quarta-feira, 29 de julho de 2009

Epílogo II - Yuna Kayoshi

Quem sou eu?
Erin ou Yuna? Como eu iria saber ao certo se eu tinha memórias de ambas? As pessoas diriam que é uma experiência e tanto morrer duas vezes, mas não é um bicho de sete cabeças assim. É como dormir e sonhar... Sonhar com coisas que você nunca imaginou, os sonhos são tão imprevisíveis e ao mesmo tempo tão íntimos, tão nossos.
Eu sempre gostei de sonhar, mas um dia a gente acorda. E quando eu acordei foi exatamente nisso que eu pensei: Quem sou eu?
Meu colegas me chamavam de bobinha ou princesinha, diziam que eu era alegre e sorridente, mas chorava muito. Sensível demais.
Kasu me via como um anjo de bondade, a única pessoa importante pra ele. Uma garota carinhosa, acolhedora e compreensiva.
Vic falava que eu era a boneca preferida dela, que adorava meu olhar “tolinho” e que eu tinha um corpo excitante. Acho que tímida também, porque só de lembrar das coisas que ela fazia eu fico sem graça e com vontade de rir.
E você... Você me achava chata e inconveniente, preferia ficar sozinha.
Você disse que eu era igual a única pessoa que você amou.
Nunca entendi o que eu sinto por você, só lembro que aquele calor estranho no peito aparecia só quando você estava perto. Só com você...
Sempre forte, suportando tudo sozinha. Nunca se rendeu para o que achava errado. Acho que foi isso que eu vi. Sempre solitária, mas nunca desistiu. Mesmo que inconsciente disso, você tinha esperança de que um dia tudo ia mudar. Que nós tínhamos poder pra mudar esse mundo injusto.
“Pare de me fantasiar de heroína.”
Aposto que seria isso que você diria agora. rs
Pra mim é isso que você sempre foi, a minha heroína, meu exemplo. Coisa besta de se dizer né?
A vida passou como um flashback... Luise, Vic, a festa, Anita, as viagens, a chuva, o beijo. Sim, comecei a imaginar isso lá pela oitava série. E sempre ficava constrangida quando imaginava isso relacionado a você. Aileen foi a primeira a descobrir, pedi pra ela guardar segredo, mas eu mesma acabei contando pra minha mãe e sem querer pra Vic. Sabe por que eu fui para aquele apartamento no Blue Sky escondida de todo mundo? Por que eu recebi um convite com seu nome e fui idiota pra cair nessa. Você não era pervertida pra fazer um convite desses. Só que eu estava tão desesperada pra estar com você...
Foi um amor platônico, eu sei, nunca achei que eu tivesse alguma chance. Mesmo porque era difícil saber se você gostava de meninas, porém eu pude acreditar que daria certo algumas vezes.
Você era a única que não ria quando caçoavam de mim na escola, foi a única que socou alguém por minha causa, mesmo não admitindo.
Meu primeiro encontro com Kasu foi rápido, eu me lembrava dele da escola. Disse que estava morando sozinho naquele lugar e mantia uma amizade escondida com você, falou que você gostava de mim e que ele ia ajudar. Eu ainda facilitei, me sujei com o refrigerante que ele me serviu e acabei aceitando a proposta de tomar banho pra te esperar. Eu nunca consegui duvidar das boas intenções de ninguém, a partir dali eu não me lembro de mais nada.
Só fui acordar depois de um tempo, sem lembrança alguma. Esqueci tudo. O vazio no meu coração era tão grande que eu até esqueci como as coisas funcionavam. Kasu esteve comigo desde então, me ensinou tudo de novo. Parecia tão feliz por trás daquela expressão fria, eu sentia isso e ficava feliz junto com ele. Lembrei de algumas coisas, eu era a gêmea daquele menino que era tão cuidadoso e gentil comigo.
Até que como se fosse um sonho eu me lembrei de três pessoas e contei pra ele, essas pessoas eram Luise, Victoria e é claro, você.
Depois disso Kasu mudou, não era mais a mesma pessoa. Tinha algo que me dava muito medo nos olhos dele. Não quero falar das semanas seguintes. Meus sentimentos só despertaram no dia em que Kasuya disse ter matado você e que ia matar Vic. Me senti como se estivesse enterrada viva e finalmente ter cavado ate superfície.
Quando você chegou, eu pedi pra você ir embora porque sabia que ele ia te fazer mal, então Victoria apareceu e começou a atirar nele. Atirou contra mim também, mas eu não a culpo. Não sabia quem eu era e no fim o Kasu se colocou na minha frente... Eu agradeço aos deuses que ela tenha voltado a si, pois ele me protegeu com a própria vida, como um verdadeiro irmão.
Quando acordei já não lembrava de mais nada de novo, até que vi você ali. Parecia estar chorando, como quando pequena... Uma garotinha suportando sozinha toda dor que o mundo coloca nas nossas costas. Eu quis mais uma vez ser forte por você, ser seu santuário, te ver sorrir. Me lembrei de você, somente você.
O resto não importava mais, tudo que eu mais queria era estar perto de você.
Quem diria que nós acabamos nos mudando pra casa da Emily?
Isso foi tão bom. Sei que era chato eu ficar grudada em tudo que você fazia, peço desculpas, mas eu não me lembrava... E isso foi o que eu sempre desejei.
Foi ótimo passear naquele shopping, nunca me diverti tanto, juro!
Nós compramos tanta coisa e você me mostrou tanta roupa legal, foi lá que eu revi minha mãe. Nós soubemos imediatamente quem éramos não é engraçado?
Ela é uma mulher maravilhosa... Não consigo pensar em outro conceito de mãe perfeita. Eu tive sorte, queria ser metade da mulher que ela é.

E quando você me levou pra escola pela primeira vez!
Foi tão engraçado, você parecia tão frustrada quando seus colegas falavam bem de você. Ainda não entendi o motivo. Quando estávamos tomando vento no terraço eu senti que era tão familiar... Como se já tivéssemos feito isso antes.
Fica embaraçoso agora lembrar das suas roupas debaixo que o vento me mostrou. Desculpa, eu não tive a intenção de olhar mesmo.
Quando você saiu e disse pra mim voltar pra classe, eu desobedeci. Te segui, sorte que você não notou, queria saber o que você ia fazer. Até que aquela menina loira apareceu e vocês brigaram por minha culpa. Duvidei de você por uns segundos e você ficou brava... Daí eu me lembrei de mais coisas, de Victoria mais exatamente. Dos olhos que ela tinha quando agia igual aquela mãe dela. Eu tive medo... Muito medo.
Não de você, mas de perder você por causa disso.
Corri pro banheiro e chorei até ser encontrada, tentei entender por que eu me sentia assim. Consegui entender o que era. E aceitei meus sentimentos.
Fomos embora juntas e eu esperei você voltar do emprego pendurada na janela, queria contar o que eu sentia, precisava contar. Acho que a minha inocência cancelava minha timidez naquela hora, parecia tão fácil.
Porem quando você voltou, estava com aquele menino da escola. Meu coração apertou na hora, desisti de falar... Vocês pareciam se dar tão bem e ele ser uma pessoa tão legal. Achei que você iria ficar mais feliz ao lado dele... Que chance uma boneca sem vida como eu tinha? Consegui disfarçar bem... Até causei mais situações constrangedoras. Acho que eu sou boa nisso né? Estragar tudo e te fazer passar por maus bocados.
Burra... Cega... Desinteressante...
Mas ainda assim eu... Bem, ainda não é a hora de dizer.

No dia do baile eu me diverti bastante com o Ryo-kun, ele se comportou tá? Não fique brava com ele!
Eu prendi o cabelo, lembrei que eu fazia isso antes porque Vic me disse que ficava mais bonita assim. Fico feliz por você ter notado.
Não consegui tirar os olhos de você naquela dança, senti ciúmes de você com o Jin e não é que o Ryo notou? A gente conversou um pouco sobre, e acho que ele entendeu. Disse que assim que o Jin abrisse uma brecha ele ia “me jogar nos seus braços”. É engraçado demais lembrar como eu ri disso. Ryo é mesmo uma boa pessoa.
Haruna foi perfeita quando inventou aquela de “troca de par”, mas eu estava muito longe e aquela baixinha chegou na frente. Quase enfartei com a cena que aconteceu, serio. Ela era bem mais bonita que eu e você ficou tão vermelha que até uma tonta como eu percebeu que você sentia algo por ela, mesmo que fosse alguma atração.
Fiquei feliz!
Uma barreira já não existia mais né?
Você disse que ia beber algo e saiu cambaleando de perto dela, isso me acalmou.
Os discursos foram lindos... Principalmente o da Emi-sensei. Você era a tal “pessoa importante” pra mim, achei mais uma vez que eu devia me declarar de uma vez. Emily passou correndo por mim, estava toda feliz dizendo “Finalmente!”, eu sorri pra ela. Tinha ido encontrar as filhas perdidas. Ela deu seu celular pra mim e falou pra te entregar porque você esqueceu com ela.
Procurei por você um tempão, estava tudo acabando tão feliz que eu me decidi tentar também. Eu ia falar o que sentia por você. Até ignorei quando seu celular apitou, dizendo que tinha mensagem.
Jin te achou primeiro.
Eu vi o beijo de vocês. Aquilo acabou comigo.
As coisas são estranhas, não são?
Eu consegui engolir o choro e disfarçar de novo, só porque achei que você seria mais feliz com ele de novo. E se você estava feliz, por que eu deveria levar meus sentimentos em conta...

“Elisha, houve um pequeno imprevisto com a sua professora aqui. Nada urgente aproveite a noite e me retorne a ligação assim que der.”

Eu retornei a ligação e transformei a mensagem numa coisa urgente, só pra parar aquele beijo rápido. Pra fazer meu coração parar de doer um pouquinho...
Me desculpa por isso também.

No hospital as coisas foram rápidas, eu te contei o que houve depois. Descobri quem eu era naquela hora com Emily, espero que ela tenha melhorado. Eu não fiquei lá pra ver.
Kasu me achou lá, disse que nós tínhamos que acertar o que faltava. Eu fui com ele sem hesitar, já que ele me prometeu que você ia ficar bem.
Sim, eu decidi sair da sua vida. Nem me perguntei pra onde Kasu me levou ou o que ele queria fazer, mas era meu irmão. E você...
Você já não precisava mais de mim.
O Jin estava do seu lado agora, não estava mais sozinha.

Kasu me explicou o que ele fez depois. O porquê de ele ter feito isso. Acho que queria se desculpar, e nem precisava. Ele amava a irmã dele, entendo isso. Eu prometi tentar ser uma irmã tão boa quanto Erin foi e ele riu daquele jeito dele. “Heh..”
Antes de eu perguntar por que, vocês duas apareceram.
As coisas se revelaram e é por isso que eu mais peço perdão. Eu também amava vocês três, não podia deixar acabar assim.
As vezes as pessoas fortes esquecem o significado de muitas coisas.
E só nós, as pessoas fracas podemos fazer elas se lembrarem do que é mais importante, do motivo pelo qual elas lutam...
Eu estava feliz sabia?
Você veio me procurar... Mesmo que você ainda não tivesse dado um sorriso pra mim, não tinha importância. Porque eu vi que você me considerava importante, que no fundo do seu coração, você me amava também.
Me perdoa por ter sido assim tá?
Dessa vez eu fui em paz, por sua causa.
Por você... Foi só por isso que eu fui capaz de sorrir até nessa hora.
Obrigada.

Eu ouvi Vic falar comigo antes de adormecer de novo...
Nunca duvidei que ela tivesse algo bom escondido na alma, ela sempre foi meu anjo da guarda. Ver ela ali deitada do meu lado dormindo como uma criança me fez achar que eu estava no paraíso. Flores, pássaros cantando, aquele sol morninho nos esquentando. Eu me senti em casa naquele lugar.
Minha mãe apareceu me viu sentada ali e fez como todos os dias de manhã, me recebeu com um sorriso. Fez um gesto para pedir silencio, Vic estava cansada, mamãe queria que ela dormisse um pouquinho.
Me levantei e saí de lá, meu corpo doía por inteiro e se movia mal, foi como ter saído de um coma. Mas melhorou quando minha mãe me abraçou e me serviu um daqueles chás que eu adoro, nós conversamos tanto... Nem notei as horas passando.
E quando dei uma olhada pro lado, lá estava Victoria, com a cara toda amassada me encarando. Tinha dormido bastante e parecia irada comigo e com mamãe.
Bem, eu sei quando correr.
Não adiantou muito porque ela me derrubou na grama, eu ri tanto da cara dela. Parecíamos crianças de novo, só que ela... Hm... É melhor não falar, você sabe como Vic é descarada, fez essas coisas na frente da minha mãe.
Ela tem que crescer viu... Hunf.
Mas eu confesso que senti muita falta dela.
Depois ela e minha mãe conversaram algo sobre sair da cidade e que ela se encontraria comigo depois dessa viagem. Passamos o resto do dia juntas e Vic até me fez uma pergunta estranha, entre você e ela, com quem eu me casaria se tivesse que escolher. Foi constrangedor, sabe... Ahn.. Duas meninas não se casam né?
Imagino você vestida de noiva, acho que vou apanhar por isso quando a gente se encontrar por aí... Mas ia ficar bizarro!
Quando eu não soube o que dizer Vic sorriu e falou pra deixar pra lá.
No meio da noite aquela doidinha invadiu meu quarto e nós dormimos juntas, como quando éramos pequenas. Não é isso que você está pensando!
D-O-R-M-I-M-O-S! E só!

Na manhã seguinte minha mãe me chamou bem cedo, Vic não estava mais lá. Chorei como uma criancinha, é esquisito quando você acorda e pensa que tudo isso foi só um sonho bom. Mamãe sabe como me animar nessas horas.
Peguei um vôo sozinha pela primeira vez nesse dia, bem, alguns empregados da minha família estavam junto, mas eles tem uma cara tão assustadora que eu nem consigo conversar com eles. Não me respondem quando eu tento também, são profissionais.
É tão sem graça viajar assim.
Mas sabe quem eu encontrei lá? Era o Kasu. Ele me fez lembrar de você de novo.
Estranhou quando me viu como eu era antes. Cabelos castanhos, olhos azuis... Os empregados avançaram contra ele, mas eu não deixei não.
Remarquei o vôo pra três horas mais tarde e fiquei com ele na lanchonete do aeroporto. Me senti estranha agindo com autoridade.
Eu precisava fazer isso, afinal, ele sempre foi tão bondoso e gentil comigo.
Quis retribuir, sei que não sou 100% irmã dele, porem ainda tenho algumas lembranças dela. Então eu disse que ele sempre ia ser meu irmão mais velho, mesmo eu sendo Yuna e acredita que ele ficou sem graça? Juro!
Fiz ele admitir que foi lá me ver, nem notei as horas de novo. Kasu me disse que as coisas iam se complicar pra ele, porque iria lutar sozinho contra algo que movia as cordas de muitos países por ai. Me prometeu que ia ficar bem e quando pudesse me achava pra dar um oi. Quando abracei ele pra me despedir, me olhou torto e riu da minha cara. Fiquei super sem graça.
Tá, ele não riu, mas quase riu.
Quer saber uma coisa estranha? Eu vi Erin lá.
E ela me disse uma coisa.
“Obrigada.”

A viagem foi chata e demorada, dormi e só acordei quando o segurança me chamou. Fui levada pra uma casa de campo igual a minha casa no Canadá mesmo, só que o clima era mais quente. Mamãe estava me esperando, disse que aquele era outro país, mas eu não liguei. Nem quis saber.
Durante o vôo eu sonhei com você, sabia?
Eu não sei você, mas eu nunca desisti dos meus sonhos.
E nunca vou desistir.
Nunca vou desistir de você.

Ps: Sorria boba! Ainda quero ver.
Ah, quase me esqueci. Eu acho que te amo, sabia?

Kayoshi Yuna – End

3 comentários:

  1. É... Esse um foi bem EMOcionante. Yuna é bem mais boba pela Elisha do que eu pensei, e as pessoas falam que a morena não gosta da mesma forma da guria.
    Bem, talvez sim, talvez não. Só acho que Elisha ainda é muito reprimida com o que sente, totalmente o contrario da Yuna. ^^

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  2. P-E-R-F-E-I-T-O!!!! *-*

    AMEI... Lindo, lindo, lindo MESMO...
    Até chorei aqui. [fato]. Yuna é incrível, sou boba e penso que nem ela só que menos corajosa². :/

    Apesar de ter achado que a Victoria morreu [pena!], well, mesmo a Yuna falando tão bem dela, bom, não mudei nenhum dos meus pensamentos sobre ela, fez palhaçada e usou a Elisha, e só confirmou o egoísmo e obsessão exagerada pela Yuna ao perguntar com quem ela casaria. Bah!!! Só pensa nela. Peguei raiva dela mesmo. '-'

    Kasuya não morreu. WEEEE!!!!!!! *----*
    Então estava certa, Elisha também não (?)

    Perfeito mesmo, amei.
    Eu devia ter lido os epílogos antes, agora fiquei parecendo uma louca idiota com aqueles comentários nos capítulos. Pffff!!!! -_-'

    D.

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