Capítulo VI - Romance

Talvez ela nem quisesse sair da frente do caminhão, como se ela fosse ágil o suficiente pra conseguir. Então tudo acabaria ali?
Ela fechou os olhos pra esperar ser acertada, mas subitamente ela sentiu alguém lhe agarrar pelo braço e puxá-la para trás, e o som da buzina se afastou junto com o do caminhão. Ela abriu os olhos lentamente e se viu na calçada ao lado de alguém que disse num tom de revolta:

-Essa passou perto, hein, Sayonomi-san? Esses caminhoneiros são cruéis.

A voz era de Taichi Matsumoto, o namorado de Yuriko. Ela não conseguiu encarar ele. Por que ele havia salvado ela? Será que ele se importava? Alguém naquele maldito colégio realmente ligava pra ela? Com isso em mente Elisha conseguiu soltar apenas:

-Por quê? – Enquanto encarava o pulso pelo qual Taichi a puxou.

-Olha... Sei que você não curte viver, como dizem. Mas eu não consigo deixar moças morrerem a toa. – Respondeu ele sem jeito, colocando a mão sobre os cabelos castanhos. Mas ela era quem estava mais sem jeito ainda. Por que alguém iria tratar com bondade alguém como ela? Ele nem se quer era seu amigo.

-Hehe... Os humanos são mais complexos do que você pensa, guria. – sussurrou seu outro eu, na sua mente.

Nessa hora chegaram Yuriko e Aileen E. Miles, garota alta, de cabelos castanhos avermelhados lisos e longos com uma franja jogada para a esquerda, olhos castanhos e corpo “atlético”; ambas eram amigas de Yuna. Perguntaram o que havia acontecido, Taichi fez questão de explicar rapidamente:

-Um caminhão quase atropelou a Sayonomi, sorte que eu puxei ela a tempo!

Enquanto Yuriko e Aileen ficaram surpresas, essa frase fez o conceito que a Elisha tinha sobre as pessoas desse lugar, que havia subido alguns degraus, descer ao mesmo patamar que estava antes. Ela já tinha ouvido falar que Taichi adorava posar de herói. Ele não se importava de verdade.

O rapaz estava quase indo embora com Aileen e Yuriko, quando virou e disse amigavelmente:

-Ah, Sayonomi-san, hoje a gente vai sair um pouco de noite. Que tal você ir fazer uma companhia também? Só por agradecimento?

-Tá... – Se arrependeu assim que falou isso. E antes que ela falasse algo mudando de idéia eles já haviam se afastado, não acreditando que ela tinha topado.

-Arranje o seu viu, Sayonomi-san! Porque esse já é meu! – Disse Yuriko sorrindo de longe, brincando. Elisha sentiu uma vontade imensa de gritar para a menina que ela podia enfiar o namorado em certos lugares, se é que ela já não o fazia. Se controlou e foi pra casa.

“Faça que nem uma menina normal e vista algo bonitinho!”

Seguindo o que a “outra” dizia na sua cabeça, ela decidiu usar um pouco do seu espírito gótico e vestir algo totalmente preto. Blusa comprida que deixava os ombros a mostra, saia e meias que chegavam até metade das coxas. Mantendo a gargantilha.

-E então Morrigan, ficou bonitinho? – Ficou encarando a gata que soltou um miado baixo e sem animo. Elisha saiu para se encontrar com os colegas, talvez movida só por duas coisas: Talvez eles falassem algo sobre Yuna que ajudasse a deduzir o porquê da morte dela e sua intuição estava lhe dizendo que iria ocorrer algo divertido nesse encontro.

Aileen e Yuriko estavam vestidas com as típicas calças jeans justas e blusinhas a gosto, Elisha se sentiu chamativa demais perto delas. Cumprimentos feitos, eles foram pra uma boate nova na cidade. A principio, a garota ficou ouvindo os três falarem dos outros por um tempo, não entrando na conversa sob a desculpa de estar ouvindo a música do local, um tipo de Black que ela não gostava. Mas pelo menos algumas músicas da Rihanna que tocavam com freqüência eram ouvíveis.
Da conversa eles partiram pras bebidas, Aileen tentava puxar assunto inutilmente com Elisha que preferiu beber apenas refrigerante de limão.
Das bebidas Elisha passou pra função de castiçal, enquanto Aileen foi pro banheiro e ficou lá tempo suficiente pra um cara “fortinho” notar Elisha sozinha do lado de um casal se beijando e usar uma cantada melosa que dizia algo sobre ela ser um anjo, a garota acabou desperdiçando um pouco do seu refrigerante na cara do pretendente que saiu xingando.

Por fim, eles saíram e nada divertido tinha acontecido.
Elisha estava desapontada com a sua intuição. Nem falado de Yuna eles tinham. Taichi ia na frente dizendo que ia tirar um gato da estrada, Yuriko o seguia criticando o jeito do namorado querer se mostrar e Aileen desacelerou os passos ficando ao lado de Elisha, tentando se aproximar de novo:

-Fala verdade, eles não formam um belo casal?

-Ah... É sim. – Elisha estava desinteressada na pergunta.

-Também espero achar um cara legal, mas meu gosto é raro. – Continuou Aileen.

-... – Elisha ficou em silêncio, tentando encerrar a conversa.

-Acho que você também pensa assim né? – insistiu Aileen.

-Eu não tenho interesse em romance. – respondeu secamente, como de costume.

-Você diz isso, mas eu sei que tem sim. Amor é algo inevitável, Elisha-chan. Acredite, eu sei. – Aileen sorriu após essa resposta, com um ar de superioridade. Elisha reparou.

-(Ah sim... Aileen Emily Miles. Do tipo que acha que sabe mais de você que você mesma. É irritante esse tipinho de “Eu sou adulta e madura” dela.)

Taichi e Yuriko estavam conversando aos berros, e isso impediu Elisha de se concentrar em pensamentos mais hostis sobre Aileen. Yuna devia ser bem paciente pra ter sido amiga dela.

-Eu tinha visto um gato aqui!- Gritava Taichi, ignorando Yuriko que o mandava sair do meio da rua.

Elisha olhou ao redor e viu um vulto encolhido do outro lado da rua, sentiu um calafrio quando viu que era um gato, mas seus olhos estavam inteiros negros, como os do reflexo no espelho aquele dia. Um sorriso monstruoso estava estampado na cara do animal. Aquilo era um gato?

-Você acertou guria! Diversão!! – Uma voz vinda do gato ecoou na cabeça de Elisha, causando outra pontada de dor, quebrada por uma buzina muito alta, similar aquela de mais cedo. Mas dessa vez não era ela quem estava na rua distraída.

O caminhão acertou Taichi em cheio. Ela só ouviu o baque, os gritos e viu o terror nas faces das duas colegas.

-Essa noite vai ser muito divertida! – A voz foi seguida por risos, cujos só Elisha parecia ouvir.