segunda-feira, 3 de maio de 2010

[Vol.2] Capítulo 5 - Doce Lar

“A festa no castelo da bruxa tinha sido mais marcante que as usuais que ocorriam na própria corte da princesa. O que havia sido uma surpresa foi o ataque do temível dragão prateado e o presente rebebido da bruxa, aquela silenciosa gata mágica cor-de-rosa.

Por fim, haviam decidido voltar ao seu reino distante. Quem iria levá-la era a uma das fiéis escudeiras daquele cavalheiro idiota. Ao menos ela era mais agradável.
As saudades da sua pequena rainha já estavam enchendo, e a ansiedade já estava a matando. Parecia uma menininha virgem na sua ‘grande noite’ com aquele primeiro idiota tarado que conseguiu enganar ela direitinho só pra conseguir tirar um pedacinho de carne intocada. Ridículo... Sentimentos inúteis... Assim são os humanos.”

O avião aterrissou em Helsinque de forma estranha, tremeu mais do que devia o que assustou alguns a bordo a principio. A única que continuou tranquila era a pequena garota de cabelos cor-de-rosa no colo de Brigith. Foi até bizarro ela só ter aberto os olhos depois da barulheira toda, quando tudo já estava em silencio e os passageiros descendo.
Carmen não tinha levado nada além daquela sua bolsa então ajudou Brigith com sua bagagem, Sadako estava sonolenta, mas caminhou na frente delas, esfregando os olhos. Andaram tranquilamente pelo terminal até a saída do aeroporto. A morena trocava poucas palavras com a espanhola, estava cansada por causa da viagem.
Lá fora uma surpresa, um dos carros de Ophelia estava a esperando. Carmen devia ter mantido os Velmont informados da agenda da morena. Aurora com seus cabelos castanhos avermelhados, trajando um casaco e um chapéu de inverno elegante estava acenando pra ela. Se ela fosse ter uma segunda mãe seria aquela mulher, foi ela quem cuidou de Brigith em todos os pontos que Ophelia não pode por causa do seu corpo.
O abraço que a garota deu na governanta foi demorado, e Aurora por sua vez segurou o seu rosto para checar se estava tudo bem. Num momento egoísta Brigith agradeceu pelo lábio inchado ser o de Sadako, era ela quem levou um soco ou algo do tipo ali. Porém aquilo parecia não incomodá-la. Só a fazia ficar passando o pirulito de uva que estava chupando naquele canto da boca. Aurora era de poucas palavras, murmurou as boas vindas de Bri baixo e acenou com a cabeça para as duas visitantes.
Carmen sorriu e acenou de volta, já a garota de rosa ignorou.


Alguns momentos depois estavam as quatro mulheres na parte de trás do carro, a Aurora tinha anunciado que ia ocorrer uma comemoração de ano novo na mansão. Como Brigith pudera esquecer?
Ser o penúltimo dia do ano a assustou e muito... O tempo tinha passado rápido e por pouco ela mesma ainda estaria virando o ano na Espanha. Longe de sua família.
Estava ansiosa pra rever todos eles.

- Não é a toa que chamam esse lugar de pais do gelo. – Sorriu Carmen esfregando as mãos.

- Ainda não viu nada. – Brigith a encorajou sorrindo também, enquanto Aurora pegava um casaco mais pesado que por acaso estava ali no banco e oferecendo para a estrangeira.

Não demorou tanto até que elas avistassem as luzes da mansão escura dos Velmont. A conversa estava divertida, não notaram que o portão esperou o carro aberto. Bri viu as arvores passarem as seus lados, lembrou-se de quando brincava por lá quando era criança. Uma sensação gostosa e nostálgica se apoderou da garota naquele momento.
Ela finalmente estava em casa.

O carro parou em frente aquela porta dupla de madeira escura. A morena saiu dele rapidamente num salto, correu pela estradinha que estava com pouca neve e abriu as portas antes de Aurora, largou suas malas no chão, no meio do Hall.
Ficou olhando de um lado para o outro, andares superiores visíveis, corredores... Nem sinal de Ophelia. Ela devia estar ali pra recebê-la.

- Onde a Ophelia está?

- Creio eu que na sala de estar, senhorita. – Respondeu Aurora, no idioma local.

Largou as malas ali mesmo e caminhou depressa para o local indicado, seu coração parecia que ia explodir. Seria mesmo um alivio tremendo encontrar eles depois de tudo aquilo que se passou, estar perto de alguém que ela amava... Sua pressa chegava a parecer desesperadora.
Ela abriu as portas da sala de forma igualmente rápida, conseguiu na segunda tentativa, não fez tanto barulho quanto esperava.
De fato estavam ambos ali, Josh com seus cabelos negros sentado num sofá rindo igual a um idiota de um filme de comedia que estava em sessão na TV, uma garota também morena sentada ao lado dele, parecia estar cochilando ou dormindo. E por fim, a garotinha ruiva estava se levantando de uma poltrona com a sua cara emburrada básica. Todos com trajes de dormir. Brigith sabia que Ophelia não tinha um senso de humor dos mais simples. Era obvio que não ia ficar vendo aquelas comédias modernas por muito tempo.
A garota acendeu a luz, que até então estava apagada pra dar aquele clima de cinema, Josh parou de rir e olhou pra ela estático.
Já Ophelia que estava de pé, abriu um sorriso delicado e sereno pra ela. Brigith correu para a garota, abraçou-a com tanto fervor que ergueu a garotinha do chão. Amassando todo seu bonito e elegante vestido preto.
Ophelia normalmente xingaria, mas no momento ela não fez nada a não ser murmurar baixo repetidas vezes “Menos, Bri..” e não adiantou praticamente nada. Brigith não chorou por querer parecer firme, mesmo que seus olhos estivessem inundados de lagrimas.

Josh que estava ali surpreso, observando o abraço, ficou nervoso e começou a passear com as mãos pelos cabelos negros. O que iria falar ou fazer? Brigith ainda devia estar furiosa com ele... E Matilda estava cochilando no sofá, tinha acabado de se levantar e começado a esfregar os olhos. Alguns minutos depois as duas finalmente se soltaram e Brigith passou as mangas do casaco no rosto pra se livrar da sensação nos olhos.
Virou-se para o garoto e caminhou devagar, antes que ele pudesse dizer algo a morena o acertou com um tapa ardido no braço. E logo em seguida o abraçou e enterrou a face em seu peito, sem encará-lo com aqueles olhos amarelos.

- Você é um idiota insensível, mas mesmo assim, também senti sua falta.

Ele pensou em falar alguma coisa, mas viu Ophelia o encarando por cima do ombro de Brigith. A ruiva arqueou uma sobrancelha pra ele, com um olhar sarcástico e cruzou os braços. Quase chegando a sorrir. Decidiu não falar muito:

- Bem vinda de volta...

Por fim, eles se afastaram e Brigith olhou pra Matilda.
Seu primeiro pensamento foi “Ah, essa é a prima folgada dele. Como pode dormir no sofá da minha casa assim... Deve estar se achando grande coisa.” e junto desse pensamento, ela sorriu para a garota dizendo um simpático “Olá.”.

- Oi. Meu nome é Matilda, a essa altura você já sabe quem sou eu. – A garota devolveu o sorriso, cumprimentando Brigith.

- Claro, a prima que caiu aqui por acidente.

- Certas coisas são destinadas. Eu acho que combino com esse lugar tão bem quanto você senhorita Velmont, é uma honra fazer parte da família. – Essas palavras irritaram Brigith. Principalmente porque o tom de voz e o sorriso de Matilda pareciam tão cínicos...

Ficaram em silencio uma olhando para a outra, o clima que se formou foi tão cheio de cinismo que a própria Ophelia se retirou sussurrando que aquilo ia ser uma experiência ótima.
Quem abriu a boca foi Josh:

- Ahn... Ela é curiosa, então acabou se metendo onde não devia e... – Tomou uma cotovelada na barriga. Brigith não queria ouvir a historia, passou por ele torcendo o nariz.

- Agora já tá feito. Idiota. – Sim... Ela sentiu algum ciúme.

Matilda riu e pegou Josh pelo braço, seguindo a outra garota para fora daquela sala.
Brigith e Ophelia se dirigiram rapidamente para a sala de visitas, onde costumavam recepcionar os hospedes. Os primos seguiram as duas sem nem perguntarem se deviam ou podiam seguir. Lá dentro estavam Carmen e Sadako, com café e pirulito em mãos.
Aurora já havia se encarregado ambas, e agora elas estavam sentadas confortavelmente nas luxuosas poltronas de Ophelia, apenas esperando.

- Senhoritas Carmen dos Archer e Sadako dos Kaori, correto? – Perguntou Ophelia em inglês enquanto se sentava numa outra poltrona, de frente para elas. Brigith a seguiu e sentou-se do lado de Ophelia, no braço do móvel.

- E a senhora é Ophelia Velmont. Quem respondeu foi obviamente Carmen.

- Exato. O que vos trazeis aqui?

- Eu vim apenas devolver sua filha em segurança, já a senhorita Kaori...

Todos olharam para a menina do pirulito, esperando que finalmente ela fosse falar algo. Mas ela não disse nada, continuou com o doce na boca e passeou com um olhar curioso por todos na sala. Por fim, ela pegou um jornal que estava na mesinha e uma caneta. Escreveu a seguinte frase em chinês: “Hora de ir para o Canadá.”
Ninguém pareceu entender a frase e ficaram se entreolhando em duvida, apenas Ophelia fez um expressão de não ter gostado nada daquilo.

- O que ela quer dizer com isso? – Brigith reparou.

- Isso é em relação a ti... – Ophelia parecia amaldiçoar Anita por dentro, era visível na frustração que apenas Brigith viu nos olhos dela – Depois falamos sobre isso. Ambas vão passar as festas aqui, Aurora providencie os aposentos.

A serviçal se retirou dali imediatamente, já Brigith ficou intrigada com aquela situação. Ophelia estava escondendo algo dela, e ela sabia disso. Conhecia a baixinha.

- Bri, importa-se de fazer companhia para nossas visitantes? Tenho alguns afazeres.

- Ok... Vai estar aqui mais tarde?

- Sim. Só preciso checar algumas coisas. Aurora vai preparar algo na sacada mais alta amanhã, para podermos ver os fogos melhor. – A ruiva se levantou e caminhou um pouco para a porta – Então, com sua licença... Veremos-nos amanhã.

- Grata pela hospitalidade. – Carmen sorriu e se despediu de Ophelia com um aceno de mão.

E a ruivinha acenou para ela e Sadako com a cabeça, se retirando da sala. Aurora voltou, dizendo que haviam preparado uma refeição para elas. Era quase hora da janta realmente, todos se dirigiram para a sala de refeições para comerem.

Brigith não negou que havia sido divertido jantar com tantas pessoas assim. Mesmo que Ophelia não estivesse com ela.
Carmen conversava um pouco com cada um, principalmente com Matilda. As duas se deram muito bem, eram muito falantes (E todos ali sabiam um básico de inglês para poderem entender-se no mesmo idioma). Carmen tinha mais classe, claro.
Josh ficou o tempo todo encarando Sadako e a espanhola. Como se estivesse perturbado com algo sobre elas, mas quando uma das duas o olhava de volta, o garoto disfarçava ridiculamente. Carmen até tentou falar com ele diversas vezes, porém Josh sabia ser fechado com gente que não conhecia. Por mais que Bri conseguisse ver o brilho nos olhos pervertidos dele. Carmen era mesmo um sonho de consumo.
Sadako estava acabando com todos doces da sobremesa antes que qualquer um ali conseguisse pegar um pouco. Aurora permaneceu de pé atrás de Brigith, que ficou sentada observando a agitação.
Um sorriso brotou dos lábios da garota.
Era tão bom ver aquilo... A mesa cheia, todos se entendendo e sorrindo.
Aquela era sua família. Seu bem mais precioso.

Não sabia exatamente o que a fazia sentir-se incompleta.
Não entendia qual o motivo de ela achar que não sabia quem era a Brigith Velmont. A resposta estava bem ali na frente dela. Tão clara... Tão agradável...
Se todos os dias fossem como aquele a partir dali, tudo seria ótimo. Ela não mudaria nada naquela mesa. Apenas incluiria Ophelia na cadeira da ponta.
No fim das contas Aurora acompanhou Carmen para o quarto que haviam preparado para ela, Matilda as seguiu. Parecia estar com bastante sono.
Sadako se aproximou de Brigith e a chacoalhou pelo braço delicadamente, a morena pode dizer o que ela queria só de ver aqueles olhos sem vida suplicantes.
Explicou aonde era seu quarto para Sadako e disse que estava tudo bem se ela dormisse lá, com ela. A garotinha cor-de-rosa saiu dali saltitante pelos corredores. Bri riu.
E depois se voltou pra ultima pessoa na mesa. Josh.

- Sentiu mesmo minha falta?

- Que pergunta é essa... Sabe que as coisas ficam muito quietas sem você aqui pra me dar mais problemas. – Respondeu ele, sem jeito.

- E pensar que eu quase morri tantas vezes lá... Você nem imagina. Fui perseguida por cachorros gigantes, me meti no meio de um tiroteio e acabei cara a cara com o inimigo numero um da nossa seita atualmente. Emocionante.

- Emocionante? Você é doente.

- Você mesmo disse, lindo. O que seria da sua vida sem a doente aqui? – Sorriu confiante.

- É... Seria chata. – Josh retribuiu com um sorriso amarelo. Brigith fez um gesto com o dedo, pedindo pra ele se aproximar. E ele obedeceu.

Quando estava próximo o suficiente, a garota se levantou e abraçou-o novamente. Dando-lhe um beijo na lateral do queixo, perto do pescoço. Sabia o quanto isso desconcertava o menino, mas não ligava. Era confortável saber que ele pertencia a ela.
Bem mais do que a morena mesma imaginava.

Uns momentos depois, Brigith foi tomar um banho. E Josh voltou pro seu quarto. Teria chegado lá tranquilamente se não tivesse sido abordado por aquela vozinha no corredor:

- Ela é bonita. Não é a toa que se apaixonou. – Era Matilda, estava encostada na porta do quarto – Mas acho que é muita areia pro seu caminhãozinho.

- Tanto faz. Eu não tenho esperanças mesmo. Sai da frente. – Tentou passar por ela, mas a garota abriu os braços tapando a porta.

- Do que você tem medo? Rejeição? Se ela rejeitar, esqueça e parta pra outra.

- Eu já sei que ela não é do tipo que namora muito tempo, então por mim tudo bem. Acho que consigo aturar numa boa, caso ela não se apaixone por alguém por mais de um dia.

- Você tem uma estima muito baixa sabia? Devia se declarar.

- Não quero falar sobre isso... Tá tudo bom como está. Não se mete. – Aquilo o fazia se sentir estranho. Talvez irritado com Matilda.

- Covarde! Será que você não pode ser um cara de atitude pelo menos uma vez?

- Eu to bem assim, por que você insiste tanto?

- Porque me parece errado você bancar o amiguinho conformado da menina que você ama, quando no fundo queria algo mais. Você não pensa em si mesmo quando o assunto é a tal da Brigith, então eu penso no Josh por você. Idiota.

- Valeu pela preocupação, mas eu não pedi sua ajuda pra começo de conversa. – Sem paciência, o garoto a puxou pelos braços e a tirou da porta. Entrando no quarto.

- Esse é meu lado apaixonante. Eu não preciso da sua permissão pra me meter na sua vida. Se pelo menos você fosse mais responsável... – Porém a morena foi rápida e passou por ele. Entrando no quarto também. Josh deixou a porta aberta.

- É minha vida. Eu decido o que fazer dela e estou bem assim. Não quero correr riscos.

- A vida é correr um risco. Para de ser o nerd tímido um pouco.

- Vai se ferrar. E de preferência, no seu próprio quarto. – Josh apontou pra porta, encarando ela com certa irritação.

- Só se você parar de negar seus sentimentos. E admitir que essa situação não é tão agradável quanto você diz. Ela tem cara de quem faz filas, então é melhor ter ela só pra você do que dividir com meio mundo, não acha?

- Ah claro, seria maravilhoso. Mas eu não sou um cara muito ambicioso, então não enche meu saco e não se mete onde não foi chamada.

- Tudo bem. – Murmurou desanimada – Mas eu ainda vou fazer você se declarar pra ela.

- Fora! – Matilda saiu do quarto, mas olhou pra trás pra dizer a ultima frase.

- Você não é um homem Josh. É uma ameba.

O garoto bateu a porta na cara dela e foi tomar um banho pra esfriar a cabeça.
Normalmente ele teria dormido bem apesar daquilo. Mas o problema era que Matilda não estava tão errada. Era péssimo ver Brigith com outras pessoas no sentido romântico. E ele sabia o quanto ela colecionava paixões de curto prazo.
Por dentro, ele chegava a ter raiva da garota por causa daquelas atitudes. Não poderia defendê-la se alguém a chamasse de vadia ou coisa do gênero. Na verdade, ele não conseguia ver Brigith como alguém que não conhece a si mesmo. Como ela dizia o tempo todo.
O que ele via era uma garota confusa.
Que não era tão madura ou esperta quanto parecia. E bem no fundo, ele tinha esperanças de que um dia Brigith tomaria um rumo e então olharia para ele.
Uma esperança bem vaga.

Brigith terminou seu banho. Vestiu o seu roupão vermelho, pantufas e caminhou para o quarto. Sadako estava na sua cama, adormecida.
A garota a chacoalhou dizendo como se fosse uma mãe:

- Pode tratar de acordar. Tem que tomar um banho e colocar outras roupas. Não vou dormir com meninas fedidas.

Sadako resmungou e levantou, se arrastando até o banheiro.
A morena foi até seu guarda roupas e pegou algo que servisse em Sadako e outra camisola pra si mesma. Deixou tudo em cima da cama e saiu.
Queria ver Ophelia antes de dormir, e sabia onde achar ela essas horas.
Já estava tarde. Um pouco mais que meia noite.
A cozinha imensa era quase o único lugar de luzes acesas depois da meia noite. Os corredores eram iluminados sempre por luminárias antigas e com luzes fracas. Isso tornava a mansão bem escura, parecia um castelo moderno. Brigith sabia que essa tinha sido a intenção de Ophelia quando construiu aquela mansão.
E lá estava ela, na mesa comendo um bolo.
Com os cabelos flamejantes de pontas encurvadas, soltos. Vestia um roupão também, vermelho, pequeno e discreto. Brigith sorriu para a garotinha e ela tentou retribuir o sorriso.
A morena se aproximou e puxou uma cadeira, sentou-se perto da menina e ficou a admirando comendo aquele bolo aparentemente delicioso de maracujá.

- Sobreviveu sem mim? – Piscou ela.

- Sabes que sou forçada a isso por mais que eu não desejasse viver sem ti.

- Que lindo ouvir isso de você. – Brigith se aproximou e deu um beijo estalado na face da ruiva, que a encarou com desaprovação. Detestava aquele tipo de coisa quando estava comendo. Achava falta de educação. – Desculpa, não resisti.

Entre os risos de Brigith, Ophelia terminou aquele pedaço relativamente grande que comia com rapidez. Limpou seus delicados lábios róseos com o guardanapo e finalmente olhou para a morena, iniciando um dialogo:

- Como se saiu em tua aventura?

- Cheguei aqui viva. Ah é, conversei com a Anita sobre você. – Ophelia suspirou, não tinha gostado disso. Porém Bri não a deixou resmungar. – Eu acho que é uma boa ideia você tirar férias longas. Acho que ia ajudar você a reencontrar alguma motivação pra viver. E até você se sentir a vontade pra voltar, eu poderia tomar conta das coisas do clã pra você.

- Ótimo... Ela fez tua cabeça pra tirar-me do controle da minha própria família. Isso já aconteceu antes Bri. Não vou nem sequer pensar nessa hipótese.

- Para de ser cabeça dura Ophelia. Você tá cansada, eu só quero ver você bem e agora você prefere acreditar que eu quero roubar seu lugar ao invés de te ajudar? – Frustração.

- Não foi isso que disse. Só tenho medo de ela estar tramando algo com o meu afastamento.

- Você é paranoica demais... Mas eu sei o que pode curar essa sua melancolia de idosa, eles se ofereceram para curarem você. Ou pelo menos darem um corpo normal, pra você viver como uma pessoa normal. Uma adulta... – Ophelia ficou em silencio, desviou o olhar – Você acha que eu sou cega Ophelia? Você me criou. Eu conheço você. Sei que você vive pelos cantos dessa casa deprimida enquanto se faz de líder “forte” pra todos nós.

- É a minha escolha Bri... Não a mais fácil pra mim, mas é o que decidi. Eu tenho um clã pra manter. Uma imagem a zelar.

- E quanto a mim Ophelia? – Aquilo já estava entalado faz tempo, era hora de soltar tudo – Você acha que eu gosto de ver a pessoa que eu mais amo, quem eu mais quero proteger nessa situação? Se torturando por causa de algo que podia ser evitado? E por quê? Porque a Black Rose considera você um tipo de deusa? Por tradicionalismo, medo de mudar? Dane-se tudo isso! Você diz que seus herdeiros, seus filhos e filhas da família são tudo de mais importante pra você, e onde fica a sua consideração por eles? Por mim?

Mais silencio. Ophelia se manteve quieta, olhando pra outra direção. Brigith não tinha aumentado seu tom muito em momento algum. Mas acabou aumentando quando viu que a ruiva estava a evitando.

- Olha pra mim droga! – Os olhos da morena já estavam cheios de lagrimas. A parte mais cruel para ela era discutir assim com a garotinha, não os fatos em si.

Ophelia a olhou sem demonstrar expressão alguma. Permaneceu em silencio, parecia inabalada. Ou não ligar nenhum pouco pra aquilo.
Brigith lembrou-se do que tinha pensado uns dias antes... Será que para aquela garotinha nada ao redor importava? Será que ela odiava o mundo tanto por ser diferente? A ponto de não considerar o que ninguém sentia? A garota percebeu as lágrimas começarem a escorrer do seu rosto sem parar, e os soluços vieram. Deu as costas e correu para a porta, mas depois de atravessá-la ouviu outro soluço baixo. Seu coração apertou ainda mais quando notou os outros barulhos quase imperceptíveis que seguiram aquele primeiro soluço.
Bri voltou para a cozinha devagar, contendo o choro.
Mas não conseguiu conter por muito tempo depois do que viu. Ophelia estava com os dentes cerrados, chorando... Como uma criança.
Os soluços finos e infantis, as lágrimas, a tentativa frustrada da garotinha de virar de costas pra ela e tentar parar de soluçar, esfregando as mangas do roupão contra a face, tentando esconde-la. A morena correu para ela num impulso e a virou para si, abraçando ela a força contra o peito. Não resistiu mais às lágrimas, as deixou caírem junto com as de Ophelia.

-Por que você não me deixa te ajudar? Não precisa fingir ser forte pra mim também droga... Eu quero ser forte por você. Pra te deixar descansar pelo menos um pouco... Não percebe?

No fim das contas elas acabaram ali, chorando uma no ombro da outra.
O motivo era o mesmo... Impotência.
Talvez até egoísmo da parte das duas.
Nem notaram que Josh tinha ido pra cozinha de pijama na hora errada pra variar e que tinha dado meia volta ao se deparar com a cena.

O garoto achou aquilo tocante em certas partes. Aquelas duas realmente se amavam e eram parecidas demais. Com um sorriso no canto dos lábios, ele decidiu deixar de tomar algo pra dormir. Ver ambas assim havia cessado a irritação que Matilda causou.
De qualquer forma, mesmo que ele acabasse junto com Brigith no sentido romântico como sua prima queria, não tinha como ele competir com aquilo. Aquele tipo de amor entre elas.

- Esse lugar é meloso... – Repetiu pra si mesmo.

Quando se virou pra ir embora, Josh se assustou. Chegou quase a gritar. Sadako estava parada nas costas dele, de frente pra porta da cozinha. Vestindo uma camisola larga e clara que Brigith havia separado pra ela.
Estava estática, como se fosse uma boneca. Aquilo o assustava...
A garotinha parecia ter visto a cena, e no escuro com aqueles olhos descoloridos dela pareciam ainda mais sem vida que antes. Com uma ponta de ódio.
Josh ficou a olhar assustado para ela por alguns minutos e depois passou com a palma da mão na frente da face da menina para certificar que ela não estava em nenhum transe.
Os olhos sem cor dela miraram para o rapaz como se fossem armas.
Sua boca e corpo permaneciam imóveis, mas aqueles olhos...
Aquele olhar vazio e macabro o assustou ainda mais. E por fim, se afastou dela. Voltando para o seu quarto. Tinha algo de muito errado com aquela garota cor de rosa.
Ela não era nenhum pouco meiga ou inocente quanto parecia.
Josh dormiu com as portas do quarto trancadas naquela noite.

Pelo menos Matilda não invadiria sua cama dessa vez.
Algo que o deixou pensando sobre ser bom ou ruim.

De certa forma, ele queria que a garota ficasse longe por um tempo. Mas dividir cama com ela era tão bom que o garoto poderia esquecer um pouco a discussão que tiveram.

Noite do ano novo...

Foi estranho não acordar de um jeito bizarro de novo. Sem a Matilda pra me encher logo cedo... Admito que ainda estava irritado pra caramba com ela. Por que essa mania de se meter onde não deve? Principalmente com a Brigith?
Acho que eu tinha medo de perdê-la. Por isso me irritei tanto com aquela ideia absurda da Matilda. Tentar “investir” ou me declarar pra Brigith... Sei lá, acho que ficaria um clima muito chato depois de eu levar meu fora.
Talvez nunca mais fosse a mesma coisa. Ela deixasse de ser aquela minha ‘melhor amiga’. Acho que é isso que me deu tanto medo naquela hora.
Eu não queria nem pensar em perder. Ou estragar a única relação boa que eu consegui na porcaria da minha vida. Me chamem de covarde se quiserem, eu sei que é sempre a impressão mais forte que eu passo.

É hilário quando a gente levanta olha para o relógio e ainda tá cedo, decidimos voltar a dormir um pouquinho e quando acordamos de novo já se passaram uns cinquenta minutos. O suficiente pra se atrasar pra aquela coisa importante que você tem marcada todo dia.
No meu caso, o “treinamento de aceitação”. Por que Matilda não tinha que passar por isso tudo? Além das aulas teóricas com Ophelia claro...

“Nossa seita é bem matriarcal. Se você nasce com algo entre as pernas já é o suficiente pra nossas rainhas terríveis arrancarem nosso couro enquanto elas ficam com as atividades mais mentais das bruxinhas.”

Era o que aquele personal trainer da Brigith dizia. Eu comecei a detestar feminismo por isso, pelo que Ophelia dizia homens não tinham tanta moral quando era bruxaria o assunto. A única exceção notável foi um tal de Crowley. Que ficou mais famoso que qualquer mulher no ramo. Bem engraçado né?
A anã disse que conheceu esse cara. Que ele fazia magia de verdade, lidava com demônios e esse tipo de coisas que a gente nunca vê.
Eu mesmo nunca vi essas bruxas fazendo feitiço algum. Mesmo quando a ruiva me dizia que a tal família Sullivan podia ler mentes e causar desastres com apenas um olhar.
Era irreal demais pra eu acreditar. Quais eram os poderes da família Velmont afinal? A única coisa que dava medo ali era a existência da nossa líder.
Me dá até tontura de imaginar o numero de pessoas que ela já conheceu... Será que ela chegou aqui na época dos cowboys e índios? Pela idade que eu acho que ela tenha, não duvidaria nada se ela estivesse com o Colombo na viagem que acabou trazendo ele pra América. Talvez ela mesma tenha descoberto a America.
Só que ficaria mais bonito colocarem o herói como um maluquinho de chapéu do que uma menininha ruiva mal humorada. Sabe como as coisas eram machistas na época, ao contrario do mundo das bruxas. E por mais que eu mesmo seja um pouquinho, acho que agora quem é mais machista nesse mundo normal são as próprias mulheres...
Como eu disse, engraçado.

Voltando ao assunto, era estranho demais acordar sozinho ali. Estava muito frio e eu mal tinha coragem pra sair das cobertas, mesmo atrasado.

Por fim a coragem veio e eu joguei os panos pro lado, corri pro guarda roupa pra pegar um moletom pesado. Íamos correr pra variar, como eram todas manhãs. Joguei o que eu achei no armário por cima do corpo, até me sentir aquecido o suficiente pra parar de tremer. E depois dos tênis calçados sobre umas três meias, consegui abandonar o quarto.

Estava tudo quieto demais. Não sei por que, lembrei-me daquela garotinha cor-de-rosa que Brigith trouxe da Espanha. Ela me assustava... Só de pensar que eu podia dobrar um corredor e encontrar ela me deixava paranoico.
Ela era do tal clã Kaori. Ophelia já tinha mencionado eles, todos assassinos traiçoeiros. Aquela pirralha devia matar pessoas desde que estava no berço. A simples presença dela ali me fazia criar dezenas de teorias loucas na minha cabeça. Parecia que eu estava ficando louco, ou me tornando um teórico da conspiração. Se é que eu já não sou.
Ótimo, a única pessoa importante que vi acordada ali foi Aurora. Recebeu-me na academia da mansão com um sorriso. E como era bonita... Devia ter a idade da minha mãe, se não um pouco mais velha. Beleza era um tipo de mutação ali não? Eu sempre pensava nisso.
Se bem que... Elas eram bruxas. Deviam ter algum feitiço pra saber se as meninas seriam ou não bonitas quando se tornassem adultas, isso explicaria o motivo de elas serem todas tão bonitas. Deviam ter sido escolhidas a dedos e com uma bola de cristal.

- O que o senhor está fazendo de pé a essas horas? – A voz dela era extremamente mansa. Me dava a sensação de estar sonhando.

- Exercícios ué. O personal trainer ia me encontrar aqui, como todo dia.

- Oh! Eles não te avisaram? Como hoje é o ultimo dia do ano a pequena mestra deixou que todos tirassem o dia de folga. – Ótimo. Acordei e levantei naquele frio maldito pra nada.

- E você o que tá fazendo aqui então?

- Pra mim não é trabalho nenhum arrumar as coisas em casa. E por outro lado, se eu tirar o dia de folga quem iria arrumar as coisas pra vocês passarem o ano?

Eu pensei em dizer que aquilo era injusto com ela, e insistir pra que fosse descansar também, mas achei melhor não. Parecia estar feliz com aquilo, realmente... Como alguém poderia ficar feliz em ter que limpar um lugar tão enorme daqueles?
E servindo alguém então. Eu não entendia bem que prazer teria em ser um tipo de serviçal de uma seita oculta. Mas se Aurora gostava, tudo bem.
Cada louco com a sua loucura.

Voltei pra cama frustrado. Teria ficado com raiva se não fosse ter me encontrando com Aurora lá embaixo. Por que ninguém contava nada pra mim? Eu era tão insignificante assim na família e não merecia nem um pouco de satisfações? Ou talvez ninguém me respeitasse ali.
Arranquei os tênis e os arremessei longe. Tirei boa parte dos agasalhos também e decidi me enfiar debaixo das cobertas. O frio estava castigando ainda.
Ah claro, um susto. De novo.
A praga da Matilda foi parar na minha cama pra variar. Só podia ser. O impressionante seria ela entrar assim, justamente na hora exata em que eu acordei e destranquei a porta do quarto. Isso explicaria a quase certeza que eu tive de que alguém estava junto comigo debaixo dos cobertores. Mas não havia nada. Olhei umas duas vezes, nada.
Morar naquela mansão estava piorando minha paranoia.
O susto de verdade veio com as batidas na porta, bem naquela hora. Até admito que grunhi baixo por causa daquilo, entendam... É fácil se assustar com algo assim.
Caminhei pra porta amaldiçoando quem quer que fosse do outro lado. Abri sem muita delicadeza pra acabar me deparando com o topo de uma cabeça cor-de-rosa. Tenho certeza que eu perdi a cor na hora. Era aquela menina.
Aquele monstro preso dentro de uma carcaça fofinha.
Parecia ridículo sentir medo dela, mas eu conseguia. E como sentia medo... Mal consegui engolir seco diante daqueles olhos sem cor.
Ela não disse e nem fez nada. Apenas olhou pra minha cara e saiu andando.
O que diabos uma visita estaria fazendo perambulando pelos corredores de uma mansão alheia? Além de falta de cortesia era sinistro. Sinistro demais.
Eu voltei a trancar a porta depois disso. Como se fosse adiantar algo...

Acordei de tarde, talvez umas duas horas, a casa parecia mais barulhenta. Movimentada pra ser mais exato. Não tinha colocado os pijamas de novo por preguiça mesmo, foi só levantar e colocar as blusas que eu tinha tirado antes e as outras meias com o sapato. Nem penteei o cabelo ou escovei os dentes, sai dali pra dar uma olhada no que estava havendo. E era obvio. Estavam preparando as coisas pra virada do ano.
Até no meu pais gelado a gente costuma se reunir com a família, fazer refeições fartas e ver fogos de artifício. Lembrei-me da minha mãe na hora.
Será que ela ia cobrar que eu fosse pra casa dela? Ia ser um inferno. Eu preferia ficar com a Brigith, sem duvidas, mas mães tem autoridade. Todos sabem que elas têm.
Se ela me ligasse, eu não teria escolha. Acho que minha mãe mandava mais em mim, de longe, que essa tal de Black Rose.
Não demorou muito até me encontrar com Brigith nos corredores. Estava agitada, parecia bem cheia de compromissos. Antes de eu falar qualquer coisa, ela me puxou pela manga e enfiou o braço por debaixo do meu, me arrastando pelo corredor com ela.
O tom de voz que ela usava pra dizer coisas como agora era ótimo. Parecia uma criança mimada que queria conquistar o mundo. Eu adorava ouvir o som das tramas que ela fazia quando falava assim, eu juro que acreditava que ela podia dominar o mundo mesmo.

- Vai ficar aqui ou vai pra casa da sua mãe?

- Não sei. Ela não me ligou ainda.

- Hm. Se ela ligar fala que você vai ter que cumprir horário. Sua prima pode ir.

- Mas a mãe é minha. Passar o ano novo longe da mãe é pecado, principalmente se ela pedir.

- Não somos cristãos aqui. Não tem isso de “pecado”. – Ela riu de forma venenosa.

- Muito engraçado... Diz isso porque não é você. Se fosse a Ophelia no lugar da minha mãe e você fosse eu, garanto que iria sem ela ligar.

- Ah, tenha dó. Você não ama tanto a sua mãe assim. - Era maldade dela, mas estava certa em partes... Eu guardava algum rancor da minha mãe.

- Mas é ela quem me pôs no mundo. Manda mais em mim que você. – Foi difícil de dizer aquilo. Fiquei encabulado depois.

- Veremos. Veremos. – Pareceu levemente irritada com o problema, mas acho que sabia que não era uma verdade incontestável o que eu tinha dito. – E vá tomar um banho, suíno! Esse seu bafo está insuportável.

Brigith me soltou no corredor e correu pra um dos empregados, perguntando pra ele algo sobre comida espanhola. Devia estar querendo agradar aquela mulher que tinha trazido pra cá, de certa forma eu invejava Matilda por se comunicar tão bem em inglês e poder falar mais com a bonitona da Espanha. Era Ophelia quem estava me ensinando inglês também. Disse que eu tinha que “dominar o idioma padrão do globo”, bom. Eu sabia um pouco, por causa dos videogames. Fui de volta pro meu quarto, tomar um banho.
De tarde antes das grandes agitações da noite, almoçamos e tomamos café com as visitantes. A menorzinha não parava de me encarar, o que tinha me deixado paranoico demais. Mas pra balancear, a espanhola tinha um sorriso lindo. E que ótimo “conteúdo” naquela saia cinza social. Aquele balanço era tão hipnotizante que Matilda me deu uns dois tapas pra parar de olhar quando Carmen levantou-se e voltou pro quarto pra escovar os dentes depois da refeição. E mais tarde, ficamos os três conversando na sala de visitas, sendo mimados pelas serviçais o tempo todo. (Digo três porque a menina do cabelo rosa não falava.)
A espanhola perguntava sobre quase tudo das nossas vidas, parentes, como fomos parar na Black Rose, o que achávamos da vida que estávamos levando, planos pro ano novo e até nosso signo no zodíaco. Eu aquário, Matilda gêmeos, a cor de rosa não disse, obvio...
E a espanhola? Escorpião.
Como Brigith dizia “Os escorpianos são os melhores no quesito cama.”, eu nem quero pensar em como ela descobriu. Brigith amava gente de escorpião. Eu chegava a sentir inveja, Bri também disse que eu era incompatível com escorpião, que nunca ia experimentar o “sabor” de um deles, eu era virgem mesmo, a essa altura qualquer coisa seria ótima de se “saborear”. Mas o mais preocupante é que segundo o horóscopo eu era compatível com Matilda, já com Brigith... Não tinham vantagens ou desvantagens.
Tanto faz, nunca fui tão fã de horóscopos assim.
Mas que eu fiquei com uma vontade desgraçada de ser compatível com escorpião e provar um pouco do “veneno” daquela mulher era fato.
Eu comecei a adorar a Espanha.

Mais tarde minha mãe me ligou, acertei em cheio.
Foi pro meu celular mais especificamente, dava pra ouvir choro de criança no fundo. E ela falava com aquela sua voz grave, alta o suficiente pra ser mais barulhenta que a choradeira da minha irmã. Sorte que eu morava longe, iria enlouquecer com aquele barulho diariamente na minha cabeça. Odeio choro de criança. Quem gosta né?

- Filho, não vai vir pra casa hoje?

- Não sei...

- Como não sabe? É ano novo, tem que vir pra cá. Sua irmã está com saudades. – Eu me senti encurralado ali. Não tinha ideia do que fazer. Brigith queria que eu ficasse, isso era óbvio. Mas era ano novo, eu tinha que passar com a minha família.

- Nós somos tua nova família. – A voz veio da pirralha ruiva que surgiu atrás de mim do nada, como se tivesse lido minha mente, Matilda estava acompanhando ela.

- Vocês não são bem a minha família. – Respondi num tom aborrecido.

- O que você disse Josh? – A voz veio da minha mãe, não da pequena.

- Não era com você mãe, eu tava falando com a mãe da Brigith.

- Asno. Tire o telefone da orelha para responder-me. - Aquele demônio ruivo cruzou os braços, me encarando sarcástica.

- Ah, vai se...

- Josh! O que você tá falando? – Minha mãe quase gritou. Esqueci de tirar o telefone de novo.

- Dá isso aqui, você é muito burro! – Matilda tomou o celular da minha mão e falou toda animadinha – Olha tia, a gente vai passar a virada aqui na casa dos Velmont. A mãe da amiga do Josh é muito gente boa, me deu emprego também acredita? – Mais conversinha fiada. Ophelia estava sorrindo como se tivesse adorado a situação que ela mesma criou, raro vindo dela – Ah, você e o tio estão convidados viu? Vai ter um super banquete. Eu mando a limusine ir pegar vocês ai, tá bom? Ok. Tchau. – Desligou.

A cara que Ophelia fez não tinha preço. E Matilda, inocente ou não, virou-se pra gente animada. Eu segurei o riso, Ophelia atingiu a própria testa com um dedo, abaixando a cabeça. Ela disse que Matilda tinha mais talento que eu, mas acho que nunca aconteceria uma gafe dessas comigo.

- Tinham que ter o mesmo sangue... – Resmungou a baixinha.

- Vai ser ótimo juntar as famílias. – A idiota riu e saiu andando por ai, aparentemente sem noção do que tinha acabado de fazer.

Eu acabei rindo também. Aquilo tinha apagado o sorriso do rosto de Ophelia. Bem feito. Foi a risada mais deliciosa que soltei o dia inteiro. Pena que a ruiva passou por mim e deu um pisão com o calcanhar na ponta do meu dedão do pé. Má perdedora...

Como isso tudo acabou? Simples...
Eu me vesti com as roupas brancas que Brigith tinha me dado de presente de natal atrasado, estava parecendo um playboy. Pela primeira vez na vida.
Uma mesa grande foi posta na maior sacada da mansão, e o banquete que organizaram ali era tão variado que eu nunca sonhei que iria viver pra experimentar. Havia mesinhas, cadeiras, musica clássica ao fundo, bebidas caras. Tudo estava iluminado e a animação era ótima, várias pessoas perambulavam pela casa como se fossem convidados de uma grande festa, sem empregados. Brigith dizia que nesses eventos todos ajudavam a organizar e no final todos comiam e se divertiam, servindo uns aos outros. Afinal, o que custa pegar isso ou aquilo para um amigo? Era isso que todos eram ali. Serviçais, seguranças, chefes da família... Todos eram iguais naquele dia.
E Brigith... Como ela estava feliz e radiante ali. Vestida com uma calça justa e um blusão elegante pesado, cabelos negros presos, vestes brancas. Sorria o tempo todo, mas diferente do que eu costumava ver na escola ou em outros lugares. Era só ali, com a sua família que a máscara caía. Matilda também estava cumprindo bem o castigo que Ophelia deu a ela. Distrair minha mãe e padrasto. Já a minha irmãzinha, Sofia? Foi brincar com a Ophelia. Hilário.
(Bonito o nome dela não? Acho que era minha única parente de sangue que eu adorava. Sinceramente.)
A ruiva recusou o pique-pega e presenteou a menina com um videogame portátil de ultima geração que Brigith não quis por causa de terem comprado da cor errada... Cara, eu sempre quis um daqueles. Por eu não nasci rico também?
Minha irmã ficou quieta pelo resto da noite, seus olhos azuis (a única coisa boa de herdar do meu padrasto geneticamente) estavam vidrados no jogo, ela ficava ainda mais bonitinha com aquela roupa quase toda fechada, branca. Mal dava pra ver as madeixas negras saindo pela touca. Se querem saber... Isso ia ser um problema quando ela chegasse aos quatorze anos. Meninas bonitas nunca são santas, não mesmo. Podem até fingir, mas olhos claros sempre é um sinal de perdição. Acreditem.
Não nego que fiquei umas horas jogando aquilo com ela, era ótimo. Sempre lançam jogos pros portáteis que nunca chegam aos consoles normais. Matei minha vontade no dia.
Só parei quando vi Carmen me chamando. Usava um vestido claro justo, cabelos presos num coque em cima da cabeça. Simplesmente linda. (Pude ver meu padrasto quase deixar o queixo cair a cada vez que ela passava.) a mulher foi direto ao ponto:

- Não viu Sadako por aí, querido?

- Não, não... Ela é meio imperceptível apesar de ter aquele cabelo. – Respondi com meu inglês enrolado.

- Se caso a vir, me dá um toque ok? – Pra minha surpresa, ela respondeu em finlandês. Que mulher talentosa era aquela... E que talento.

Eu até iria acompanhá-la depois que ela começou a andar, mas Matilda me arrancou de lá, fui obrigado a ficar perto do meu padrasto e da minha mãe. A minha geradora era morena também, cabelos ondulados até metade das costas e olhos cinza. Alta, não muito magra, mas nem muito gorda. Estava usando um vestido branco com saltos, o mais chique que tinha. Eu considerava minha mãe bonita. Bem mais do que meu padrasto merecia ao menos. O ridículo estava usando um terno branco também, cabelos castanhos bem escuros ralos, uma pança típica de quem tem uns quarenta anos de idade e olhos azuis. Sem mais detalhes, fora aquela barba por fazer enfeitando seu queixo quadrado, que ele devia achar sexy. Sempre que eu ficava perto dele, permanecia calado olhando pra outra direção. Minha mãe costumava conversar somente com ele, e me oferecia coisas pra comer, isso quando não estava vigiando minha irmã. Era tão desagradável estar com os quatro que eu realmente comecei a considerar que era melhor ser como Ophelia disse. Minha verdadeira família passar a ser aquela, os Velmont.
Pelo menos Matilda me fez companhia o tempo todo que estive com eles, ela estava vestida igual a minha irmã a diferença era a tiara ao invés do gorro branco, todo mundo parecia vestido igual ali menos Ophelia que estava trajando um terninho feminino rubro, com saias longas e botas. Consegui reparar em quase todo mundo só por desviar o olhar da minha mãe e do marido dela.
Já perto da meia noite, Brigith apareceu pra agraciar meus parentes com a sua presença. Meu padrasto ficou bobo quando viu ela, e minha mãe já a conhecia. Mas não deixou de se deslumbrar também. As mãos dela nos meus ombros, Matilda indo ver o que Sofia estava jogando. Perfeito. A cena era ótima, parecíamos casados desse ângulo. (Quem dera.)

- Deve estar orgulhosa do seu filho hein tia? Agora ele tá ganhando mais que seu marido e nem faculdade fez ainda. – Risos, minha mãe riu junto com ela. E eu também.

- Na verdade eu me orgulho da amizade que ele fez. – Minha mãe era divertida.

E aquilo foi pura maldade, minha ‘amiga’ sabia o quanto eu odiava aquele homem por tudo que ele falava de mim pra minha mãe. As palavras de Brigith me vingaram anos de raiva que acumulei daquele babaca. Ele forçou o riso também, mas eu sabia como ele se sentiu por dentro. E como sabia. Amo Brigith Velmont. Incondicionalmente.

Um tempo depois começou a contagem, depois da contagem fogos, depois dos fogos vieram os abraços e desejos de um próspero ano novo e o resto do clichê mundial que se repetia sempre nessa data. Primeiramente foi Matilda e Sofia que me abraçaram, depois minha mãe, Aurora, Mikael (O personal trainer, ele tem que ser gay) e tive que apertar a mão do meu padrasto e ouvir um “Feliz ano novo Josh.” naquela voz grossa dele. Por fim, recebi um abraço carinhoso da espanhola. Quase tive uma hemorragia nasal.
Brigith tinha sumido, e Ophelia estava longe, só observando a movimentação. Sorria orgulhosa de cada um deles, cada funcionário ou membro da sua família. Do império que ela construiu. Eu notei que o que ela estava bebendo era vinho.
Caminhei pra ela timidamente, e ela não desviou o olhar das pessoas pra olhar pra mim. Continuou ali como se estivesse hipnotizada, maravilhada. E a voz infantil dela saiu serena, com uma calma e felicidade que eu nunca imaginei que ela pudesse ter:

- Queres saber se é entediante viver pra sempre, sim? – Ela permaneceu em silencio uns segundos antes de continuar - De fato, é. Exaustivo, difícil. – Deu uma golada na bebida - Mas quando tu podes observar teus filhos crescerem, tornarem-se adultos dignos, com fibra... Todo tédio e toda tristeza valem a pena. Eu cuidei de todos eles desde que nasceram, dos pais deles, e dos pais dos pais deles. Aurora sempre foi uma rapariga calma e prestativa desde pequena, sempre adorou ajudar as pessoas. Ela não é governanta por obrigação, mas por paixão. Aki era agressivo e robusto desde pivete, mas tem um grande coração. Sei que ele daria a vida pra proteger cada um de nós. – A menina riu baixinho, eu acompanhei com um sorriso amarelo – Faria isso até por ti.

- Você... Gosta mesmo deles né?

- Minha família é a única razão pela qual eu enfrento minha maldição. O tormento que ela causa-me não é nada comparado ao amor que sinto por cada um deles. É por esta causa que me mantenho sempre firme na vossa frente. Não se trata da Black Rose, tradições ou poder. Meu maior tesouro compõe-se por vós. Por cada um desses momentos preciosos que tive com as minhas crianças. E eu abriria mão de tudo que tenho por elas.

Eu não soube o que dizer diante das palavras da baixinha. Aquilo chegou a me tocar, ver a determinação e a emoção nos olhos pálidos dela. Estavam até lacrimejando um pouco. Quando percebeu o que tinha me contado, ela sussurrou pra si mesma enquanto voltava pra dentro da mansão:

- Estou pegando o péssimo habito de me abrir para ti.

Isso me deixava feliz de certa forma. Meus parentes foram embora cedo, depois de se despedirem de Brigith e das outras pessoas. Tudo correu perfeitamente bem, nenhum deles desceu para o templo e viu as ‘fantasmas’ fazendo algum ritual de ano novo.
Minha mãe se queixou de não ter visto a mãe de Brigith ali, a desculpa foi que a tal mãe era muito ocupada e não pôde comparecer à festa. Minha mãe criticou a atitude e foi embora. Pra ela, essas datas se passavam mesmo com a família.
Depois que tudo estava quase silencioso, ouviam-se apenas os barulhos de tudo sendo recolhido e preparado pro dia seguinte, foi a hora que eu encontrei Brigith mais uma vez olhando pra lua e para o que restou das luzes que cruzavam o céu, comendo uma torta pequena de limão que tinha sobrado.
Sempre os fins de festa eram nossos momentos particulares, eu nem precisava pensar. Sabia que ela estaria exatamente em algum lugar alto, olhando pra lua, quando tudo acabasse. Parei ao lado dela com as mãos nos bolsos da calça branca. Ela virou-se pra mim, largando o doce, ficando de costas apoiada nos balaustres.

- Noite ótima, não foi?

- Foi sim. Obrigado pelo que falou praquele idiota. – Caminhei pra ela, com as mãos nos bolsos.

- O prazer foi meu. – Ela deu um risinho – Obrigada por estar se dando bem com Ophelia.

- Ah... Ela gosta de falar coisas pra mim agora, acho. – Cocei a cabeça.

- Eu ouvi vocês dois conversando. Algumas das coisas que ela disse.

- Por isso você adora tanto aquela pirralha não é?

- Por um lado, sim. Ela é forte demais, se sacrifica demais por nós... Isso chega a me torturar. – A expressão feliz no rosto dela sumiu.

- É como ela quer viver. Seria egoísmo fazê-la mudar só porque você não gosta.

- Você não entende! – O olhar que ela me lançou foi de raiva – Não são os sentimentos. Assim como ela, eu faria tudo pela família. Admiro a determinação que ela tem. Eu só não aguento mais ter que ver ela se deprimindo escondida de todo mundo porque tá presa num corpo infantil por séculos. Por mais que ela seja sábia, o estado dela está se tornando insuportável pra ela mesma. Ophelia está cansada...

- Você quer o que? Que ela morra? – Palavras erradas.

Brigith chegou a abrir a mão, preparando um tapa daqueles. Direto pro meu rosto. Fechei os olhos, eu mereci mesmo aquele. Mas ela não me acertou, fechou a mão e tornou a abaixá-la.

- Nunca... Eu não quero perder ela. Não sei o que seria de mim. Se Ophelia morrer, minha vida acaba junto com a dela.

- Desculpa. Eu não quis...

- Tudo bem. Eu me altero um pouco sempre, quando o assunto é ela. – Tornou a virar-se pra lua, o tom de voz dela estava mais desanimado – Eu só queria que ela pudesse viver uma vida normal. Pelo menos uma vez. Que ela envelhecesse igual todos nós.

Fiquei em silêncio por longos segundos, até que consegui me aproximar hesitantemente. Parei ao lado dela, me inclinando sobre a balaustrada. Até achar calcular as palavras que iria dizer.

- Ela é bonitinha como é. Mas admito que fiquei curioso pra saber como ela seria com a nossa idade. Certeza de ser quase tão bonita quanto você. – Enrubeci quando disse isso.

- Ophelia seria mil vezes mais bonita que eu. – Consegui arrancar um riso dela de novo, parece que tinha voltado a se animar – Aqueles olhos, o cabelo... Ficaria uma delicia só. Acho que eu até daria em cima da minha própria mãe. – Mostrou a língua combinada com uma piscada.

- É... Eu também. – Escapou. Brigith olhou pra mim com uma sobrancelha arqueada. – To brincando, calma. Eu não iria roubar ela de você nunca.

- Como se você pudesse. – Riu mais um pouco. E depois de mais uns momentos de silencio, ela encostou a cabeça no meu ombro. Desconcertando-me totalmente. – É ótimo ter você por perto, sabia?

- A-ah... – Não encontrei palavras.

- Quer? – Finalmente ela se voltou pra tortinha, pegou o garfo e fincou no ultimo pedacinho que estava na taça, estendendo pra mim. Não hesitei, abocanhei o doce. (Mesmo que eu já tivesse comido demais) – Ei! Não era pra você comer todo ele.

- Você que ofereceu. – Ri.

- Morto de fome. – Ela analisou meu rosto por uns momentos, eu senti meu rosto esquentar de novo – Ficou um pouco na sua boca.

Movimentei minha mão para os lábios, na intenção de limpar. Realmente, tinha ficado um tanto horrível do creme de limão com chantilly. Mas Brigith me impediu.

- Nada disso. Vou querer pelo menos esse pouco. – Esticou o dedo na direção da minha boca, eu até teria deixado se ela não estivesse com aquele sorriso sacana na cara. Segurei as mãos.

- Que foi? – Ela me encarou ironicamente – Prefere que eu “limpe” pra você de outro jeito?

Quando ouvi aquilo foi como se meu coração tivesse parado, não podia ser sério o que eu imaginei. Mas eu ter ficado em silêncio com aquele cara de bocó ainda segurando as mãos dela só serviu pra encorajá-la mais.
Sem hesitar, Brigith se inclinou na minha direção e fechou os olhos. Acho que meu coração realmente parou quando senti ela tocar os lábios na minha boca, exatamente onde estava sujo. E ainda por cima os fechou sobre meu lábio inferior, praticamente o chupando. No fim ela se afastou um pouco, satisfeita por ter reivindicado seu doce. Mas pra minha surpresa, quando ela abriu os olhos e viu minha cara indescritível, voltou e tocou os lábios nos meus de forma breve. Se afastando só depois.

Minhas mãos já estavam moles, não consegui impedi-la de escapar.
Nunca havia acontecido nada assim. Ela não brincava desse jeito comigo. E eu não soube o que fazer, não conseguia pensar e respirar ao mesmo tempo.
Ela se afastou, rumando pro seu quarto provavelmente. Parou só pra dizer:

- Pra dar sorte. Se seu ano começa com um selinho meu, é sinal que esse ano mesmo você arruma namorada e perde a virgindade. – E sumiu, rindo do que ela mesma tinha dito.

E eu? Se quiser saber sinceramente, eu me senti um daqueles fogos de ano novo.
Subindo bem alto no céu e depois explodindo (de satisfação, claro)
Pena que ela não sabia nem da metade da importância ou gravidade que aquilo teve pra mim.
Fui pro quarto e acabei dormindo rápido, nem notei Matilda na minha cama a principio. Mas quando notei, o que eu fiz foi empurrar ela pro lado com as costas, de forma que ela acabou caindo no chão. Ah sim, ela acordou.

- Filho de uma égua! O que você acha que tá fazendo?

Eu ri, mesmo depois de ela ter me dado dois socos nas costas antes de cair no sono de novo.
Me sentia indestrutível, mesmo que as pancadas tivessem doido, o que não aconteceu. Eu poderia enfrentar uns sete exércitos agora e sairia sem nenhum aranhão.
Tipo um superman sem cueca por cima da roupa ahn?
Se bem que com aquela animação eu até fosse capaz de usar uma.
É essa a sensação de quando você acha que seu amor está sendo retribuído né?
Que merda...

Primeiro dia do ano.
Uma forma boa de começar ele? O garoto de cabelos negros estava convicto de que ele tinha iniciado o seu da melhor maneira possível. Até ser acordado pelo próprio tênis, que lhe acertou o nariz, no meio do sono. Forma bruta de levantar, a primeira coisa que ele viu foi o teto, embaçado. Depois veio a dor, foi retomando consciência até olhar pra porta, de onde o sapato tinha voado. E foi ali que ele avistou sua amada Brigith Velmont, com um olhar de raiva sem igual pra ele. Lembrou-se na hora de Matilda, invasora de cama.

- Eu te disse aquilo sobre virgindade, mas não precisava agir como um merda desse jeito! Bem debaixo do meu nariz, na minha casa! Seu...

A morena travou, não conseguiu achar um xingamento apropriado. E saiu do quarto, batendo a porta. Bufando de raiva. Aquilo tudo era ciúmes? O rapaz se apressou, correndo atrás dela pelos longos corredores da mansão. Era difícil alcançar a morena com as roupas de ginástica.
Maltilda continuou dormindo na cama.

- Não é nada disso... É que ela tem mania de invadir camas!

- Claro! E invadiu justo a sua!? Conta outra! Pensei que você fosse tímido, tivesse um caráter! – Bufou de raiva, não olhava para o garoto. Apenas continuava andando ferozmente -... Por que eu ligo pra isso afinal de contas!? Sai de perto de mim!

- Isso é besteira sua Brigith... – Josh estava constrangido, ficava coçando a cabeça como se aquilo fosse lhe dar alguma ideia de como consertar a situação.

- Besteira? Você transar com uma prima na minha casa é besteira?

- Mas eu não fiz nada com ela droga!

- Rá... Homens são todos iguais mesmo!

- Mesmo se eu tivesse feito alguma coisa com ela você não pode reclamar. Quantas vezes você não fez isso com qualquer um e eu nem dei um pio? – Essas palavras não eram pra ter saído da boca dele. Mas comentários feministas o irritavam um pouco, Brigith pareceu mil vezes mais irritada quando se virou pra ele.

- Tá insinuando o que com isso? Tá me chamando de piranha?

- N-não é isso! – Josh recuou – Só quis dizer que você tá exagerando..

- Então admite que deu uma com ela?! – Estava mesmo uma fera pra usar esses termos.

- Não! Ela é sonâmbula, já disse! Ela só deita na minha cama e dorme!

- Você é tarado, infeliz! Não admito uma coisa dessas aqui! Você tem que me obedecer!

O medo de Brigith? Provavelmente era perder a autoridade que tinha sobre Josh, o controle. A garota gostava de mandar, sempre gostou. E aquele rapaz era praticamente a “propriedade” preferida dela. E achar que ela estava perdendo a posse sobre ele, a fazia acabar perdendo é a cabeça. Antes que ela começasse as agressões físicas, a voz de Ophelia a interrompeu.

- E tu és muito ciumenta Bri. Uma gritaria dessas ainda cedo?

Ophelia estava com um vestidinho azul claro, mas especificamente um pijama de seda. Era longo até as canelas, cheio de rendas brancas nas bordas. Parecia uma bonequinha com aquele cabelo vermelho vivo e o tom pálido dos seus olhos e pele. Calçava pantufas discretas, da mesma cor que o pijama.
Aparentemente ela estava tomando café. Era notável pelo copo de suco nas suas pequenas mãos e o canudo na boca. Ophelia aparentava ter uns doze anos, mas mesmo assim era uma menina pequena. Não chegava nem no um metro e cinquenta.

- Ciumenta? Isso é ridículo Ophelia! Ele estava transando com alguém na nossa casa! Isso é um desrespeito! – Brigith estava fazendo mesmo bastante drama.

- Não aja como uma cega meu amor. Esse traste não tem a mínima capacidade pra abusar sexualmente de alguém. Duvido que ele consiga mesmo que Matilda se oferecesse.

Josh iria agradecer à garotinha. Mas depois pensou um pouco no que ela disse e ficou um tanto frustrado. Amaldiçoando aquele demoniozinho de cabeça vermelha.
Pelo menos Brigith tinha se acalmado depois de ouvir aquilo.

- Acho que você tem razão... – A morena suspirou, colocou as mãos na cintura e olhou pra baixo, como se estivesse envergonhada pelo escândalo.

Josh puxou os cabelos de leve, suspirando de alivio. Até que Carmen saiu da cozinha também, de pijama, assim como Ophelia. A diferença era que a mulher estava usando um que chegava até as coxas, também azul e com rendas. Mas as vestes eram tão justas que se podiam ver os contornos do corpo dela todos. A primeira coisa que Josh pensou foi que aquilo pertencia à própria Ophelia, já o resto de seus pensamentos pareceram ter vazado para Brigith que admirou a mulher por um tempo, pra então notar que Josh fazia o mesmo.
A garota deu um grunhido discreto de raiva e lhe pisou no dedão do pé, sem poupar forças. Escolheu o mesmo dedo que Ophelia havia escolhido pra pisar naquela outra vez. E depois saiu dali, indo fazer seus exercícios diários.
Josh ficou gemendo de dor enquanto segurava o pé, Ophelia voltou pra cozinha bebendo seu suco pelo canudo, lançando um olhar para Carmen antes. A ruivinha não tinha reparado nos ‘artifícios’ da espanhola até agora, entendeu que Brigith se acharia uma criança perto de uma mulher madura como aquela. Mas preferiu não comentar.
Carmen caminhou pra Josh, que parou de gemer imediatamente com a aproximação dela, apenas pra ficar vermelho igual a um pimentão.

- Machucou muito?

- N-não...

- Vocês costumam brigar sempre assim?

- Ela é agressiva... – O garoto não parava de olhar pra camisolinha da mulher.

- Espero que fique tudo bem entre vocês. – Ela sorriu e virou-se, balançando a cabeleira castanha e virou-se novamente apenas pra terminar – Vem tomar café?

Como ele diria não... A única coisa irritante quando ele entrou na sala de refeições, prestando mais atenção em Carmen de costas, foi Sadako sorrindo pra ele. Como se estivesse zombando do rapaz. Pijamas cor de rosa. Aquela pirralha era bizarra mesmo.

Mais tarde, pra infelicidade dele, Carmen se despediu dos Velmont. Precisava ir pra Espanha de novo, já que sua única função ali tinha sido escoltar Brigith de volta pra Finlândia.
Brigith parecia mais calma, porém ainda estava evitando falar e olhar tanto pra Josh quanto pra Matilda (que não entendia nada do que estava acontecendo).
Carmen deu-lhe um abraço e três beijos no rosto, o suficiente pra ele ficar vermelho novamente e dizer um ‘tchau’ abafado pra ela. No caso de Matilda foi a mesma coisa. Com Ophelia, apenas um aceno de cabeça formal, mesmo que no fim Carmen tivesse dado um beijo na testa da ruiva. O que a deixou um tanto irritada. Sadako ganhou um abraço bem apertado e Brigith também, a diferença foi que a morena deu um beijo próximo ao pescoço da espanhola, que apenas riu e piscou pra ela antes de se afastar.
Josh suspirou ao lembrar que já tinha recebido um igual.
Carmen era uma pessoa interessante. Todos ali gostaram de tê-la por perto esses dias, além de comunicativa era uma boa pessoa. Brigith tinha gostado tanto que insistiu milhares de vezes pra que ela ficasse mais um dia. Mas todos ali sabiam que ela não podia. Afinal, era o “braço direito” da família Archer. Devia ser uma mulher muito ocupada.
Depois da despedida, todos sumiram pela mansão de novo.
Quando já estava um tanto tarde, Josh encontrou Brigith sentada em uma das salas, pensativa. Não teve coragem pra falar com ela, mas ela mesma falou:

- Vou sair com a sua prima hoje.

- Pra que? – Isso foi surpresa.

- Estive pensando... Eu não gosto dela.

- Tá armando o que pra cima dela?

- Nada... Eu só quero me entender um pouco com ela. Afinal, eu gostando ou não, vou ter que conviver com ela. Graças a você. E como líder, eu preciso conhecer bem meus subordinados.

- Jura que não vai fazer nada de ruim pra ela? Gracinhas e afins?

- Porque essa superproteção toda? Gosta tanto dela assim?

- É que... – Ele ficou em silencio por alguns longos segundos, achando as palavras certas – Eu gosto muito dela sim. Não queria vocês duas brigando. Você ainda é minha melhor amiga e minha pessoa preferida, mas ela é importante também e...

Josh se enroscou no que estava falando. Brigith fez um gesto, colocou o indicador na frente dos lábios pedindo pra ele se calar. Então sorriu pra ele e levantou-se, abraçando o rapaz, pousando um beijo leve no rosto dele.

- Eu vou me entender com ela. Pode deixar.

Brigith se retirou, rumando para a conclusão daquele seu plano. Josh se sentiu ótimo mais uma vez, obviamente a morena tinha o perdoado por mais cedo. E ele ficou vendo filmes a noite inteira, já que Brigith e Matilda realmente acabaram saindo juntas. Ele quis ir junto, mas entendeu que aquilo tinha que ser entre as duas.
Quem lhe fez companhia foi Sadako. Quando ele percebeu, ela já estava numa poltrona próxima a ele, assistindo aqueles filmes também. Ele detestava terror, mas colocou apenas pra ver se aquilo afugentava a menina. Sem sucesso.
Os olhos dela estavam vidrados no filme, ela nunca se assustava ou demonstrava alguma expressão. Só olhava para Josh quando ele ficava muito tempo olhando pra ela, esperando que fizesse alguma coisa diferente. Ou por paranoia.
Devia ser de madrugada quando Sadako foi deitar e as duas morenas voltaram do passeio. Não precisava ser nenhum gênio pra notar que elas estavam praticamente bêbadas. Riam sem parar. Isso devia ser bom? Sentaram uma de cada lado de Josh.
Matilda colocou o braço em torno do pescoço dele, o apertando. Brigith parecia ter exagerado mesmo em bebida, estava de cabeça baixa rindo. Dentro daquele seu vestido preto.
Já Matilda estava com jeans no momento, uma blusa branca e boina da mesma cor.

- Precisava ver a nossa ‘lider’. Arrasou em tudo lá na boate. – Matilda ria.

- Eu? Você é quem ficou me desafiando pra coisas malucas.

- O que fizeram? – Obviamente, ele ficou curioso.

- Primeiro competimos quem aguentava dançar mais.

- Eu ganhei nessa, claro. – A morena dos olhos amarelos gabou-se.

- Depois competimos pra ver quem conseguia barganhar com o garçom pra conseguir um drink de graça. Nessa deu empate.

- Daí fomos pra bebida. Ela é muito mais pinguça que eu.

- É, mas na parte de ver quem beijava mais gente você me deu um banho. Prefiro ser pinguça a ter talento pra prostituta!

- E eu não sei escolher entre uma dessas coisas. – Começaram a rir descontroladamente.

Josh odiou essa ultima parte. Quer dizer que elas estavam vadiando por ai e ele vendo filmes no sofá com a versão feminina, meiga e rosa de Chuck, o boneco assassino. E pensar que elas estavam fazendo coisas descentes. Doce ilusão.
As duas não paravam de rir, normalmente Brigith iria odiar e brigar feio com Matilda por causa dos comentários maldosos que fazia. Por sorte, o álcool estava fazendo-a rir de toda tagarelice da prima de Josh. Por um lado, elas pareciam ter se divertido bastante. Por outro, o garoto sentiu raiva de ambas. Falou que estava com sono e foi pro quarto, as deixando rindo na sala. Ele tinha ficado acordado até ali só pra saber como tudo tinha ido, mas agora não sabia por que se deu a esse trabalho.

Brigith não demorou pra ir dormir também, estava tonta demais. Despediu-se de Matilda e foi pro quarto, tomar um banho. Preferiu o chuveiro a banheira, a pressão dele era ótima. Fazia sentir cada parte do seu cabelo sendo limpa por aquele jato forte de água. Ficar de costas pra ele causava a mesma sensação que uma massagem nos ombros. Mas Brigith acabou vomitando diretamente no ralo do Box. Apoiou-se nas paredes pra não cair no chão. Tinha bebido demais, era uma sensação horrível aquela. A tontura parecia ter atacado com tudo, até uma garota como ela nua e tomando banho parecia ridícula numa situação assim.
Ao invés de se arrepender, ela riu.
Depois de sair do banho cambaleante, ela se enxugou e colocou um roupão branco. Foi de volta pro quarto e por pouco conseguiu chegar à cama. Deitou-se ali, sentindo tudo ao seu redor girar, como se estivesse com a cabeça dentro de um rio com uma correnteza forte. Ficou alguns minutos ali, em silencio. Soltando apenas alguns gemidos, devido à dor de cabeça. Algum tempo depois ela pode ouvir batidas na porta, e conseguiu dizer um “Entre!”. Brigith estava esperando Sadako, a garotinha havia gostado de dormir no quarto dela. Mas dessa vez ela não tinha ido pra lá. E quem entrou foi Ophelia.
A ruiva caminhou até Brigith e a olhou com reprovação, de braços cruzados. Estava usando um pijama elegante, parecido com um roupão também. De cor negra, enfeitado com rosas douradas e pantufas confortáveis nos pés.

- Não levas jeito mesmo moleca.

- Desculpa. – Bri soltou alguns risos, mas parou. Não queria vomitar de novo – Faz tempo que eu não te dava esse vexame.

- De fato. Tua ultima arte semelhante foi há um ano atrás. – Ophelia se aproximou e sentou-se na cama, colocando a mão na testa da menina.

- Que maldosa. Ontem ainda era ano passado.

- Eu sei.

A ruiva então puxou a cabeça da sua filha, colocando-a em seu colo. Começou a acariciar a cabeça de Brigith de um jeito caloroso. Analisando seu rosto e os olhos amarelados. Era uma sensação ótima, a morena se sentia calma e segura ao toque daquelas mãos pequenas e delicadas. Apesar de tudo Ophelia se preocupava. E nada melhor que carinho materno para horas assim. Não mesmo.

- Pelo menos consegui me dar bem com a chata da prima dele. – Sorriu.

- Devia usar métodos mais responsáveis pra isso.

- A única forma de conhecer uma pessoa de verdade é vendo ela bêbada.

- Tsc... E ainda queres que eu me “aposente”.

Brigith soltou um riso demorado e Ophelia se limitou apenas a um sorriso. A tontura já estava indo embora, a morena olhou para a garotinha. Lembrou-se de algo que ela devia.

- O que a Sadako quis dizer sobre mim aquela hora?

- Ah... – Ophelia não parecia mesmo gostar do assunto – Estás em condição de conversar normalmente?

- Claro. Se eu for vomitar de novo eu tento virar a boca pra fora da cama.

- Nojenta... – Um suspiro, e então ela começou a falar – É sobre teus verdadeiros pais. Sobre tua irmã e falecido pai mais exatamente.

- O que tem eles? Minha irmã foi dada como morta também não é?

- Sim, mas trata-se de um caso mal contado. Alguns afirmam que ela estava envolvida no caso de Yuna Kayoshi, do clã da Rosa Branca. E mais pessoas disseram que Victoria Sullivan também esteve perambulando naquela cidade canadense na época da morte de tua irmã.

- Quer dizer que ela pode estar viva?

- É uma possibilidade.

- Ela ficaria melhor morta... Não entendo porque todos gêmeos de todos os herdeiros, menos a minha gêmea, foram sacrificados naquele ritual maluco que Anita fez no décimo terceiro aniversario da nossa princesinha. Só sei que se foi uma falha, devia ser corrigida.

Ophelia ficou em silencio. Como se estivesse tomando cuidado com o que ia falar. Depois de algum tempo daquele jeito, ela murmurou serenamente:

- Não tens curiosidade pra saber como eles eram? Teu pai e tua irmã?

- Eu já vi o meu pai umas duas vezes lembra? E minha irmã com certeza é idêntica a mim. – Brigith olhou para o rosto delicado da ruiva, usando uma voz séria – Minha família são os Velmont. Você. Não eles.

- A menina dos Kaori quer que você vá pro Canadá. Por algum motivo relacionado a isso.

- Eu acabei de voltar da Espanha. Quero ficar aqui com você por um tempo.

- Não estou lhe forçando a nada, menina. Mas talvez já seja a hora de descobrir alguns fatos...

- Tudo bem... Eu vou só pra viajar um pouco. Faz tempo que não piso na América. Mas não agora, talvez daqui há uns meses.

- Como quiser.

- Quero que você durma aqui comigo.

- Tudo bem criança. Há tempos que não fazemos isso também.

- Claro. Você é tão fria que prefere dormir abraçada à comida do que à mim.

- Mentirosa.

- To brincando minha pippuri sem senso de humor. – Risos.

E assim acabou a noite dela. Ophelia dormiu lá, sem reclamar tanto. Apenas disse que Brigith devia crescer, pois elas não poderiam dormir juntas sempre.
Nos dias seguintes Sadako continuou na mansão, provavelmente ela estava esperando Brigith decidir ir para o Canadá. Porém a morena tinha planos de demorar bastante, mesmo porque queria ganhar a confiança daquela menina de cabelo cor de rosa. Podia ser infantil, mas não era idiota. Pretendia tornar-se amiga da outra, ou começar a ter algum valor sentimental pra ela. Nenhuma obediência é superior àquela obtida por sentimentos.
Josh passou alguns dias chateado com aquela aventura das duas morenas que infernizavam sua vida ali, Brigith e Matilda pareciam se aturar agora. Apesar dos olhares e tons agressivos que usavam uma com a outra. Deviam conseguir ser amigas mesmo somente bêbadas.

Brigith parecia indecisa quanto o que fazer da vida. Por hora, ela queria ficar uns tempos com Ophelia. De férias na sua própria casa, sem viagens. Josh preferiu não pensar nos estudos, sua vida já estava ganha mesmo. E os Velmont dariam a educação que ele ia precisar.
A vida do rapaz tinha se tornado uma daquelas comédias românticas. Brigith e Matilda sempre estavam disputando a atenção dele, a prima de forma mais atirada. O que geralmente irritava a sua amada e a fazia sair de perto com os olhos faiscando de raiva.
Josh tentava correr atrás dela sempre, claro.
O que o chateava com o tempo tinha sido aquele breve beijo da noite de ano novo, Brigith não havia dito nada sobre. Era como se não tivesse acontecido.
“Beijos são só beijos. Nada de especial.”
Era o que ela dizia.
Palavras que se tornaram cruéis pra ele naqueles dias.
Na próxima viagem dela, o garoto iria junto. O que seria maravilhoso. E a reação dele não foi surpresa quando perguntou para Brigith qual era a cidade canadense pra qual eles iriam depois das “férias” da garota.
Não era um lugar especial ou turístico. Não era Quebec, Montreal e muito menos Toronto. Então o que diabos a levaria para aquela cidadezinha desconhecida?

- Pra onde nós vamos mesmo daqui há uns meses? É um nome bizarro, mas sempre esqueço.

- É fácil de se guardar. Sleepy Hill.

“For her, this world always was so small...”

By Jr.

8 comentários:

  1. Pra mim a história só fica boa a partir do próximo capítulo. Digamos que até aqui foi uma introdução. Fora que... Eu fiquei aliviado pelo Blogspot finalmente suportar os textos do Word 2007. Isso me poupa um puta trabalho na hora de postar. -.-"

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  2. Eu amo a Ophelia!!! a serio... estou apaixonada xD

    parece que a história vai ficar ainda mais emocionante ^^

    eu realmente queria uma história interessante para a pequena ruiva... e caso namorasse alguem que esse alguem seja mulher!! por amor de Deus!!!
    xD

    estou ansiosa pelo resto ^^

    bjos Luina

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  3. Luina, você leu o primeiro volume ?

    Jr.

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  4. sim li.

    mas o comentário a cima apenas abrangia o 2 volume.

    Luina

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Nyahh então Bri e Elisha são irmãs? (coisa obvia né depois de ler esse capitulo) Nyahhh é por isso q elas se parecem tanto e eu nem desconfiava *O*, mas só na aparencia né, pq na personalidade, elas duas são muito diferentes.

    Será q elas vão se encontrar? Sinto saudades da Elisha e tbm da Vic *--*


    Machi

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  7. Acabei de ler o quinto capitulo, mas to meio atrasado pelo jeito.
    Introdução o.0 então nesse caso nem posso esperar pela continuação
    So espero que as duas historias meio que se juntem e fique algo mais digamos parecido com o primeiro volume, ate porque eu achei esse segundo volume bem mais cativante. Como não se apaixonar, no bom sentido claro, pelas vingancinhas de ophelia ou pelo locura de Bright ou pelas encrencas que Josh se mete... ja deu pra enterder ne.
    Parabens pelo otimo trabalho, fico aqui sonhando com a continuação...

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  8. Nossa. É a primeira vez que alguém diz que o segundo volume ganhou do primeiro em algo, fico muito feliz por isso. rs
    Espero que continuem acompanhando.

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