terça-feira, 28 de julho de 2009

Capítulo XVII - Ressureição

Faltar aula, um alivio. Por outro lado assim só se adia o inevitável, porem daquela vez foi necessário. As duas garotas não tinham uniformes, nem roupas intimas e materiais escolares. Pra Elisha aquilo foi como um recomeçar do zero, um “renascer”, já para Erin... Eis um mistério.
Emily se encarregou dos materiais e uniformes, elas teriam que ficar com a parte que toda guria totalmente normal adora: comprar roupas.
E incrivelmente o pai de Elisha deixou pra ela uma excelente quantia em dinheiro, foram as compras mais livres que a garota fez, já no caso de Erin, Emily adorou pagar tudo que ela quis.
Elisha nunca esperou que estar com alguém tímido pudesse ser divertido. Erin parecia ser mesmo o exato oposto de Vic, estabanada, boazinha e meiga. Passava para a morena certa vontade de querer protegê-la, com Vic era o contrario, Elisha é quem se sentia segura.
Era até legal abusar da ingenuidade da garota de cabelos prateados, Elisha se sentia uma Victoria Sullivan quando fazia Erin experimentar e comprar algumas roupas de “Lolita”. Era só dizer que garotas comuns usavam aquilo, talvez um fetiche.
Já tinham comprado todo necessário, desde roupas, acessórios e chocolates à absorventes. Então Elisha se ofereceu pra pagar um sorvete pra sua nova companheira de quarto, mas acabou vendo uma daquelas “lojinhas místicas” e decidiu ir dar uma olhada, deixando Erin ir sozinha comprar o sorvete, ela mesma queria alguns incensos. Já estivera lá antes, o shopping de Sleepy Hill era gigantesco luminoso e bonito, mas aquela loja chamava bastante atenção pra si própria. Era a maior loja de artigos e coisas do gênero do estado, ou talvez do país, até pessoas que eram contra tais coisas “místicas” entravam por curiosidade, até mesmo porque pra se morar em Sleepy Hill tinha-se que estar acostumado com coisas do gênero pelo menos um pouco.
O nome da tal loja? Enchant.
Os produtos de lá sempre foram interessantes pra Elisha, mas só agora ela tinha a oportunidade para comprar o que queria, livros ocultistas, baralhos de tarot luxuosos, incensos de diversos aromas, enfeites de fadas e gnomos e afins, a garota nem pensou no preço. O que a fez parar as compras foi uma voz familiar às suas costas.

-Fazendo compras? É bom te ver bem. – Aqueles cabelos louros e claros, combinados com os olhos idênticos aos de Yuna entregavam a mulher.

Luise Kayoshi, elegante e simples como sempre, nos seus vestidos claros. Já sabia dos acontecimentos pelo visto, Elisha sabia do lado espiritual dela, mas não imaginava que ela fizesse compras desse tipo pessoalmente.

-Luise... O que você...

-Sou dona dessa rede de lojas. –
Respondeu com um sorriso.

A mulher a convidou para beber algo e ela aceitou. Queria mesmo contar para Luise o que houve na casa dos Ishida na floresta e tinha perguntas, foram pra uma salinha afastada das estantes e vitrines, sentaram-se numa mesa redonda onde Luise mandou servir cookies com gotas de chocolate e um suco daqueles de soja, sabor laranja. Elisha contou sua historia aos poucos, sem omitir nada. Luise ouviu atentamente e só comentou quando a garota terminou.

-Sinto muito por Victoria, mas... – Elisha soube o que ela ia dizer.

-É, eu sei que os Sullivan são traiçoeiros agora.

-Por que está me contando tudo, Elisha?

-Porque eu quero saber mais sobre esses Ishida.

-Você já se envolveu demais. Quase morreu por isso.

-Por isso mesmo eu tenho direito de saber.

-Tudo bem. –
Luise suspirou – Os escolhidos por esse clã geralmente tem sangue japonês e irlandês nas veias, o clã em si descende de um dos maiores generais japoneses da época da unificação, após Oda Nobunaga. Dizem que ele decidiu deixar o Japão pra viajar pelo mundo quando já em idade avançada e então foi parar na Irlanda, lá ele conheceu uma bruxa albina e a tomou como esposa, ambos se casaram e por influencia dela, criaram o clã Ishida membro da Black Rose, que estava tomando forças nessa época. – Elisha se interessou ainda mais ao saber que aquela sociedade oculta era tão antiga – O ultimo líder desse clã foi Tetsuo Ishida, até que ele escolheu Kasuya como seu sucessor. Esse garoto e sua gêmea vieram de uma família militar moderna e rígida da Irlanda, e como o filho homem, Kasuya não teve infância. Nem gosto de imaginar os treinos pelos quais ele passava quando pequeno, Kasuya se voltou contra seu pai biológico por causa da irmã, mas foi punido por isso. Tetsuo o encontrou quase morto aos pés de um penhasco e acolheu o garoto, o treinando no estilo próprio dos Ishida. Eles são o clã mais “guerreiro” da nossa irmandade. E Tetsuo deu o que Kasuya queria, vingança. – As palavras saiam com calma e pausadamente dos volumosos lábios de Luise. Parecia uma mãe contando pra filha uma historia pra dormir – Mataram toda sua antiga família, mas o preço veio de surpresa, foi demais para Kasuya aceitar. Devido as tradições da Black Rose, a irmã dele teve que ser sacrificada ainda na pré-adolescencia. Kasuya passou a odiar Tetsuo e a Black Rose desde ai. Então numa noite ele assassinou todos os Ishida de onde estava incluindo Tetsuo. Mas não foi o suficiente, ele queria também a cabeça da nossa líder, Anita Sullivan.

-E? – Elisha não deixava Luise fazer pausas.

-Kasuya nunca conseguiria encostar um dedo em Anita.

-Ela também sabe kung fu e essas coisas? –
A garota foi irônica.

-Não, mas ela possui as duas armas mais mortais desse mundo. Sua própria presença e a proteção do clã Kaori.

-Mas os mais perigosos não eram os Ishida?

-Depende do ponto por onde se enxerga, os Ishida tem alguma honra. Já os Kaori são astutos e cheios de truques, são invisíveis como sombras, rápidos e venenosos como cobras e também sabem como matar com golpes únicos e fatais. Kasuya foi derrubado fácil por eles, mas Anita poupou a vida dele. Fez dele o novo líder do clã Ishida. Mas ele se exilou em Sleepy Hill aos quinze anos, entretanto, estuda com você desde então.

-Ele é líder de algo tão grande assim? Tipo uma família da Yakuza? –
Era inacreditável, Kasuya era cada vez mais assustador aos olhos da garota.

-Anita se cansou de Tetsuo, o achava velho demais e o descartou. – Era terrivelmente comum ouvir que a mãe de Vic via vidas humanas como objetos descartáveis, ela não duvidava. Isso somente a fez lembrar de Victoria, quando ela matou Joe e disparou contra Kasuya e Erin sem hesitar. Luise levou alguns dedos ao queixo – Se você me diz que a irmã de Kasuya está viva agora, eu posso ter um palpite do motivo pelo qual ele aceitou a liderança do clã Ishida.

-Acha que tem alguma ligação com a morte de Yuna? –
Elisha já sabia que ele era o assassino, sabia do tal ritual e Erin não era mais um fantasma. Tinha que ter uma ligação, por mínima que fosse.

-Sim. Anita e Kaori Sadako terem vindo pra Sleepy Hill sem me avisar e ainda encontrarem você é igualmente estranho. – Então Sadako era uma dessas “Kaori”. Difícil acreditar que uma garotinha amante de doces e de cabelo cor de rosa fosse perigosa – Se por acaso se sentir ameaçada, não demore a me ligar Elisha.

A porta daquela sala agradável se abriu repentinamente, a conversa foi interrompida por ninguém menos que Erin, estava procurando Elisha e a deixaram entrar ali.

-Elisha, o que você está fazendo nessa loja estranha? Já acabei meu sorvete.

-Ela é a Erin? –
Luise apagou seu sorriso habitual e se ergueu da cadeira com uma feição extremamente surpresa – Sim... Agora eu entendo...

Elisha ficou em silencio, observou a mulher se aproximar da outra garota, parecia fascinada ao ver Erin que não entendia por que tanta alteração, assim como Elisha.

-A irmã ressuscitada de Kasuya... É você... – Erin não entendeu então Luise se apresentou exibindo um belo sorriso - Olá Erin. Meu nome é Luise Kayoshi. – Parecia até emocionada, sua voz estava até um pouco tremula e hesitante.

-Ah, oi! – Erin não se mostrou tão indiferente, Luise passeou com os olhos pelas duas.

-Podem pegar o que quiserem aqui ok? É por conta da casa. – A morena soube que acabaria nisso, Luise não a deixaria pagar nada. Erin abriu um largo sorriso.

-Mesmo? – Luise acenou a cabeça positivamente – O-obrigada Luise!

Erin puxou Elisha pelo braço e foi escolher suas coisas sorrindo. A menina de cabelos negros não desviou o olhar de Luise, ela parecia querer chorar de tanta emoção, mas simplesmente sorria. Sempre sorria.
Depois de todas compras, ao anoitecer, elas estavam no estacionamento do shopping que era a céu aberto. Se despediam da mãe de Yuna. Elisha se recusou a deixar que Luise pagasse por tudo que elas compraram, mas a loira insistiu tanto que a garota cedeu. Erin parecia muito feliz, se despediu e já estava de saída depois que Luise disse que ia providenciar entrega domiciliar pra elas, mas a mulher a chamou.

-Erin... – A menina parou, e Luise aproximou-se tocando a face dela com suas mãos macias e a olhou nos olhos, seus próprios olhos exibiam um ar carinhoso que fazia tudo ao redor parecer aconchegante e calmo, sereno e doce. O sorriso sempre presente era radiante, emocionado assim como o olhar – Aproveite sua segunda chance e seja feliz. Não deixe de sorrir também, em momento algum.

-Tá bom! –
Erin pareceu bem mais viva, sorriu de forma infantil e alegre, fechando os olhos apreciando a breve caricia daquela desconhecida – Obrigada.

Só então Luise a deixou ir, a garota de cabelos prateados estava longe quando Elisha, que se sentiu uma penetra na cena, dirigiu sua voz pra Luise que olhava Erin se afastar.

-Tem certeza que só conheceu ela agora?

-Oh... Desculpe-me. –
De fato estava emocionada. Enxugava lagrimas que enchiam seus olhos azuis – Eu sou sensível demais.

-Sei. –
A garota pousou a mão no quadril, com um olhar acusador.

-Você deveria tentar também. – Continuava a olhar pra Erin.

-Ser sensível? Dispenso. – Luise riu e virou-se pra Elisha, era parecida demais com Yuna usando aquele olhar.

-Cuide bem dela ok? E seja forte. Eu posso ver através desse seu sarcasmo e insensibilidade que você usa como armadura.

Elisha se calou e deu tchau com a mão, se afastou pra junto de Erin. Luise estava certa, por trás daquele seu ar indiferente ela ainda sofria em silencio. Não conseguia esquecer Victoria, seus sonhos em estar com Yuna, tudo aquilo a corroia por dentro e ninguém iria ajudá-la. Queria gritar, mesmo imperceptivelmente. Só disfarçava muito bem.

-A Luise é tão legal!

-É sim... –
Erin estava animada, já Elisha perdeu sua pouca animação pras palavras de Luise. Doces, mas dolorosas.

-Quero ser igual ela um dia! O sorriso é lindo!

Sorrir. Era o segredo de Yuna e Luise, agora o de Erin também. Como elas conseguiam? Elisha não entendia a mente dessas mulheres, de onde elas tiravam aquela força toda.
A garota de cabelos brancos falou de Luise a noite toda e as compras chegaram no mesmo dia. Elisha falou sobre Luise pra Emily e decidiu pedir ajuda para a loira no caso das filhas da professora.
As aulas começaram no dia seguinte, Erin parecia se lembrar um pouco do 3º ano então Emily não teve problemas em colocá-la na mesma sala que Elisha mesmo no fim do ano. Só iam precisar repor algumas aulas.
No dia seguinte elas acordaram bem cedo, Emily mesmo fez o café. A morena não estava acostumada a comer pra ir ao colégio, mas aceitou. A professora não foi com elas, pois ia entrar mais tarde nesse dia, então as duas garotas seguiram caminho, trajando aquele uniforme preto. Erin questionou Elisha demonstrando-se insegura quanto à escola, o que acontecia lá. Péssima pergunta feita pra pior pessoa que podia respondê-la, Elisha ergueu uma sobrancelha.

-Escola? – Encarou Erin – Esquece o que Emily disse, ela não sabe de nada. – Já estavam na entrada do colégio quando o assunto surgiu e a morena apontou pra alem daqueles portões – Aquilo é um ninho de cobras. Metidos, idiotas, mesquinhos e ignorantes que só se importam com si mesmos.

-To com medo. –
Parecia sincera, a expressão de insegurança e a voz chorosa dela eram engraçadas. Era maldade assusta-la assim, mas pra Elisha assim era a vida.

-E deve ter mesmo. Ninguém lá vai ligar pra você, assim como não ligam pra mim.

Então a morena tomou um susto, foi abraçada do nada. Erin ficou observando confusa.

-Elisha, graças a deus você ta viva! – Elisha corou, sentiu uma forte aceleração nos seus batimentos. O autor de tal gesto súbito foi Jin e o efeito do tal abraço foi inesperado. A morena não se sentia confortável em contato físico com homens, acabou sem ação.

-Me disseram que você explodiu e... – Jin percebeu que tinha se empolgado demais e se afastou sem graça – Perto demais?

-É... –
Mesmo com ele afastado o constrangimento não passou.

-Foi mal, é que eu fiquei preocupado de verdade.

-Sobre o James... –
A garota mudou de assunto, se sentia culpada, mas não sabia como se desculpar por algo daquele porte.

-Eu to sabendo. – Ele sorriu, mas parecia abalado com a morte do amigo. Elisha desviou o olhar e ajeitou os cabelos negros, o deixando falar – Ele era durão, não ia querer reações emotivas da nossa parte. Não esquenta, ele sabia o que fazia, se ele te protegeu a esse ponto eu fico é orgulhoso de ter um amigo como ele.

-Ok... – Aquilo aliviou um pouco.

-E a Vic? – Não achava que ele soubesse que ela esteve lá, mas não queria tocar nesse assunto nem com ele e nem com ninguém.

-A partir de hoje Victoria é assunto proibido.

-Então vocês brigaram feio mesmo. –
Ela esqueceu totalmente do constrangimento e o encarou com um olhar irritado – Ta, parei. Mas é bom te ver respirando ainda... – Se despediu das duas e acenou com a mão, indo pra dentro do colégio – Ah, depois apresenta sua amiga.

Depois que ele se foi Erin olhou tímida, falando num tom inocente, mas que soou provocativo.

-Elisha, acho que ele liga pra você.

-Cala a boca... –
Elisha se sentiu ridícula, pois a cena a fez engolir cada palavra que disse a Erin há pouco. Foi ironia demais.

-É seu namorado?

-Não! –
Aquela inocência de Erin era bem inconveniente mesmo.

Era outro dia de aula comum, sala cheia, falatório, porem agora tinha alguns lugares vagos e motivos diversos pra isso. Kasuya foragido, James degolado, Joe caiu, Yuriko suicidou-se, Taichi atropelado e Yuna... A garota morena nunca soube ao certo o que houve com ela, mas era irônico que a única que nunca esteve ali de verdade, agora estivesse. Ali ao lado da professora, na frente de toda sala.

-Essa é a srta. Erin Nayami, ela vai estudar conosco até o fim do ano.

Apresentações, gritos de boas vindas, risadinhas maldosas. Era sempre assim. Tiveram duas aulas normais e a terceira foi vaga, Erin não sabia o que era isso.

-Em resumo, você deu sorte. – Elisha estava adorando explicar do seu jeito, mesmo com aquela cara de tédio. Tinham ficado na sala, nada de Jin pra apresentar pra amiga.

-Ahn... Eles parecem simpáticos.

-Claro que são. E vão falar mal de você pelas costas. – Sempre foi assim mesmo, talvez Jin fosse legal, mas era o único naquela sala. Elisha até gostou quando ouviu as palavras “Elisha Sayonomi” e “vampira” vindas de um grupinho que estava conversando na sala, finalmente ia se provar certa pra Erin – O que eu disse?

Era Jenny que estava conversando com Ariana, Haruna e Leon, aquela infeliz devia estar com raiva pelo que aconteceu no Midnight ainda e provavelmente estava falando mal dela pra todo mundo pra se vingar.
Porem quando Elisha e Erin prestaram atenção na tal conversa, a morena se frustrou ainda mais do que com Jin, engoliu tudo que pensou e disse de novo.

-Uhum, A Elisha tava muito linda de vampira no Midnight, precisa ver a amiga dela que apareceu lá também! Era uma lady inglesa bonitona que acaba com qualquer homem! A Elisha é incrível, até sobreviveu aquele acidente numa boa. Meu pai deu até emprego pra ela. – Erin achou aquilo hilário e segurou o riso, já Elisha estava boquiaberta, horrorizada – Ela é quieta, mas é a menina mais gente boa da escola e é minha amiga. Ah, ela ta olhando pra cá!

Aquela cena foi ridícula, os colegas começaram a acenar pra elas freneticamente. Elisha só ergueu a mão, querendo sumir dali e Erin retribuiu aos acenos da mesma forma, se voltando pra Elisha depois.

-Acho que eles gostam de você.

A morena achou melhor ficar calada pra não ser contrariada tão cruelmente de novo. Haruna até brincou e soltou um “gostosa” piscando pra ela.

-Que diabo ta havendo aqui? – pensou alto.

O sinal pro intervalo não demorou, Elisha esqueceu do assunto e perguntou se Erin estava com fome, ela mesma não comia nada na escola, mas lembrou dos sanduíches da antiga Erin. A garota albina acenou positivamente com a cabeça e a morena se levantou saindo de lá e olhando pra trás, esperando Erin segui-la. A garota se ergueu ligeira e correu pra ela, a segurando pelo braço e sorrindo timidamente.
Ela ficou sem jeito, mesmo por que Erin parecia sincera quando dizia gostar dela. Não ligou, elas foram pra cantina e não enfrentaram filas, Kaworu estava lá com Ted e comprou o lanche pra elas. Aquela gentileza vinda da parte de todos era demasiadamente estranha, não se sentia a vontade com aquilo. Ainda se achava deslocada e diferente demais deles.
Por fim elas acabaram no terraço, o lugar preferido de Elisha naquela maldita escola e o único que ficava deserto o tempo todo, Erin estava sentada atrás da morena e ela estava de pé, atrás das grades de proteção, sentindo aquela brisa forte e fria.

-Quer um pouco? – A frase típica daquela menina.

-Não, valeu. - E a resposta também não mudava.

-Você gosta de tomar vento né?- Erin observava a movimentação dos cabelos e roupas de Elisha atentamente enquanto essas dançavam com o vento. A morena afirmou com a cabeça e Erin disse inexpressiva quando o vento se atreveu um pouco contra as saias da garota em pé – Essa calcinha preta combina com você Elisha.

Pouco ligou, ela era ingênua pra falar com alguma maldade.

-Ou você é pura demais ou se faz de besta. – Ela não olhou pra Erin, apenas bateu de leve o indicador na própria testa, murmurando – Quase me esqueci. Tenho que resolver algo que fiquei devendo.

-Posso ir junto?

-Não. Eu tenho que fazer isso sozinha, vai pra sala e não dá conversa pra ninguém.

-Mas eles parecem tão legais...

-Eles estão é tramando alguma. –
Deu as costas e saiu.

Amanda Redriver, era difícil acha-la quando se queria achar. Elisha tentou o banheiro feminino, já que não viu ela no caminho. A porta estava fechada, não costumava estar. Abriu-a de qualquer modo mesmo, então o cheiro de desinfetante veio, junto com uma voz agressiva:

-Ei, bate antes de entrar!

A dona da voz era Sacchi Nakagawa, a nº21, Elisha havia relacionado essa garota a James por ela ser alta e agressiva, mas não tinha nada a ver com o rapaz. Usava cabelos curtos bem penteados, mas espetados nas pontas, e eram negros, algo que acentuava seu ar perigoso. Olhos também negros e corpo atlético, o que a tornava o ás do quesito esportivo feminino da sala. Sacchi era uma “bad girl”, não gostava de Elisha.
A voz dela foi seguido por um gritinho envergonhado, havia uma garota menor ali e estava sem camisa, apenas um sutiã azul claro e as saias do uniforme. Era loira, de um loiro muito claro, olhos azuis também muito pálidos e um corpo bem curvilíneo e acentuado para sua estatura baixa. Era linda, as únicas coisas que cobriam seu torso seminu eram os cabelos louros que lhe caiam às costas e a blusa do uniforme que ela mesma colocou sobre o busto. Atendia pelo nome de Chisame Kayoki, era a nº 16.
A cena foi “suspeita” demais a primeira vista, mas Elisha soube deduzir.

-Foi mal. É que ninguém costuma se trocar fora das cabines. – Era embaraçoso, mas ela não ligou tanto, porem no fundo ela notou que achava Chisame muito atraente, queria até falar com ela, mas nunca teve coragem o suficiente pra isso – Agora que eu já interrompi, não viram a Amanda?

-Amanda? Foi ela que derrubou refrigerante no uniforme da Chisame. Disse que foi sem querer, mas usou o mesmo tom besta que você tá usando. Insinuou o que hein? – Sacchi obviamente estava irritada, mesmo com a aproximação e o olhar dela, Elisha não se intimidou.

Ao contrario, agora sim ela provocou propositalmente, mantendo o sarcasmo que tinha feito Sacchi avançar pra ela.

-Não insinuei nada. Por acaso eu deveria achar que tá rolando algo “extra” aqui?- Odiava gente esquentadinha, fez sua própria cara de poucos amigos.

-É dessa vozinha venenosa que eu to falando! – A garota maior aumentou a voz e deu uma “dedada” forte no peito da morena. Parecia que ia bater nela a qualquer momento, então a voz de Chisame, que era meiga e manhosa naturalmente fez ela se acalmar, até mesmo Elisha se acalmou ao ouvir aquele “Sa-chan... Não briga...”, mas Sacchi continuou mesmo assim – Meninas metidas que nem você, Amanda e Megumi me enchem o saco! Acham que só porque são bonitinhas podem tratar todo mundo como lixo! Só não quebro o bico de vocês pra não ser expulsa daqui e nem sujar minhas mãos. - Ela se virou e caminhou para porta ainda falando – Por isso que eu nunca fui com a sua cara Sayonomi, você é quieta, mas é farinha do mesmo saco que o delas. Eu noto o olhar de desprezo que você tem pra todos nós. – Saiu do banheiro soltando um ultimo berro – Se veste e vem logo, Chisame!

-Tem alguém na tpm hoje. – Comentou Irene, enquanto a loirinha vestiu a blusa nova e correu passando do lado de Elisha e piscando pra ela.

-Não liga não Sayonomi-san. A Sacchi fica uma fera quando zoam as amigas dela e desconta em todo mundo, eu sei que você não é igual a turminha da Megumi.

-Valeu... –
Aquela piscada foi desconcentrante.

-Anda logo! – Deu pra se ouvir o grito de Sacchi, Chisame correu mais ainda e quando alcançou a porta virou-se novamente, movimentando os cabelos loiros.

– Ah, acho que Amanda está na sala. – E sorriu indo embora em direção aos berros.

Elisha ficou pensativa, aquela garota era mesmo bonitinha demais. A mais bonita da sala aos olhos dela, talvez da escola toda. Irene provocou dizendo que ela estava reparando demais em corpos femininos e afins. Estranhamente era verdade, ela foi pra sala, pensando sobre ela ser mesmo igual aquelas gurias que tanto odiava. Era fato que ela os olhava com desprezo, mas não por se achar melhor que eles. Bem, ela se achava melhor que eles, mas não do mesmo jeito que Megumi e sua trupe. Aquilo era confuso demais, antes de tirar sua conclusão ela chegou, Amanda estava lá, já Erin não. Só Amanda e Bianca. Elisha pegou elas no meio de um dialogo:

-Sei lá... O James era muito ignorante. Não acho que eu vá sentir tanta falta.

-Credo Amanda, era homem, mas era seu irmão.

Irene perguntou se Elisha queria um palpite sobre o que fazer, mas ela não precisou. Sabia o que James iria querer que ela fizesse naquela hora. Tomou coragem e cutucou Amanda, que se virou rapidamente e antes de conseguir falar alguma coisa tomou um tapa no rosto. Aquilo foi legal.

-Não entenda mal, foi pelo seu irmão. Eu tava lá por acaso e adivinha, o ignorante morreu pensando em você. Quanta ignorância dele não?

-Pensando em mim? –
Amanda ficou com a mão no rosto, no local atingido. Parecia que aquilo tinha feito sua mascara de menina má cair, estava com um olhar triste, como o de uma menininha arrependida pelas besteiras que fez – Eu nunca achei que ele...

-Ele só pediu pra mandar você criar vergonha na cara. Se tiver comentários, guarde pra você ou vá falar no tumulo dele, porque não vai adiantar nada falar pra mim. Mesmo morto, talvez ele te ouça. –
Ela saiu de lá depressa depois de falar isso, deixando Amanda calada e com uma cara de dar pena. Mas merecida, esse era o único jeito pelo qual ela aprenderia certas lições, sofrendo.

-Ô Sayonomi, ta achando o que hein? – Bianca ficou confusa com aquela cena, talvez fosse agitação demais pro seu miolo mole, Elisha saiu da sala e ouviu aquele risinho que odiava tanto. Viu quatro pessoas no corredor, de frente pra sala, perto de um mural de vidro, duas morenas: Sayo Mishima e Haruna Mayumi riam um pouco e faziam comentários nos seus estilos, Sayo chamava de ridículo e Haruna falava pra garota loira parar de provocar, mas continuava rindo. Sim, era Megumi que estava lá, exibindo e gabando-se da sua perfeição. Porem a quarta garota, que era alvo das zombarias era Erin.

-Tão branquinha, magrela, sem graça... Vou ter que dar um jeito nisso senão ninguém da sala vai gostar de você, garota.

-Eu... –
Erin parecia gostar da sua aparência até ali, mas Megumi estava a fazendo ficar insegura com aquelas suas propostas falsas de “salvação”. Como fez com Elisha no ginasial, dizia que a ajudava, mas na verdade só queria uma idiota puxa-saco pra humilhar. Ela não iria fazer isso com Erin, Elisha não iria deixar. A morena passou no meio delas e puxou Erin pelo braço, sem nem avisar ou ligar pras outras três colegas. Ia levá-la pra longe dali, a amiga se assustou com o movimento brusco, mas ficou quieta. Foi Megumi quem reclamou:

-Eu estava falando com a branquinha! Tem medo que eu a roube de você?

-Elisha... –
A morena ignorou a loira e continuou andando, Erin notou que ela estava brava e disse seu nome baixinho, mas Megumi agarrou a manga da blusa de Elisha falando revoltada, a encarando com seus olhos azuis. Foi o primeiro passo.

-Eu só tava conversando com ela! Qual o seu problema? – Irene pediu pra morena deixa-la resolver naquele momento, mas ela resistiu – Só porque você é anti-social não precisa arrastar a coitada com você.

-Você tava tirando com ela. – Foi a única coisa que Elisha conseguiu dizer.

-Ah, agora sou eu! – Megumi riu e continuou a falar como se estivesse coberta de razão – Só porque você não gosta de mim eu preciso ser a vilã? – E talvez ela tivesse razão quanto a isso, Elisha não gostava dela a ponto de transformar todos os atos da “rival” no seu conceito de errado. Mas o que a manteve irritada era a mão de Megumi apertando seu pulso e não a deixando sair dali – Você já foi minha melhor amiga Elisha, já dormiu na minha casa, comeu minha comida e tudo! Para de ser ingrata!

Irene fez seu pedido de novo e Elisha tornou a resistir, ordenando baixo:

-Me solta.

Megumi gostou de vê-la irritada e continuou.

-Tsc... Ninguém merece viu. Você sempre foi assim, só liga pra si mesma. – Irene insistiu, mas ela achou melhor não ceder, mesmo com tanta raiva – Só porque está famosa fica ai fazendo gracinha.

-Erin, vai pra sala... –
Elisha soltou a garota, mas ela não obedeceu. Ficou parada e disse um “Mas...” que soou como se ela mesma desaprovasse a atitude da morena, Megumi aproveitou disso. Segundo passo.

-Viu? Até ela acha que você está errada!

Errada ela? Não podia acreditar que Erin tinha a contrariado. Aquilo fez sua raiva dobrar, pois ela não podia estar errada. Erin era burra demais pra escolher suas amizades sozinha, Elisha não soube por que, mas aquilo vindo da garota albina a deixou mal de verdade. Não admitia isso, como se fosse a dona de Erin. E demonstrou isso olhar que lançou tanto pra Megumi quanto pra amiga.

-Quer saber? Tanto faz! Eu não to mais nem ai, faz o que quiser com ela. – Sua voz estava calma, mas alterada. Megumi se divertiu mais ainda com isso e Erin se encolheu toda, ficando em silencio. Elisha se livrou da mão de Megumi num chacoalho brusco e deu as costas, se retirando – Só não coloca mais as patas em mim.

Tinha muita gente observando aquela discussão, a maioria desaprovava Elisha, lá se iam seus quinze minutos. Como se ela ligasse. Megumi ficou irritada ao mesmo nível com aquela ultima frase, quem piorou foi Bianca que ouviu o falatório e saiu pra ver, contando pra loira que Elisha tinha estapeado Amanda. Megumi perdeu a cabeça e avançou contra Elisha que estava desprevenida, puxando-lhe os cabelos negros pelas suas costas. Esse foi o terceiro e ultimo passo.

-Eu não vou mais aturar suas atitudes estúpidas!

Foi a gota, a morena odiava contato físico, principalmente violento, era talvez o que mais a tirava do serio. Irene riu quando conseguiu o que queria:

-Isso mesmo guria, deixa fluir!

Virou-se pra Megumi rapidamente, mirando aqueles olhos azuis com os seus amarelados e brilhantes no momento por alguns milésimos. Pôde-se ouvir o som de alguns fios do seu cabelo arrebentando, mas isso foi logo abafado pelo som do baque do soco que atingiu entre o nariz e aquela pinta sexy de Megumi perto da boca, mais pro lado do nariz. Briga de meninas? Não, aquilo não fazia seu estilo. O soco foi tão forte que nocauteou Megumi e lhe tirou “litros” de sangue por aquele nariz perfeitinho.
Quando Irene agia, era como se ela ficasse duas vezes mais forte que o normal, Megumi sentiu isso na pele e Elisha se sentiu ótima. Era a segunda vez que batia assim na loira, mas com certeza foi a melhor, ia deixar uma bela marca.
Antes que ela notasse, Bianca, que estava seguindo Megumi, a agarrou pela gola das vestes e a socou contra aquele mural de vidro no corredor, ele se quebrou todo, porem só fez arranhões na morena. A outra garota era bem maior e mais forte que ela, estaria acabada se fosse sair aos socos com ela também. Elisha nem teve chances de reagir àquela agressão, foi ai que Jin apareceu, segurando Bianca que começou a gritar:

-Nunca mais encosta nas minhas amigas sua putinha desgraçada! Ta ouvindo!?

Jin teve que tirar Bianca do chão pra afastá-la, Emily chegou lá correndo, perguntando o que aconteceu. Elisha não respondeu, apenas soltou o caco de vidro grande que tinha pegado furtivamente do mural quebrado. Retomou o controle da sua mente, observando a palma da sua mão que tinha se cortado com o vidro.
Se não fosse a intromissão de Jin ela teria enfiado aquele caco de vidro no estomago de Bianca. Foi mandada pra diretoria imediatamente.

-Sua sem graça... Devia ter furado ela.

Mas pelo menos seu “demônio interno” pareceu ter se divertido um pouco.

A diretoria era grande e limpa, a diretora velha e fã de lições de moral. Estava sentada ao lado de Emily diante daquela mesa quadrada de madeira revestida a vidro. Era raro ver aquela sala, só estivera lá umas quatro vezes.

-Logo você que é tão boazinha Sayonomi! Nunca tive problemas com você antes. Acho que a morte do seu pai está te afetando. – Errou feio – Devia se envergonhar, quebrou o nariz da sua colega. – Ela se orgulhou muito ao saber disso.

-Sim, mas ficou claro pelas câmeras que foi a Srta. Hatsuko quem a agrediu primeiro. A Elisha só se defendeu. – Emily fazia o máximo pra proteger a garota.

-Mas eu não posso ignorar isso! No mínimo ela vai ter que fazer serviços comunitários pra não ser mandada pra um reformatório.

E essa foi a sentença. Elisha tinha certeza que não podia ser algo a se ignorar porque o pai de Megumi era rico. E como James diria, por aquele soco ela até iria pra um reformatório feliz. Sua indiferença tinha voltado quando a cabeça esfriou. Mesmo ainda irritada com tudo aquilo, ela voltou ao “normal”.
Emily a acompanhou até os corredores e a olhou com desaprovação.

-Eu vou ter que ficar, então leva a Erin pra casa e sem encrencas.

-Tá. –
Ainda não esqueceu da contrariação da colega de quarto.

-Brava com ela? – E a professora foi otima em perceber isso.

-Não.

-Bem, você tem que admitir que pegou pesado.

-Tanto faz, to indo. –
Não quis ouvir sermões, se afastou, mas Emily a chamou de novo e ela virou, vendo a professora sorrir e dizer, erguendo o polegar:

-Mas Elisha, foi um belo soco!

A garota acenou com a cabeça e saiu daquele predio. Emily não era tão chata assim, só era sem graça.
Os alunos já estavam todos indo embora, ela teve que andar contra a multidão, precisava achar Erin. Ouviu mais alguem chamar seu nome, quando olhou deparou-se com Sacchi, Haruna e Chisame. Foi a morena mais alta que a chamou e isso a fez lembrar-se de mais cedo. Talvez fosse tentar bater nela também.

-Fiquei sabendo do rolo lá no corredor, e se a Megumi fizer graça com você de novo, me dá um toque. Já tava na hora de alguem socar aquela piranha mesmo.

-Tá. –
Pelo menos Sacchi não estava mais irritada com ela. Se Elisha “apanhou” de Bianca, estaria morta se brigasse com aquela outra guria.

Ela saiu andando, Chisame e Haruna vieram em seguida.

-Não disse que ela é gente boa? – Chisame piscou de novo.

-Tchau Sayonomi! E pega leve. – Haruna se despediu rindo, mas Elisha nem prestou atenção.

Concordou com a cabeça automaticamente e ficou a observar os delicados labios roseos de Chisame, enquanto se abriam dizendo aquele “Tchau Elisha, a gente se vê amanhã.”
Era mesmo bonitinha demais, a morena nunca tinha reparado ou se fascinado por ela tanto assim antes. Irene voltou a provocá-la.

-Alguma chance de bissexualismo ai?

Ela tinha que achar Erin, se despediu e seguiu pelo patio até o banheiro, sempre era aquele seu ponto inicial de procura.
Ouviu alguns soluços vindos de uma cabine, o resto do banheiro estava vazio. Elisha soube que era Erin antes de ir conferir, chamou pelo nome dela e não teve resposta. Então ela abriu a porta de madeira fina, que não estava trancada.

-Como me achou aqui? – A garota de cabelos prateados estava sentada ao lado do vaso sanitario, abraçando os joelhos e chorando. Parecia envergonhada, escondeu o rosto.

-Quando eu era pirralha vinha nesse mesmo lugar. – Odiava lembrar-se daquilo, ia ali fazer a mesma coisa – Tá chorando por que?

-Por minha causa você brigou e se machucou... Ficou brava comigo... –
Dizia isso entre soluços, cada vez mais desesperados – Agora você não gosta mais de mim!

-Eu mereço... –
Ela se agachou na frente de Erin, e apoiou o rosto na mão. Não gostou de ver a garota chorando por causa dela. Foi um tanto sarcastica do mesmo jeito – Pra quem era um robô, você tá bem chorona.

-Mas...

-A única forma de eu não gostar mais de você é se começar a ver hentai.

-O que é hentai? –
Estava parando de chorar aos poucos.

-Continue assim. – A morena ficou mais seria depois disso – Eu gostei de ter batido nela e não me machuquei tanto assim. Fiquei brava com você sim, admito, mas não quer dizer que eu não goste mais de você. Se quer ser igual a Luise vai precisar aguentar essas coisas e sorrir oras... Não ficar aqui chorando.

Antes que ela dissesse mais alguma coisa, Erin se jogou contra ela, a abraçando, Elisha caiu sentada e a garota ficou a chorar discretamente nos ombros dela. Foi pega de surpresa, a morena enrubeceu e não soube o que dizer.

-Ei... Perto demais...

-Eu... –
A voz dela estava hesitante e chorosa – Eu não consigo me lembrar de quase nada. Só imagens... Só sei que eu gosto demais de você Elisha. – Abraçou a morena com mais força ainda, voltando a chorar um pouco – E quando eu penso que te magoei, dói demais... Por que isso acontece Elisha? Me explica...

-Eu não sei dizer... – Se sentia assim com relação a Vic também, talvez fosse uma paixonite. Erin gostava mesmo dela, isso era bom de se saber – Depois melhora. Vem, eu ainda tenho que trabalhar.

-Tá bom... –
Elas se levantaram devagar, Elisha a fez lavar o rosto e sairam logo em seguida. Ao cair da noite Erin já estava bem e fazendo mais perguntas. Dessa vez sobre o baile de formatura que estava proximo.

-Outra desculpa pros adolescentes fazerem sexo. – Foi a definição simples e cruel de Elisha, porém a outra não entendeu direito.

-O que é fazer sexo Elisha?

-Pergunta pra Emily, ela sabe muito bem o que é. –
Essa ela detestaria explicar, era melhor empurrar pra professora mesmo.

Elisha teve que sair de lá correndo pra não se atrasar, avistou aquela placa luminosa anunciando o Midnight depois de quinze minutos de caminhada. Foi se trocar no banheiro de funcionários e parou pra pensar quando estava ali seminua, olhando pro vestido que teria que usar.
No fim ela não tinha se acostumado ainda com a sua nova vida. Foi contratada como um extra, já que os empregos no restaurante eram pra amigos de Jenny, se bem que agora aquela garota se dizia amiga de Elisha. Ouviu repentinamente aquele ruido agudo de tapa certeiro e a parte que ardeu era um tanto “estrategica”, mencionada por Kyoichi:

-Que bundão hein Sayonomi!

A morena ficou branca. Aquele cara era muito atrevido, como se já não bastasse invadir o banheiro e flagrá-la apenas de roupas intimas, ainda acertava um tapasso desses na sua bunda. Homens homos ou heteros tinham algo em comum, nunca eram discretos.

-Tem certeza que você é gay? – Ela conseguiu segurar a raiva.

-Absoluta! – O garoto de cabelo claro riu de um jeito “hohoho” ridiculo com a mão na boca, ela não tinha se acostumado com ele também. E nem com aquele vestido curto e preto, com um broche de lua onde ficava inscrito seu nome no peito, com saltos incomodos que as meninas ali trajavam para trabalhar.

Suas unicas coisas personalizadas eram a gargantilha e o cabelo preso, criou habito de prende-lo quando estava lá.

Estava ali de pé, já vestida depois de algum tempo, esperando algum cliente chamar. Notou alguem diferente no local. Hoje ela não tinha faltado, a tal da Carrie Greenberg. Os cabelos dela eram negros meio-compridos, ondulados e um pouco maltratados, olhos castanhos e uma expressão triste. Era bem magra e palida, Elisha gostava de comparar aquela garota à Carrie White, do livro. E de fato ambas tinham muito em comum, Elisha só sabia ao certo que ela era boba e religiosa.
Tinha sido eleita a menina mais feia da sala, algo digno de pena. Coisa que Elisha não tinha. Megumi mesma fez questão de dar o titulo à Carrie, mas ela não era tão feia. Era apenas mal cuidada. Acabaram ficando lado a lado ali no restaurante.

-Vai no baile? – Carrie puxou assunto, timida e sem olhar pra Elisha nos olhos.

-Não pretendo.

-Eu queria, mas sem par não tem graça.

-Vai com um amigo. –
A morena não estava afim de conversar.

-O Kyoichi se ofereceu, mas sei lá. Queria ser convidada por alguém. – Nem respondeu aquilo, Carrie então era do tipo reprimida e normal, que vivia pra tentar se dar bem no amor. Ela insistiu no dialogo – E o vestido que usam é estranho, eu e minha mãe achamos eles eroticos demais.

-Nem é... –
Lembrou de novo de Stephen King.

-Não fica bem em mim, sou muito magra e branca, ia parecer uma defunta. Queria ser bonita igual você Sayonomi, essas roupas ficam bem no seu corpo, mas em mim ninguem ia gostar. – Elisha não gostou da fraqueza dessa Carrie. Ficar se depreciando e se importando pra o que achavam dela? Ela não tinha mesmo personalidade alguma. Ela se afastou daquela garota e disse a olhando de canto:

-Quando você parar de ligar pra o que pensam de você talvez tudo melhore.

-Mas... –
Elisha colocou um ponto final no papo, a interrompendo.

-Tem gente chamando ali, até.

Não falou mais com ela até o fim do expediente, Myuki, a loirinha dos “pigtails” ia substitui-la agora. Chegou lá animada, chamando Elisha diretamente:

-Ei espancadora de Megumi, pode ir! Deu sua hora. – A morena já estava indo se trocar, tinha achado aquele titulo engraçado, porem Myuki correu e pegou sua sacola de roupas antes dela mesma, agarrou Elisha pelo braço e foi pra saida puxando ela – Sem essa, você tá lindona assim! Tem gente te esperando lá fora.

-Quem? –
Elisha ficava tonta com aquela energia toda da garota.

-Surpresa! Mas nossa, ele é tão perfeito. – A garota já deduziu dali e Myuki a empurrou pra fora, naquele mesmo vestido chique que usava no trabalho – Vai vai!

A morena tropeçou e quase caiu por causa daqueles malditos saltos altos, quem estava esperando do lado de fora e ficou bem surpreso com o visual da garota, um tanto fascinado com a visão era ninguem menos que Jin Kusanagi.
O estilo dela estava parecido com o da propria Anita Sullivan.

-Nossa... – Ele ficou impressionado mesmo. Trajava uma roupa simples e jaqueta. Estava frio, mas quem tirava sua atenção era Elisha.

-Me enxotaram de lá, não deu tempo de trocar. – Ela ficou sem jeito quando percebeu a “surpresa” que causou nele.

-Eu to indo pra perto da casa da professora, quer compania? – Jin mentia muito mal, aquilo definitivamente não colou. Ele estava encabulado também.

-Você já até me abraçou hoje, acho que isso não faria mal. – Sua voz soou ironica – Só deixa eu calçar os tênis. – Ela sentou na calçada e tirou os saltos, sem classe alguma.

-Tênis? –
O loiro achou aquilo estranho.

- Não vou andar de salto por ai. – A morena, ao contrario de Anita, não era nenhuma lady e deixava isso claro, não ia chegar muito longe naqueles sapatos. Jin só concordou com a cabeça e manteve as mãos dentro dos bolsos da jaqueta.

-Não vai combinar com o vestido. – Falou por falar, ia ficar esquisito mesmo.

-Dane-se...- Curta e grossa, ela terminou com o tênis e guardou os sapatos na sacola, levantando-se e indo embora. Jin a seguiu.

-Tá com frio?

-Não. –
Estava sim, mas Elisha adorava o frio. Provavelmente ele iria oferecer sua jaqueta. O dialogo foi enrolativo até metade do caminho, quando o garoto finalmente tocou no assunto que queria.

-E o baile?

-Não quero ir. –
Ele coçou a cabeça ao ouvir isso e a garota prosseguiu – O que você quer? Não acho que me procurou a toa.

-Noite fria né?

-Vai direto ao ponto. –
Encarou ele.

-Bem, é que... – Nessa hora Elisha soltou os cabelos, ajeitando-os e só notou o olhar abestalhado de Jin depois. Ela estava tão bela assim?

-Que?

-Você fica linda mesmo de noite.

-Toda bruxa fica. –
Se aquilo tinha sido uma cantada, foi fraca.

-Você é uma?

-Talvez eu seja. –
Quase mudaram de assunto, mas a garota insistiu, queria ouvir aquilo – Fala logo.

-É que já que você e a Vi... –
Palavras erradas, ele reformulou a frase – Aquela sua ex... – Essa saiu muito pior que a primeira, tanto que ele começou a se enrolar todo e fazer gestos incompreediveis, Elisha só não riu pra não desmotiva-lo. – Quer dizer, aquela menina que eu esqueci o nome... – Ele tentou ser engraçado, mas naquela altura Elisha já tinha adivinhado tudo de novo.

-Fala logo droga. – Foi o empurrão que faltou.

-Certo... Eu iria te convidar pro baile, mas como você não vai, deixa pra lá.

Elisha riu, demoradamente, como não ria em meses. Jin se sentiu ridicularizado com isso e perguntou qual era a graça. Ela respondeu entre risos:

-Isso é tão clichê. O cara popular convidar a menina antissocial.

-E isso foi um “aceito”? –
Só então ele sorriu também.

-Não, mas também não foi um “não”. – A garota teve uma ideia, ou pior, ia testá-lo – Vamos fazer um trato, se você conseguir arrumar um par pra Erin e pra tal da Carrie, eu topo ir com você.

-Você é cruel. –
Seria dificil conseguir isso.

-Um pouco. – Elisha se sentiu uma Susan Snell na hora.

-Nem quero ver os acordos que você proprõe pra quem te pede em namoro. – Coçou a nuca mais uma vez – Meus amigos estão morrendo infelizmente, mas eu posso pedir pro Ryo ainda. – Ele pareceu triste, mas riu pra disfarçar.

-Sem essa. Sentimentalismo não funciona comigo. E você disse que gosta que pisem em você. – Já estavam na frente da casa de Emily, Elisha acenou e entrou – Boa sorte.

-Obrigado.
– Ele acenou de volta.

Elisha mal tinha aberto a porta e Erin surgiu sorrindo pra ela, como um cãozinho recebendo a dona.

-Você não dorme? – Já eram uma e meia da madrugada e de fato, ela nunca viu Erin dormir. Diziam mesmo nos filmes que mortos nunca dormem.

-Eu vi você com seu namorado! – Ela riu da morena.

-Ele não é meu namorado!- Aquilo se irritou, porque tinha mesmo se sentido bem naquela hora.
A mesma sensação de proteção que sentia com Vic. E Erin espionou.

-Emily disse que é.

-Já disse que ela não sabe de nada. –
Sentou-se no braço do sofá pra se livrar do tênis – Nós só estavamos falando do baile de formatura.

-Você vai com ele? –
Erin ficou seria.

-Talvez.

-E vocês são adolescentes?

-Obviamente... –
Aquilo estava ficando estranho, Erin ficou preocupada.

-Elisha...

-Que foi? –
Ela tirou os tênis e estava cuidando das meias, olhando pra ela.

-Então vocês vão fazer sexo?

Erin falou de uma forma muito ingenua, histerica e Elisha se enroscou toda nas meias que foi do sofá direto pro chão. Doeu.

-Estou descartando sua ingenuidade. Tem muita perversão dentro dessa sua cabeça descolorida ai... – Ela se levantou devagar, encarando Erin com um olhar maldoso.

-Eu não sou pervertida! Só estou preocupada com você Elisha, a Emily diz que isso causa doenças. – Erin fez um beicinho engraçado.

-As vezes... – Não se conformava com aquela pergunta horrivel.

-Então vocês precisam usar pre... – Elisha deu um berro a impedindo de continuar com aquela ideia ridicula.

-Eu não vou fazer essas coisas com ele! Para de imaginar besteiras!

-Tá bom. –
Erin se encolheu de novo.

O berro acabou acordando a professora, que apareceu lá com uma camisola indecente pra ver o que era aquela algazarra toda. Isso gerou situações ainda mais constrangedoras pra Elisha. Ela até foi dormir mais cedo, aquele tinha sido um dia e tanto.
Estava irritada com Emily e Erin no fim das contas, mas o sentimento era diferente. Seria isso ter uma familia?
Naquele dia ela não se sentiu sozinha.
Seria otimo se tudo continuasse assim... Otimo demais.

Mas a lua nova iria voltar,
Envolvendo aquela cidade com seu véu negro novamente.

2 comentários:

  1. Esse capitulo foi bem divertido e light na minha opinião. O destaque foi a Chisame, gamei nela desde que vi a aparição dela. *-* Se tivesse acontecido mais cedo acho que ela teria um papel mais importante na historia.

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  2. Adoro essas coisas místicas citadas da loja. *-*
    Odeio suco de soja. Argh!!!

    Nossa, fiquei triste pelo Kasuya, a vida dele também não foi fácil. Até entendo os motivos por de trás de suas crueldades, por mais injustas que sejam. Foda. :/

    Adorei e até ri da parte da chegada à escola e na sala de aula. Elisha falando coisas do contra pra Erin, e todo mundo mostrando ao contrário. kkkkkkk

    Awn, a Elisha podia dar uma chance pro Jin, ele parece ser de bom caráter e gostar mesmo dela. Ele ia fazer tão bem a ela. *-*
    Pena ela ser yuri. '-'

    Ah, claro, Elisha odiava gente 'esquentadinha', mas é igualzinho. [hipócrita '-'] E que me desculpem, mas o que a Sacchi falou pra ela no banheiro, bom, faz um pouco de sentido. É. '-'

    Nariz da Megumi quebrado. Adorei. kkkkk

    "Sua sem graça... Devia ter furado ela" kkkkk. Irene é Foda!!! -qqq

    "Mas Elisha, foi um belo soco!" Emily. Demais. kkkkk

    "Eu vi você com seu namorado" ... "Então vocês vão fazer sexo?" HAUHSUHAUSHUSAHUSAHUSAHUAS' ERIN É FODÁSTICA!!!! Sou fã dela também. \õ/ kkkkkkk

    Concerteza, foi bem divertido mesmo. Um dos meus capítulos preferidos. *---*
    Presumo que você melou tudo com os seguintes, bahhh!!! -__-'


    *PS: Estou impressionada com a quantidade de olhos claros e cabelos perfeitos nesse livro. E a única que aparece diferente é o patinho feio. Aff... [preconceituoso?] '-'


    D. =)

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