Capítulo II - Loucura

-(Isso é impossível! Você morreu! Havia fotos, noticias em todos os jornais! Ela se afogou! Não pode estar viva!)

Elisha ficou pensando nessas palavras freneticamente, não podia ser real, ela não podia acreditar nos seus olhos.

-O que você define por estar morto, Elisha-chan ? – Respondeu Yuna como se conseguisse ouvir os pensamentos da morena pasma na sua frente.

Elisha sentiu a mão fria de Yuna tocar seu rosto e viu o rosto da menina se aproximar do seu de forma tão real que tornavam a sua mente ainda mais confusa e perdida.
Ouviu palavras saírem da boca de Yuna, junto com um fino fio de sangue:

-Vem comigo, Elisha-chan... Quero te mostrar algo.

-(Aquilo é sangue... E-ela está perto demais, o que vai fazer? O que diabos ela...)

Os pensamentos da garota foram bruscamente interrompidos, quando ela sentiu os lábios gelados e sem vida de Yuna tocarem os seus, por um momento a mente dela ficou em branco. Depois de alguns segundos ela voltou a pensar aos poucos.

-(Frio... A boca dela ta fria... Ela realmente não está viva...)

Se isso fosse real, teria sido o primeiro beijo de Elisha, ela imediatamente empurrou Yuna com o antebraço repetindo pra si mesma que aquilo não era real.
Ouviu Yuna chamar seu nome e jogou a mão na direção dela, ouvindo um barulho de vidro trincando. Viu que tinha acertado o espelho, que havia quebrado, e Yuna tinha sumido como se realmente fosse uma alucinação.

-(Eu devo ter ficado chocada com a morte dela de certa forma. Mas imaginar ela me beijando!? Ou eu estou ficando louca ou lésbica... Ou os dois. Mas pareceu tão real. Eu ainda posso sentir o gosto e o frio na minha boca...)

-Sayonomi-san?- Ela se assustou novamente ao ouvir as palavras que vinham de trás dela – Matar aula não combina com você, querida.

-É sim, a aula já começou.

Eram Amanda Redriver e Bianca Timbrook, ambas lindas e populares no colégio, estar com elas significava ser a pessoa mais legal do mundo, já estar contra elas... Não era muito sábio. Elisha as odiava, e sentiu pena de elas não estarem mortas como a Yuna.

-Mesmo? Então eu já vou. - Respondeu secamente.

-A propósito, Sayonomi-san. Sua boca ta meio suja. – Disse Bianca apontando pros próprios lábios volumosos e rubros, dando um risinho irritante.

Elisha se virou pro espelho e viu um pouco de sangue sobre seus lábios.

-(Então era real? Não. Eu devo ter cortado quando bati no espelho.)

Mas não havia corte nenhum na sua boca ou rosto pegou a mochila ligeiramente e saiu de lá esfregando a mão contra os lábios pra limpar a mancha de sangue, ouvindo os risos e as vozes das duas:

-Parece que os rumores sobre vampiros por aqui eram verdade!

-Vampiros que quebram espelhos ainda!

Foi direto para a sala de aula, com uma resposta que deveria ter dado pra elas na cabeça:
-(Pelo menos é de sangue que a minha boca tava suja, a de vocês fica suja de algo mais pastoso e incolor todos os dias.)

Parou na frente da sala lembrando-se de Yuna mais uma vez e da lição que ela tinha aprendido: “Não fale com os mortos se não estiver preparado pra ouvir uma resposta.”
Após respirar fundo ela entrou na sala e ouviu a professora dizendo que ela estava atrasada e a mandando se sentar. Quanto tempo havia se passado afinal?
Sentou-se na cadeira pensando que deveria perguntar a sua companheira de mesa qual era a matéria dada até agora, mas desistiu da idéia achando que quando se perde o inicio, o fim fica sem graça.
Parou para analisar a colega, Erin Nayami a nº 08, ela tinha a mesma altura de Elisha e olhos bem parecidos, porem mais claros e comuns. Seu corpo era esguio, menos sensual que o da morena. Seus cabelos eram de um louro-prateado muito claro, lisos e alongados até os ombros, seu rosto nunca demonstrava expressões e ela sempre ficava olhando para o nada quando não tinha nada pra fazer.

-(Ela parece um robô. Nem parece ter vontade própria. E pelo que eu saiba, ela também não tem amigos aqui. Talvez a gente seja parecida, mas ela é mais dedicada. Porém, a Erin fica longe de ser a atração principal do nosso zoológico.)

Elisha achou que seria divertido continuar aquela apresentação de mais cedo, e começou a analisar os grupos que existiam na sua classe:

-(Os ratos de livros, cdfs e nerds; As girafas convencidas, meninas que se julgam maduras, mas agora deixaram isso de lado pra chorar pela Yuna; Pavões egocêntricos, meninas “intelectuais” ou que se disfarçam bem; Passarinhos que cantam até você se encher e matá-los e um veado, o grupo festeiro da sala com o típico garoto afeminado no meio; Ovelhas sem nada especial, outras meninas que só vão na escola pra levar papos discretos; Gorilas esportistas, meninos populares amantes de esporte, meninas e música; Macacos chatos, meninos pervertidos e barulhentos que aparecem aqui só pra farrear; E a espécie em extinção, os lobos solitários, anti-sociais sem amigos.)

Nesse ultimo estavam ela, Erin e Kasuya Ishida.

-(Esse cara é pior que eu)

Ele tinha uma aura muito estranha, olhos escuros e vazios, ele era magro e tinha cabelos idênticos aos de Erin, só que mais curtos. Aparentemente eles eram muito parecidos, seriam facilmente confundidos com gêmeos caso ninguém ali soubesse que Erin e Kasuya não tinham nenhum grau de parentesco.

-(Falta a atração principal que provavelmente está matando aula. E enquanto elas não chegam, acho que vou dormir um pouco...)

Nem a água e nem ter visto Yuna haviam ajudado nesse ponto, talvez ela tivesse dormido muito pouco mesmo na noite passada.
Repousou a cabeça sobre os braços na mesa e adormeceu rapidamente.