domingo, 26 de julho de 2009

Capítulo IV - Demônios Internos

Nisso tudo ela notou que tinha esquecido a mochila na escola e já havia escurecido. Parecia que sua cabeça estava ruim mesmo, ouviu um riso alto e agudo que quase causou dores nos seus ouvidos. As vozes diziam que ela estava enlouquecendo, cada vez ficavam mais altas.

-Merda... – Xingou ela, tapando os ouvidos.

-Mal educada! – Foi a resposta, que quase a fez cair no chão de dor na cabeça.

Ela começou a acelerar os passos pedindo mentalmente para que as vozes parassem, mas quanto mais ela pedia mais os risos e o volume aumentavam, ela começou a correr sem olhar pra onde. Qualquer lugar onde aquilo parasse seria bom.

-Sai da minha cabeça! – Gritou ela, ainda correndo.

-Sua? Agora a cabeça é nossa! – A resposta foi seguida de uma gargalhada extremamente alta, então ela tropeçou em algo e caiu. Tudo ficou escuro.

A cabeça estava doendo, mas agora era externamente. Elisha tinha perdido os sentidos de novo e estava ali, pateticamente jogada ao chão de um beco escuro e sujo. Sua visão foi voltando aos poucos, ela viu um vulto que disse algo sobre ela estar bêbada, o que era ridículo, pois era obvio que ela tinha levado um tombo feio. Mas o vulto parecia ignorar isso, ele se abaixou até ela e sussurrou algo que ela não entendeu, foi recobrando a consciência completa aos poucos e percebeu o que estava acontecendo, mas seu corpo ainda não reagia.
Joe Dowd, nº 13 da sala, magrelo, baixo e de cabelo arrepiado e tingido de um vermelho desbotado, de todos os colegas de classe, ela era o pior homem que poderia tê-la encontrado lá. Seria melhor até ao invés dele ser o “menor infrator” da classe.
Joe era um palhaço que só vivia pra fazer o que fosse divertido e danem-se os outros. Ver Elisha ali deitada no chão, com aquela roupinha colegial, totalmente desnorteada e com um pouco da calcinha a mostra foi demais pra ele. Joe era diferente de Jin, e observar ela daquele jeito o fez imaginar coisas que não permitiram que seu sangue ficasse onde estava antes, ele preferiu ignorar o estado da garota e se aproveitar da situação. Talvez não fosse o dia de sorte dela.

Joe puxou a blusa da garota com força, arrebentando os botões dela, deixando o sutiã da menina a mostra. Ela estava consciente o suficiente pra ouvir aquela voz nojenta cochichar no seu ouvido e sentir as mãos dele apalpando seu corpo:

-Eu sempre adorei esse seu estilinho gótico, e não sei como um pedaço de mau caminho como você pode ser tão anti-social. Mas o que importa é esse momento! Não sabia que você se chapava assim. Eu vou adorar, e você também !

Ele disse como se realmente acreditasse que ela estava bêbada. Enfim, era uma chance única que ele não podia deixar passar.

-(Porco maldito... Você vai se arrepender por ter me tocado...) – Ela estava voltando a si e começou a tatear ao redor, procurando um modo de escapar daquele cara que estava muito ocupado beijando seu pescoço sem nenhum jeito ou charme.

-Você fica quietinha até nessas horas, Sayonomi-chan! Sabia que você ia gostar! – Disse ele se empolgando cada vez mais com as suas mãos pelo corpo dela e não percebendo que a garota tinha conseguido agarrar firme um pedaço de ferro com um pouco de cimento seco na ponta.

Ela nem se quer hesitou, o golpe foi certeiro na cabeça de Joe, fazendo-o soltar um urro de dor e rolar pelo chão, ela se levantou devagar, se recompondo.
As risadas recomeçaram, mas agora de forma agradável aos seus ouvidos, se levantou apoiando nas paredes até conseguir ficar de pé e olhar para o garoto jogado no chão, que estava xingando ela de todos os palavrões que conhecia.
Era realmente um porco miserável. Patético. Covarde.
Ela nem se importou em se cobrir naquela hora, olhar ele daquele jeito, indefeso e sangrando trazia uma sensação boa para a alma da garota. Ela poderia até sorrir se não fossem as frases que ficavam sendo repetidas pelas vozes na sua cabeça:

“Mate-o!”, “Acaba com ele!”, “Acerta na cabeça!”, “Esmaga o crânio desse imbecil!”

Ela ficou em silêncio, ignorando os xingamentos dele, segurou a arma improvisada com mais força e lançou um ultimo olhar de desprezo pra Joe.
Depois de poucos minutos, ela largou o ferro no chão e saiu do beco, deixando os gemidos de dor dele sumirem a medida em que ela se afastava.

-De fato, você é uma idiota. - A voz, num tom decepcionado.

-(Devo ser mesmo)-Retrucou ela mentalmente, cobrindo o torso com o que sobrou da camisa rasgada. Chegou em casa pouco tempo depois.

Bateu e trancou a porta, apoiando-se de costas nela e deixando a blusa rasgada lhe escorregar pelos braços e cair no chão.
Estava abalada com aquilo, a única coisa que reconfortava sua mente era pensar que a cabeça de Joe estava sangrando mais que a sua.
Sim, a cabeça dela tinha batido em algo na queda e agora estava latejando na área do corte e algum sangue escorria de lá, descendo pelo rosto dela.
Sua gata de estimação veio miando até ela, negra como as noites de lua nova e com olhos brilhantes amarelos, por isso havia dado o nome de Morrigan à gata. Elisha estranhou quando a gata parou e soltou aquele ruído serpentino que os gatos fazem quando se sentem ameaçados e fugir para a cozinha.
Ela olhou ao redor e percebeu que aquilo tinha sido pra ela mesma, que nunca faria mal à gata, mas ouviu aquela voz de novo ainda decepcionada:

-Devia ter matado ele.

-Q-quem é você?- Respondeu ela gaguejando, pensando em ir atrás de Morrigan, mas achando mais prudente ir fazer um curativo na cabeça primeiro.

-Quem sou eu? Acho que é hora de descobrir. - A voz estava ecoando do banheiro, ela apanhou a blusa no chão e a jogou no sofá, seguindo a voz pra dentro do banheiro não se importando com o que ia encontrar.

O banheiro estava escuro e ela sentiu um frio entranho tocar seu corpo seminu. Acendeu a luz rapidamente, não vendo nada lá dentro além da sua própria imagem refletida no espelho.

A voz havia cessado e Elisha caminhou até sua imagem, vendo como ela parecia abatida, tinha sido um dia agitado demais.

-Devo estar com sono... - Repetiu pra si mesma.

-Por que sono?- respondeu a voz entre risos- Se a noite é uma criança!

Ela sentiu um calafrio atravessar sua espinha e um aperto no coração, aquilo não poderia ser real, sua imagem no espelho tinha se distorcido, seus olhos estavam completamente negros com exceção das íris que estavam amarelas e aquela voz vinha da boca da imagem, que estava costurada com uma linha grossa e negra, e não se abria.
Elisha se afastou do espelho quase num salto e bateu com as costas nos azulejos gelados da parede do banheiro, mas a imagem ainda estava lá do mesmo jeito, a encarando com um sorriso diabólico.

-Essa é a parte engraçada, menina. – Dizia o seu reflexo demoníaco, apontando para Elisha com seus dedos negros alongados e pontudos – Por que eu sou você!

3 comentários:

  1. E aqui começou a parte do "terror" que eu costumo falar que tem nessa historia. Bem, meu conceito de terror é mais forte se vc quer saber, masss... Acho que pode ser considerado. Eu meio que gosto de trabalhar dupla personalidade nas coisas.

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  2. Bem tenso, mas ficou muito bom, gostei muito dessa parte. A descrição de tudo ficou ótima. Sério.


    D.

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  3. Ficando cada vez melhor... * Risos *

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