ele parecia bem mais bêbado que ela. Até com um uma garrafa estava na mão. Elisha decidiu ouvir a conversa antes de qualquer coisa.

-Eu tava de olho em você desde que chegou. Você é mais bonita que todas as meninas da minha sala juntas.

-Ah é? – O que ela tinha na cabeça pra falar nesse tom malicioso? – A Elisha não parece gostar de você.

-É que eu vi ela bêbada, daí ela deu em cima de mim e eu peguei ela. – Mentiu Joe.

-Eu sou bem pior que ela quando bêbada. – Vic pareceu ter percebido, mas porque continuou usando aquele tom malicioso?

-Quero ver isso. – O garoto esboçou um sorriso pervertido.

Victoria subiu em uma das pedras, olhando pra ele com um olhar até mais pervertido que o do próprio. Elisha não acreditou quando ela tirou aquele top pela parte de cima do corpo e o largou no chão, tapando os seios só com os braços e chamando Joe com o dedo. Elisha empurraria aquela vadia de lá de cima caso alcançasse, de tanta raiva. Mas no momento em que ela pensou nisso, entendeu tudo.
Joe não resistiu àquela visão e partiu pra cima de Vic sem hesitar, e não percebeu o brilho diferente no olhar da garota.

Joe subiu lá num salto, Vic só precisou dar um passo pro lado.
Foi tudo como ela planejou, a garrafa na mão dele impediu que se segurasse e a outra mão não alcançou as beiradas. Antes de cair a voz de Victoria ecoou satisfeita:

-Ela não daria em cima de você nem bêbada. – O olhar dela tinha mudado completamente. Aquela malicia agora beirava a pura psicose, e aquele sorriso era no mínimo macabro. – Me desculpa, mas eu sou possessiva. E avisei que era pior que ela bêbada.

Ele gritou antes de despencar daquela altura, mas parecia que ninguém ouviu e pelo baque, talvez ele tivesse batido em alguma pedra antes de cair no rio.
Victoria era insana a ponto de matar alguém assim?
Provavelmente tinha sido por Elisha, por que ela quis se vingar dele desse jeito? Ela mesma já tinha dado o troco, porque Vic quis ainda mais?
Elisha saiu de lá rápido, pois se a policia descobrisse ela não queria ir pra cadeia como cúmplice por causadas loucuras de Victoria. Joe merecia pior que aquilo pra ela, mas ela não estava disposta a sofrer as conseqüências.
“Cada dia que passa eu gosto mais dela!” Elisha não pensou no comentário de Irene, apenas achou que Yuna estava certa naquele sonho. Era melhor manter os olhos abertos quando se tratasse de Victoria.
Voltou pra sua barraca e só Amanda, James e Jin estavam lá fora conversando baixo. Jin acenou pra ela desejando boa noite e ela acenou de volta com a cabeça entrando na barraca.
Tirou o moletom e o jeans, colocando os shorts do seu pijama que eram mais confortáveis, se deitou no chão e ficou acordada pensando em Vic e Joe por um bom tempo.

-(E eu planejando salvar ela. Como se ela fosse indefesa.)

Ela ouviu um barulho lá fora e teve a impressão de ver uma sombra de alguém disforme projetada barraca, ela se assustou porque as vozes dos colegas tinham parado há alguns minutos e os barulhos estalados continuaram cada vez mais próximos. Ela se lembrou de onde estava então, uma “floresta assombrada”, revirou a mochila até achar um canivete que ela começou a guardar consigo desde aquele encontro com Joe no beco. Abriu o canivete e observou um pouco a lamina que estava bem afiada, o zíper da cabana começou a abrir então. Seu coração acelerou e ela murmurou um “Pode vir” bem baixo.
No momento em que ela viu quem era, achou que talvez fosse melhor ser um monstro ou fantasma, pra Elisha aquilo era bem pior. Foi Victoria quem entrou lá e a encarou:

-Por que o canivete? Quer me matar é, Elisha? – O clima que ela criou foi terrível e o canivete na mão de Elisha só piorou tudo – Está com medo de mim?

A garota respirou fundo e baixou a lamina, Vic ainda estava com traços daquele olhar de antes e estava falando estranho.Elisha achou melhor agir normalmente:

-Te matar? Depende. O que você veio fazer aqui?

-Minha barraca tá meio vazia e eu não gosto de ficar sozinha. Daí vim dormir aqui com você, posso?- Ela estava séria demais, aquilo deixava Elisha cada vez mais insegura. Era como se Victoria tivesse ido lá só pra dar um fim nela também. Elisha queria acreditar que ela não seria capaz disso, respondeu a encarando friamente:

-Depois de tudo que você fez sem me pedir, por que começar agora?- Vic se sentou do lado de Elisha em silêncio, a própria Elisha tentou puxar assunto pra quebrar aquele clima – Está bêbada mesmo.

Victoria continuou calada, tirou as botas com os pés mesmo e em seguida deslizou as mãos das coxas aos pés, tirando a meia-calça. Elisha agradeceu aos deuses por ela estar vestida com o top de novo, mas ainda assim comentou:

-Não acha que está se despindo demais? – Aquele silêncio de Vic estava a torturando bastante.

Estava quase convencida de que ela ia fazer algo, quando terminou com as meias Vic disse lançando um olhar frio:

-Elisha, você ainda está segurando o canivete.

Ela se cansou daquilo e largou o canivete, decidiu colocar as cartas na mesa:

-E por que o tal do Joe não esta na sua barraca? Ele tava tão empolgado com você. – Sua calma foi incrível e ela realmente pareceu não saber de nada, colocou uma mão por detrás da cabeça e deixou a outra próxima ao canivete, fazendo cara de despreocupada.

-Você jura que não sabe? Eu não sou idiota, Elisha. - Aquilo não foi suficiente pra enganar Vic, que se movimentou rapidamente e sentou-se sobre o ventre de Elisha, deixando-o entre suas coxas e murmurando pra ela – Eu te vi lá.

Victoria apanhou o canivete ao lado de Elisha calmamente e fitou a lamina dele por alguns segundos, tornando a olhar pra amiga. Ela tocou os lábios da garota com as pontas dos dedos e ficou admirando o rosto dela com um misto de carinho e frieza.

-Eu não fico bêbada tão fácil, mas ele ficou e caiu. – Aquilo soou como uma intimidação – Se você insistir que não viu, você mente muito mal.

Elisha não gostou do jeito que Victoria falou, ela preferia aquela tarada louca que tinha conhecido ontem, mas se manteve firme e não ligou mais pro perigo da situação.

-Você também mente muito mal se não estiver sendo irônica agora. – Elisha a olhou nos olhos e não desviou o olhar um segundo se quer – Se for me matar também, anda logo. Não pretendo perder mais nenhum pouco de tempo nesse mundo.

Vic mudou seu jeito de olhar e fechou o canivete como se tivesse saído de um transe.

-Eu fiz aquilo por você...

-Você é tão romântica. Assim meu coração não agüenta. – Elisha foi sarcástica.

-E você é terrível sabia? – Aquele sim era o ar normal de Victoria, se é que podia chamar de normal. Ela colocou o canivete entre os quadris e os shorts da garota, preso no elástico dele e a segurou pelo queixo murmurando baixinho:

-É bem pior do que eu pensei, desse jeito nós vamos juntas pro inferno.

-Por mim tanto faz, lá não deve ser pior que aqui. Ele merecia coisa pior que aquilo. – Ela fechou os olhos pra não encarar Victoria, sentindo a respiração da garota tocar seu rosto. Elisha teve uma idéia do que viria a seguir.

-E pensar que ela era apaixonada por você... Eu ate entendo agora. Você é estranhamente atraente Elisha. – Vic segurou as costas dela com a mão restante e sussurrou já muito próxima- E eu nunca fui muito boa em resistir a tentações.

Elisha acertou de novo, Victoria a beijou. Mas dessa vez ela não ligou, mesmo que seu corpo conseguisse reagir ao contrario do primeiro beijo, aquele foi mais agradável, parecia que os lábios dela estavam ainda mais macios e tentadores, Elisha se deixou envolver e até retribuiu um pouco ao sentir a língua dela de certa forma acariciar a sua.

Depois que se afastou saindo de cima do abdômen dela, encerrando o beijo, Vic acrescentou mais algumas palavras:

-Uma vez me disseram que tudo nesse mundo depende da nossa vontade. Ser feliz, triste, forte ou fraco, até justiça depende disso. – Ela estava sonolenta e abraçou Elisha, ajeitando a cabeça do lado da dela, sobre seus cabelos e fechando os olhos, terminando:
-Não é que eu seja má, eu só tenho uma maneira radical de defender quem eu amo.

Vic deu um beijo suave no rosto dela, próximo ao pescoço e caiu no sono, dessa vez sem se virar de costas pra ela.
Era estranho como Vic parecia tão frágil, inocente e indefesa ali abraçada nela, lembrava uma criança cansada depois de brincar o dia inteiro. Elisha não acreditou que se tratava da mesma garota insana que ela viu hoje.
Ela não entendia porque se importava com Vic, não entendia porque ela conversava normalmente com ela ou por que ficava irritada tão fácil com o que ela fazia as vezes ou ainda porque ela fazia essa irritação sumir pouco tempo depois sem deixar vestígios, como agora. Victoria era um objeto de estudo, quando se tratava de mexer com a cabeça de Elisha.

Ela nunca tinha dormido assim com alguém, a não ser sua mãe.

-(Amor... Ela também o mencionou. Até ela. Quanto tempo se demora pra amar alguém afinal?)

-Depende da pessoa. – Respondeu Irene- Pra ela deve ser bem pouco.

-(E pra mim? Tem alguma sugestão?)

-Isso a gente vai ter que descobrir!- Irene achou a pergunta engraçada.

-(Como se eu quisesse.)

Elisha tirou o canivete de onde Victoria tinha colocado e o jogou pro fundo da barraca, fechando os olhos e adormecendo ao lado dela.
Irene riu mais um pouco, talvez ela estivesse amolecendo.
E talvez isso fosse facilitar as coisas.

3 comentários:

  1. Começou a ficar bom aqui na minha opinião, Victoria mostrando a verdadeira face. rs
    Agora que Elisha vai começar a notar no meio do que ela se meteu...
    Enfim, aishiteru Vic. *-*

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  2. Uau!!!
    Essa Victora é bem louca mesmo. No Insanidade Construtiva ela foi mais divertida. Já nesse, foi bem destrutivel mesmo. [tenso] kkkkkkk

    Flw Joe, isso que dá ser tarado. Se fudeu, "literalmente". -q

    D.

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  3. PS: Escrevi o nome da VICTORIA errado, malz ae, eu tava rindo na hora que digitei. -qqq

    Bjs. '-'/

    D.

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